Entrevistas

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 22/07/2013 - 14:14

    A Editora FGV lança o livro 'A reforma esquecida: orçamento, gestão pública e desenvolvimento' e traz à tona algumas questões sobre a 'reforma orçamentária':

     

     

     

     

    “Por que a noção da importância do orçamento e, portanto, o interesse por ele parece ter se perdido?”; “Quais as consequências do conformismo com essa situação?"

    Essas e outras questões são abordadas neste livro, que também avança em sugestões para o debate sobre o aperfeiçoamento do processo orçamentário brasileiro, tendo em conta a realidade nacional e as experiências de reforma realizadas em outros países. Nele, o leitor encontrará vários elementos para refletir sobre o esquecimento a que foi relegada a reforma orçamentária e contribuir para que ela seja lembrada.

    Fizemos 3 perguntas aos autores Fernando Rezende e Armando Cunha, levantando outras questões.

    Confira essa entrevista exclusiva:

     

    1. Por que a reforma orçamentária se arrasta por tantos anos sem uma solução satisfatória?

    O título do livro – A Reforma Esquecida – é uma primeira pista para responder a essa pergunta. Na verdade, não há uma reforma orçamentária ‘que se arrasta por tantos anos’. O grande desafio inicial associado com a reforma orçamentária é, exatamente, o de se alcançar um grau mínimo de mobilização social e política sobre a necessidade de mudança no processo orçamentário no setor público brasileiro.

    A necessidade da reforma vem aumentando e se tornando mais urgente em função das transformações econômicas, políticas e sociais na sociedade brasileira nesses últimos 30 anos. O Orçamento Público, como principal mecanismo da ação governamental, reflete o ordenamento jurídico, as relações de poder na república e na federação, o conteúdo das escolhas que anualmente ocorrem  para utilizar os recursos extraídos da sociedade e  a forma por meio da qual essas escolhas são feitas. No âmbito das organizações governamentais, consideradas em seus diferentes níveis de autonomia administrativa e financeira, o orçamento constitui-se em poderoso instrumento de gestão.

    Sob essa ótica multifacetada, não é surpresa que o Orçamento Público influencie e seja influenciado pela conjunção das dimensões econômica, política, legal, institucional e organizacional da ação governamental, o que se observa mais complexo ainda no ambiente de transformações profundas e aceleradas no contexto brasileiro. A complexidade refere-se à necessidade de promover mudanças nessa área que permitam conciliar a sustentação da disciplina fiscal, o atendimento das demandas sociais e a manutenção da governabilidade democrática num quadro de acentuada fragmentação partidária. Como garantir que a dinâmica orçamentária tenha as qualidades ou atributos socialmente desejáveis para contribuir com esse processo de transformações e a sustentação do desenvolvimento econômico e social nos anos a frente? A resposta a essa questão deverá definir o sentido das reformas necessárias.

     

    2. Como é possível pensar uma reforma orçamentária considerando que a quase totalidade dos recursos já está previamente comprometida com o atendimento de direitos constitucionais e outras normas legais?

    É preciso enfrentar essa questão e o ponto de partida consiste na promoção de um amplo diálogo nacional que explore esses aspectos e explicite as consequências da manutenção dessa situação, especialmente do ponto de vista da sustentação do modelo de crescimento econômico com inclusão social que tem sido motivo de orgulho dos brasileiros e objeto de reconhecimento internacional.

    As agendas para discutir as reformas necessárias seguramente incluirão um dos maiores problemas macroeconômicos na atualidade brasileira: o alto grau de  rigidez do orçamento público no país, isto é, a reduzida margem de manobra para proceder às escolhas orçamentárias  em face de decisões e compromissos anteriores  que pré-definem a utilização  dos recursos arrecadados anualmente. Tal discussão implica, dentre outras coisas, em considerar que o atendimento de necessidades prioritárias da sociedade, como saúde e educação, por exemplo, não depende  somente de se ampliar o volume de recursos de emprego obrigatório nessas áreas mas, também, depende de se melhorar, dramaticamente, a qualidade das políticas públicas, a capacidade de gestão para a sua implementação e provisão dos serviços públicos, e os esforços para avaliar os resultados – impactos na sociedade -  obtidos a partir dos ‘produtos’ entregues à população.

    O enfrentamento dessa questão tem como ponto de partida a promoção de um amplo diálogo nacional que explore esses aspectos e explicite as consequências da manutenção dessa situação, especialmente do ponto de vista da sustentação do modelo de crescimento econômico com inclusão social que tem sido motivo de orgulho dos brasileiros e objeto de reconhecimento internacional.

     

    3. Até que ponto a mobilização social, vista nas recentes manifestações que ocorreram em todo o Brasil, pode influir na elaboração de uma reforma orçamentária?

    A mobilização social recentemente observada no país pode ser vista como uma forma de avaliação de resultados, feita diretamente pela sociedade, sobre a implementação das políticas e provisão dos serviços públicos. Quando a administração pública falha em atender às demandas mais prementes da sociedade o sistema político é posto em causa. Como tem ficado muito claro nessas manifestações recentes, grande parte das reivindicações estão relacionadas não somente à baixa qualidade dos serviços públicos  que recebe em contrapartida aos pesados impostos que são cobrados pelos governos,  como também à forma por meio da qual as decisões são tomadas e implementadas, fazendo emergir fortemente a dimensão ética da governança e utilização dos recursos públicos. Essa é uma oportunidade que não pode ser perdida. A reforma orçamentária é indispensável para dar uma resposta adequada a essa questão.

     

    Com apresentação do presidente da Fundação Getulio Vargas, Carlos Ivan Simonsen Leal, 'A reforma esquecida' compõe um "primeiro diagnóstico da situação e aponta para os caminhos a serem percorridos com vistas à modernização do processo orçamentário brasileiro".

     

    A reforma esquecida: orçamento, gestão pública e desenvolvimento

    Editora FGV

    R$59 - impresso

    R$42 - eBook

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 01/07/2013 - 13:12

    Nos últimos anos, o Brasil compartilhou o boom das redes sociais, dos sites de compras coletivas e de crowdfunding, todos eles com o intuito de reunir pessoas com interesses em comum, mas sempre visando, de alguma forma, lucro para seus idealizadores.

    Diante desse cenário e na contra mão do benefício pessoal do empreendedor, surgiu um blog, que em seguida viraria uma rede social, com fins exclusivamente sociais: o Social de verdade.

     

     

    Encontramos Joceir Ribeiro Ramos, o idealizador do projeto, principal redator do Blog Social de Verdade e controlador de sua rede social, e fizemos 3 perguntas. Confira:

     

     

    1.       De onde surgiu a ideia de criar um blog sobre responsabilidade social e como ele evolui para uma rede social de doações sem fins lucrativos?

    Na verdade, a ideia inicial sempre foi a rede social, porém para desenvolvê-la havia uma série de dificuldades relacionadas à TI, a formatação, layout, etc. Então, surgiu a ideia de, enquanto isto, criar um blog sobre responsabilidade social e ir fomentando a divulgação de que uma rede Social de Verdade seria lançada em breve, e  assim funcionou. Como o blog funcionou bem, resolvemos deixa-lo no ar e, no futuro, ele será usado para ajudar as ONGs com informações relacionados ao terceiro setor e para publicar textos relacionados com o tema. Temos a esperança da rede Social de Verdade alcançar seu objetivo e pretendemos convidar jornalistas para escreverem para o blog, mas isto é futuro e nosso sonho.

    2.       No texto de apresentação do Social de Verdade, você escreve que o objetivo dessa rede ‘é alcançar a todos os brasileiros que estejam precisando de ajuda’, ‘sem nenhuma forma de interferência e da maneira mais transparente possível’ sobre as doações. De que forma isso é feito?

    Vamos por partes. Sem interferência significa que o doador escolherá as instituições cujos projetos e trabalhos tenham consonância com seus propósitos e doará através do sistema de pagamento PagSeguro, do grupo Folha. O dinheiro sai da conta do doador através de cartão de crédito, cartão de débito, débito online ou boleto bancário e vai direto para a conta da instituição escolhida, sem interferência ou intermediários. O Social de Verdade não recebe nenhum valor a título de comissão, corretagem ou qualquer outro tipo. Nenhum recurso passa por qualquer tipo de conta do Social de Verdade.

    A questão da transparência, acreditamos que será construída, pois as instituições, após receberem doações, devem postar textos, fotos, vídeos ou qualquer outra forma para mostrar aos doadores os projetos que desenvolvem. Desta forma, como o doador segue aquela instituição, tudo que ela postar ele – doador - poderá ver e acompanhar, inclusive fiscalizar. Entendemos que as instituições vão querer ser transparentes, pois somente assim elas vão conquistar mais amigos, que serão doadores e voluntários em potencial.

    Um ponto importante, os botões de doação e seja voluntário só são liberados para a instituição quando ela completar todo o cadastro com informações necessárias, como CNPJ, endereço, etc, e quando fizer o cadastro no Pagseguro. Se não completar o cadastro, a instituição pode postar o que quiser e será visualizada, mas não terá como receber doações. E se a instituição não postar nada em até 90 dias, os botões de ‘doação’ e ‘seja voluntário’ são desabilitados.

    3.         O que os interessados em ajudar e em receber ajuda precisam fazer para participarem da rede Social de Verdade?

    Basta se cadastrar. Se for pessoa física ou jurídica que deseja ajudar, cadastrar-se como doador. Se for instituição que precisa de ajuda, cadastrar-se como instituição. Após isto, funciona como uma rede normal, basta procurar pessoas e instituições, fazer amizades, convidar outras pessoas. E, claro, doar e ser voluntário e as instituições postarem e serem transparentes com o uso do dinheiro recebido.

    Seu idealizador ainda comenta que “A rede Social de Verdade ainda está como beta, o que significa que todas suas ferramentas estão aptas e funcionando, mas estamos aprimorando e ajustando diariamente a parte de TI. A rede, às vezes, fica um pouco lenta quando você compartilha alguma foto ou vídeo, mas o principal, que é doação, está funcionando perfeitamente, claro que para as instituições que completaram seu cadastro. O trabalho de melhoria de TI é constante e ininterrupto”.

    Nós, da FGV Editora, admiramos iniciativas dessa natureza e, através do  providenciamos a doação de exemplares do livro ‘Manual de ONGs’ para serem entregues a algumas das instituições já cadastradas na rede Social de Verdade.

     

    Para saber mais sobre ela, acesse:

    http://www.socialdeverdade.com.br/

    http://www.sidneyrezende.com/noticia/208377

    http://www.pautasocial.com.br/pauta.asp?idPauta=43282

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas, Opinião em 21/06/2013 - 12:38

    Mais de 1,25 milhão de pessoas nas ruas, pelo menos cem cidades em protesto, milhões de pessoas falando de um só assunto nas redes sociais, um jovem morto em SP, cerca de 50 feridos no Rio, vários confrontos incitados por uma minoria.

    Esses são alguns números da maior onda de manifestações que cruzaram o Brasil na noite de ontem, desde o início dos protestos.

    Foto sem crédito - internet.

     

    O leque de reivindicações aumentou e a sociedade desligou a TV para ir às ruas contra o aumento das passagens de ônibus, gastos com a Copa, PEC 37, “cura gay”. Sob essa grande pressão, governos estaduais e municipais cederam, diminuindo os valores das passagens, e a votação da PEC 37 foi adiada - em ambos os casos, aparentemente para acalmar os ânimos.

    Sem bandeiras políticas, de forma ordenada e pacífica (pela maioria dos participantes), o Brasil virou notícia no mundo e o movimento ganhou a simpatia de diversos países e dos próprios brasileiros, há muito desacreditados sobre possibilidades de mudanças.

    Encontramos o cientista político, jornalista e assessor de direitos humanos da Anistia Internacional Brasil, Maurício Santoro, que, direto da Turquia, comentou essas ações especialmente para nosso Blog.

    Mesmo de longe, num momento tão importante em nosso país, Maurício consegue esclarecer e analisar pontos importantes dessas manifestações, inclusive traçando paralelos com a Turquia.

    Confira:

    Brasil e Turquia criticam líderes eleitos democraticamente, que têm grande apoio popular, apesar de não viverem crises econômicas. O medo do peso crescente da religião para o Estado laico e a preocupação em como grandes obras e eventos prejudicam a qualidade de vida em cidades como Rio de Janeiro e Istambul são coincidentes em ambos os casos.

    Sobre as manifestações do Brasil, o aumento nas passagens foi apenas o estopim. Os protestos, que no início se concentraram nas péssimas condições do transporte público brasileiro, também tiveram foco sobre as reações à fortíssima violência policial, a pior já vista na democracia, que atingiu não só os manifestantes como os jornalistas.

    A violência policial foi brutal. Essas agressões são comuns no trato da polícia contra os pobres, mas raras em suas relações com a classe média, que tem muito poder político, e o usou para pressionar as autoridades.

    Os movimentos ainda passaram a defender a liberdade de expressão e de associação e o direito de criticar o governo, além do ataque à falta de representatividade do sistema político, aos escândalos de corrupção e ao modo como se conduz a preparação da Copa e das Olimpíadas.

    Essas são as maiores manifestações no Brasil em 20 anos, com protestos que acontecem fora de uma situação de crise econômica. Esta crise é, na essência, política: o choque entre as expectativas mais elevadas de uma nova geração - a primeira nascida e criada na democracia, em um ambiente de mais prosperidade - e um sistema político que não consegue atender a essas demandas.

    Além disso, o uso inovador e criativo das redes sociais para divulgar denúncias, desmentir o governo e organizar protestos foram de extrema importância na articulação dos movimentos.

    A política de mobilização social se tornou global e bem mais rápida. As novas tecnologias de informação difundem ideias, táticas e métodos de organização de modo quase instantâneo.

    Ainda não está claro se as manifestações terão ou não um novo foco - isso será visível a partir dos próximos dias, diante das reações à diminuição da tarifa em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas é possível imaginar protestos semelhantes pela má qualidade da saúde pública, por exemplo.

    Mauricio Santoro é autor do livro ‘Ditaduras contemporâneas’, da Coleção FGV de Bolso – Série Entenda o mundo, lançado recentemente pela Editora FGV.

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 12/06/2013 - 11:49

    No início desse mês, a empresa Gauge. liberou os resultados da pesquisa Faces do Facebook.

    Após entrevistas e análises sobre o comportamento dos usuários brasileiros do Facebook, o estudo revelou que muitas marcas ainda não sabem como atuar nessa rede de forma a manter um relacionamento adequado com seu público.

    Encontramos o diretor executivo da Gauge., Dante Calligaris, e fizemos 3 perguntas relacionadas ao Facebook.          Confira as respostas e, em seguida, o link para os resultados da pesquisa.

     

    Todas as marcas precisam estar no Facebook?

    [gauge] As marcas já estão no Facebook, querendo ou não. Podem estar com presença consciente, onde a marca publica conteúdos e responde aos seus consumidores, ou presença orgânica, onde os usuários já falam sobre a marca em redes sociais, fóruns, sites, sem qualquer controle da marca.

    Manter uma boa atuação nessa rede de relacionamento é garantia de bons resultados financeiros para as marcas?

    [gauge] Temos ótimas experiências na Gauge. Para garantir bons resultados para a marca - e consequentemente financeiros, já que isso pode potencializar vendas - descobrimos e sabemos que as marcas devem trabalhar o conteúdo e a interação com os consumidores com a sua personalidade, com o seu jeito de falar e ser. Não deve ser outra.

    Posts pagos X Posts simples. É possível confiar na divulgação dos conteúdos não pagos após a criação da promoção paga?

    [gauge] Uma integração dos 2. Claro que o conteúdo tem que ter a personalidade da marca. E, a mídia tem que atingir os consumidores da marca, que irão interagir com um propósito.

     

    Acesse aqui os resultados da pesquisa Faces do Facebook.

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 28/05/2013 - 12:47

     

    A Editora FGV lança mais um livro da Coleção FGV de Bolso e retoma as discussões sobre sustentabilidade e conservação do meio ambiente.

    ‘Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade’ procura mapear os principais desafios envolvidos na complexa relação entre as palavras-chave apresentadas neste título, tão comentadas nos dias de hoje.

    Helena Araújo Costa conduz o leitor a sobrevoos e mergulhos conceituais procurando tornar mais claros os grandes desafios do turismo no século XXI.

     

    Fizemos 3 perguntas à autora. Confira:

     

     

    Como o conceito de sustentabilidade, amplamente divulgado nos dias de hoje, vem sendo encarado pelo setor de turismo?

    No turismo, como em tantos outros setores, sustentabilidade é a palavra do momento. É amplamente utilizada em discursos públicos, privados, na mídia e na academia.

    Do ponto de vista do mercado, é encarado por algumas empresas como um fator estratégico ou como uma resposta às pressões externas (concorrentes, legislação, etc). Para outras, adotar ações ligadas à sustentabilidade é parte dos valores, do um estilo de vida dos proprietários. Quanto à perspectiva dos turistas, não há consenso como o assunto é percebido - se dão valor ou não, até que ponto valorizam tais iniciativas, e se são um pequeno grupo a ter sensibilidade à mitigação de danos e à maximização de ganhos a partir da atividade turística.

    Do ponto de vista das organizações públicas, a questão da sustentabilidade tem recebido muita ênfase. Quase todos os planos de desenvolvimento se dizem voltados para a sustentabilidade dos destinos turísticos. No entanto, ainda há uma compreensão restrita sobre o que é sustentabilidade e seus reais desafios. Especialmente de como implementar ações em seu favor e como monitorá-las.

    Na academia vemos grandes esforços de compreensão da multiciplicidade de assuntos que rondam a combinação entre turismo e sustentabilidade. E o livro busca mostrar isso nos sobrevoos e mergulhos conceituais propostos.

    É preciso esclarecer, no entanto, que a ampla divulgação do termo “sustentabilidade” é interessante porque coloca novas preocupações na pauta. Porém, o modismo também cobra seu preço. Por ser muito utilizada, até demasiada e inapropriadamente, o conceito acaba recebendo um certo descrédito por parte de quem o ouve. Uma dissertação de mestrado, excelente, defendida há pouco na UnB mostra essa adoção desmedida do termo na indústria e nas políticas públicas de turismo. Fica evidente que apenas adotar o termo na comunicação não muda a realidade. E isso causa uma extrema inquietação naqueles que querem ver ações concretas implementadas. Já sabemos que não deve ser apenas uma palavra usada em um plano estratégico público ou privado, ou em uma propaganda. E que vai muito além das pequenas alterações cosméticas em questões ambientais. Para isso, já existe até um termo pejorativo em inglês: o “greenwashing” ou “banho de loja verde”.

    Na orelha do seu livro, temos acesso à questão sobre os problemas que cercam a condução dos destinos turísticos por um percurso mais sustentável. Quais seriam esses principais pontos problemáticos?

    Existe dificuldade de implementar um conjunto coerente de medidas que deem conta das várias dimensões da sustentabilidade. Ou seja, falta visão sistêmica dos impactos na tomada de decisões e de seus impactos. É comum encontrarmos uma grande perda ambiental em nome de um ganho econômico e assim por diante.

    Além disso, a implementação de ações voltadas para a sustentabilidade em destinos turísticos é dificultada porque não existe uma comunidade homogênea, cheia de consensos. Isso é uma abstração. O que existe na realidade é um conjunto de grupos variados com interesses múltiplos e controversos. Enquanto um grupo quer preservar, outro quer utilizar as dunas, a praia, a cidade de modo despreocupado com limites socioambientais. Também é complicado desatar o nó do pensamento a curto prazo, especialmente quando se trata de sobrevivência de negócios (do ponto de vista das empresas) ou de reeleições (do ponto de vista político-partidário).

    Não está claro até que ponto estamos dispostos a abrir mão de um modelo atual de consumo e crescimento em nome de uma condição futura. Também temos muitos conflitos pelos usos de recursos – entre comunidades e turistas – que carecem de resolução. Da combinação destes dois pontos, cabe até falar da questão do decrescimento, que é altamente polêmica. Atualmente, já há destinos muito sobrecarregados – como Veneza e ilhas no Mediterrâneo - que estão implementando ações neste sentido, de reduzir a presença e o crescimento do turismo em suas cidades.

    Também não equacionamos ainda a questão do turismo de baixa escala e seu preço, versus um turismo de larga escala e barato, evidenciando uma elitização da lógica da sustentabilidade no turismo. O mais adequado seria pensar na aplicação de princípios da sustentabilidade em todos os tipos de turismo e de destinos, observando as conjunturas locais como relativizou Hunter. E lembrar que falar em um “hotel sustentável” ou um “destino sustentável” é uma simplificação, muitas vezes ilusória, pois o processo é dinâmico e contínuo. O que é possível e mensurável é saber em que medida estão sendo mais responsáveis na condução de empreendimento e destinos em favor do percurso da sustentabilidade.

    É possível identificar a atuação e o desempenho do Brasil no rumo de um turismo mais sustentável?

    É possível identificar uma série de projetos de desenvolvimento ligados a turismo executados por ONGs, governos, universidades, cooperativas e empresas. No entanto, as iniciativas tendem a ser ainda um pouco isoladas, sem coordenação entre si, de curto prazo, com lacunas de comercialização e com um monitoramento de resultados pouco robusto. Isso deixa obscuros quais os avanços que temos alcançado.

    No contexto empresarial, é crescente a noção da importância de certificações. Neste campo existem avanços, embora seja pequena a adesão atual por parte das empresas. Quando olhamos as premiações internacionais voltadas para práticas ligadas à sustentabilidade no turismo como um todo, o Brasil ainda tem um papel bastante tímido.

    Há, claro, alguns exemplos dos quais podemos ter esperanças. Um avanço é termos observatórios da sustentabilidade em alguns destinos turísticos brasileiros, como uma ação conjunta entre universidades, governos e empresas. Outra ação, ainda no início, é um projeto da ONG IPE no Baixo Rio Negro, chamada Eco-polos de desenvolvimento na Amazônia. Vários dos princípios da sustentabilidade têm sido observados – participação, noção de longo prazo, interação entre atividades econômicas, valorização cultural, protagonismo local, viabilidade econômica. E isso pode nos levar a ter boas expectativas em novos projetos.

     

    Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade

    Coleção FGV de Bolso - Série Turismo

    168p

    R$20

    Quer saber mais sobre o tema?

    Gringo na laje: produção, circulação e consumo da favela turística; Gestão integral de destinos turísticos sustentáveis; Economia ambiental

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 20/05/2013 - 12:07

     

    O novo livro do professor Ronald Raminelli trata da conquista da América pelos espanhóis e procura desvendar as complexas redes que envolviam conquistadores, nativos e a Coroa espanhola.

     

    Reunindo algumas das mais recentes pesquisas sobre o tema, essa síntese pode ajudar a modificar a visão parcial sobre o processo de conquista do Novo Mundo entre os séculos XV e XVII.

     

    Fizemos 3 perguntas ao autor. Confira!

     

     

    Na orelha do seu livro, o senhor fala de “visão simplista e parcial sobre a conquista da América”.  A que o senhor se refere e a que atribui esse simplismo analítico?

    Considero uma análise simplista aquela que pretende explicar o passado a partir de uma única perspectiva. Por muito tempo, a conquista da América resumia-se aos ataques militares contra os índios indefesos e à hecatombe provocada pelas epidemias. Pretendia-se não somente culpar os espanhóis pelo massacre indígena, mas também demonstrar que os índios eram “raça inferior”,  incapazes de reação. Em seguida, influenciados pelos marxistas, os historiadores pretenderam comprovar que os índios resistiram aos espanhóis e, aos poucos, deixaram de ser vítimas e receberam contornos de heróis. De fato, fossem vítimas ou heróis da resistência, os índios tiveram participação na conquista, lutaram contra as milícias espanholas, mas também colaboraram com os invasores para massacrar as populações locais. Sem os índios, os espanhóis teriam muitas dificuldades para conquistar a América. Em pesquisas recentes, descobriu-se que os espanhóis empregaram soldados negros em embates, sobretudo no assalto a Tenochtitlan (posteriormente Cidade do México). Enfim, hoje os historiadores entendem que as rivalidades entre as comunidades americanas favoreceram os espanhóis. Eles incentivaram os indígenas a aniquilar seus rivais, mas, em outras ocasiões, os espanhóis foram usados pelos índios para submeter seus oponentes. Aliás, dependendo do espaço, ao invés de  conquista seria melhor empregar conquistas, pois algumas populações resistiram ou ficaram esquecidas por séculos. Assim, não se pode conceber a conquista como o duelo entre o bem e o mal, entre índios e espanhóis, tampouco que os combates fiquem restritos às primeiras décadas do século XVI, mas concluir que foi processo de longa duração e que os conquistadores não eram somente os espanhóis. Em vários episódios, os índios e os negros também se sagraram vitoriosos.

    Como o senhor avalia os estudos mais recentes sobre os impérios numa perspectiva comparada?

    A perspectiva comparada é um método muito eficaz contra os historiadores nacionalistas e regionalistas que pretendem sacralizar personagens e singularizar eventos da sua história. Com alguma defasagem temporal, existem elementos que se repetem na história da América Latina. Neste grande território, as estruturais sociais, as formas de dominação e os vínculos com a metrópole guardam muitas semelhanças. Assim, conhecer o que se passou no Peru ou no México pode lançar luzes sobre o passado colonial do Brasil. Essas regiões estavam conectadas, pois dividiam a mesma cultura política e religiosa. Por isso defendo que o diálogo com os historiadores da América hispânica é fundamental para aperfeiçoar a nossa própria pesquisa histórica e nossas conclusões sobre o passado colonial.

    Qual o impacto da colonização espanhola na América?

    Seria muito maniqueísta afirmar que os espanhóis criaram um potente sistema de exploração do povos indígenas. De fato eles recorreram às tradições locais, às formas de dominação que já existiam antes da conquista. Não inventaram a mita, os espanhóis aperfeiçoaram e perpetuaram os mecanismos incas que obrigaram os índios a trabalhar. Nas ilhas do Caribe, onde as populações foram dizimadas pelas epidemias e pelo excesso de trabalho, os espanhóis e os crioulos (mestiços ou brancos nascidos na América) introduziram o trabalho escravo africano. O mesmo procedimento ocorreu em regiões tropicais, onde não havia braços para cultivar a cana-de-açúcar e o tabaco. Os africanos alteraram bastante o perfil populacional da América. O vazio populacional e a expansão agrícola para exportação incentivaram a difusão da abominável escravidão.  Ao meu ver, o grande impacto da colonização da América foi a introdução do escravismo, as demais formas de exploração do trabalho existiam antes da invasão espanhola.

     

    A era das conquistas - Coleção FGV de Bolso - Série História

    Ronald Raminelli

    180 páginas

    R$20

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 29/04/2013 - 17:55

    Por que os regimes autoritários persistem, mesmo diante de forças liberalizantes como as novas tecnologias de informação, mais interdependência econômica internacional e populações melhor educadas, com expectativas amplas?

    Em seu novo livro, publicado pela Editora FGV, o cientista político Maurício Santoro analisa ditaduras na Ásia, África e América Latina e examina o papel do nacionalismo e do fundamentalismo religioso nos regimes autoritários atuais.

     

    Fizemos 3 perguntas ao autor do recém-lançado ‘Ditaduras contemporâneas’. Confira:

     

    1. É possível a convivência de eleições realmente competitivas em Estados fundamentalmente ditadores?

    Em alguns casos, sim. Há regimes autoritários que realizam eleições relativamente competitivas no plano local, de municípios e províncias - o Zimbábue é um exemplo. Mas o mais comum é que ditadores procurem usar eleições um instrumento de propaganda, para mostrar o quanto seu governo é supostamente liberal. Nesses casos, as votações ocorrem sob muitas restrições, em geral em um clima de intimidação à oposição e da criação de obstáculos jurídicos a ela - dificultando ou impedindo o registro de candidaturas, por exemplo.

     

    2. O senhor acredita que o modelo da China, que desponta como potência econômica apesar de seus baixos índices de desenvolvimento humano, pode influenciar outros países na combinação entre ditadura política e economia competitiva?

    É muito difícil imitar o desempenho econômico da China, porque ele é produto de uma combinação muito inusitada de fatores, que vão do legado social da revolução de 1949 à existência de uma diáspora chinesa em muitos países, com recursos e vontade de investir no país. A influência da China sobre outros regimes ocorre mais pelo seu poderio internacional, pela maneira como ela pode proteger e auxiliar outros governos autoritários, em particular na África e na Ásia.

    3. Em 'Ditaduras contemporâneas', o senhor não classificou o governo de Hugo Chávez como plenamente ditatoriais. Com a morte do líder venezuelano e a vitória do seu sucessor, Nicolás Maduro, é possível traçar um futuro político para o país?

    De fato, classifico a Venezuela como uma democracia frágil, onde liberdades cruciais foram fragilizadas pelas medidas do governo, que restringiu direitos da oposição. A extrema turbulência política da 1a eleição pós-Chávez mostra que a Venezuela terá anos difíceis pela frente. Liderança carismática não substitui a importância de instituições sólidas, de regras do jogo aceitas por todos os participantes das disputas eleitorais. Governo e oposição tem pela frente o desafio de reestabelecer um pacto de convivência e de conflitos dentro de parâmetros mais estáveis.

     

    Ditaduras contemporâneas - Coleção FGV de Bolso, série 'Entenda o mundo'.

    Maurício Santoro

    140 páginas

    R$20

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas, Eventos em 29/04/2013 - 14:23

    A Editora FGV lança o livro ‘Qual o valor da história hoje?’ e traz à tona uma reflexão fundamental sobre o valor da história e a importância da escola como espaço privilegiado para as discussões sobre esse tema.
    O dilema ético sobre o papel do ensino de história e sua relevância são abordados de forma quase investigativa pelos autores, convidando o leitor a um diálogo sobre como a história, enquanto experiência e conhecimento, pode atuar na formação e transformação dos indivíduos contemporâneos.

    Reunimos os organizadores Márcia de Almeida Gonçalves, Helenice Rocha, Luís Reznik e Ana Maria Monteiro e fizemos a pergunta essencial que intitula esta obra:

    Afinal, Qual o valor da história hoje?

     
    “O diálogo com a experiência do outro.
    A história nos auxilia a compreender ações humanas no tempo, contextos, mudanças e permanências, semelhanças e diferenças, em suas dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais.
    A história contribui para  desconstruir verdades estabelecidas, instigar questionamentos, despertar o interesse pela experiência do outro de forma a buscar compreender as diferentes alternativas criadas pelos grupos humanos para viver e sobreviver.
    Ao desnaturalizar o social, nos ajuda a  compreender a  construção histórica das sociedades.”

     

     

    Publicada com apoio da Faperj, a obra será lançada hoje na Blooks Livraria (Espaço Itaú de Cinema), Praia de Botafogo, 316, a partir das 18:30h.

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas, Vídeos em 22/04/2013 - 17:10

    José Carlos Reis, autor do livro ‘Teoria & história: tempo histórico, história do pensamento histórico ocidental e pensamento brasileiro’, fala sobre a obra em entrevista ao Interconexão Brasil.

     

    De acordo com o professor, o propósito desta produção é discutir, de forma mais densa e consistente, as relações entre a história e a teoria, fugindo um pouco do empirismo e do positivismo historiográficos e propondo uma história mais pensada e reflexiva que, em sua opinião “é a história que deve ser”.

    Nesta obra, que traz um texto fluente e didático, o leitor é levado à instigante tarefa de refletir sobre os diálogos entre teoria e história, através das dissecações das principais correntes historiográficas mais recentes e das discussões metodológicas que norteiam seu trabalho.

    A entrevista pode ser assistida, na íntegra, em http://www.youtube.com/watch?v=VG42tg_QUE8.

     

     

    José Carlos Reis é autor de diversas obras sobre o tema, todas publicadas pela Editora FGV, listadas a seguir:

    História e teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade

    As identidades do Brasil 1: De Varnhagem a FHC

    As identidades do Brasil 2: de Calmon a Bomfim

    O desafio historiográfico

  • Postado por editora em Entrevistas em 28/11/2012 - 12:57

    Se você trabalha na área, muito provavelmente já conhece o Mundo do Marketing. Todo o conteúdo da revista eletrônica – reportagens, entrevistas, artigos, cases comentados e blogs – é produzido por equipe própria, empenhada em um exercício constante: não apenas constatar os movimentos do setor, mas pensá-los, buscar possíveis interpretações e identificar oportunidades – ou riscos. Resumindo, o portal é mão na roda para profissionais e estudantes. Não à toa, atrai 235 mil visitantes por mês e tem conteúdo replicado pelos portais das revistas Exame e HSM Management.

    Fizemos 3 perguntas para Bruno Mello, editor executivo do portal. Confira:

     1. Em um editorial do Mundo do Marketing, você escreve que “mídias sociais requerem marcas sociais”. A quantas anda o aprendizado dessa lição pelas empresas brasileiras?

    De uma maneira geral, as empresas no Brasil ainda engatinham em relação às mídias sociais. Há muitas que fazem um bom trabalho, mas outras tantas ainda não entenderam que, no mundo de hoje, as pessoas querem ser ouvidas e conversar com as marcas. Seja numa reclamação ou num elogio. Atualmente, a maioria das empresas brasileiras está nas redes sociais, mas poucas conseguem engajar o consumidor. As empresas sabem que não têm como ficar de fora desse ambiente. Mas é preciso ir além da promoção da marca. É preciso ter relacionamento e conteúdo relevante que preste serviço ou entretenimento para gerar engajamento.

     2. A digitalização de livros é um processo inevitável e irreversível. Os desafios que se colocam para as editoras são muitos, como a ameaça da pirataria e a necessidade de desenvolver conteúdos diferenciados para as plataformas tecnológicas. Que conselhos você daria para quem é do mercado?

    O livro continuará sendo importante. Acredito, inclusive, na ampliação do mercado, uma vez que hoje em dia qualquer um pode ser autor e imprimir o seu livro. Por outro lado, o formato tradicional precisa conviver com uma revolução digital. O que muda não são a obra e seus direitos, mas sim o formato. Foi o modelo de negócio que mudou. E o mercado deve olhar para isso como uma oportunidade. Um livro pode ganhar vídeos, áudios, fotos e infográficos em uma versão digital e ser multiplicado em outras plataformas.

     3. Hoje, com a facilidade de acesso e utilização de sites, blogs e redes sociais, muita gente diz que faz marketing. O que diferencia o bom profissional, com chances de se destacar no mercado, e o marketeiro fogo de palha?

    O tempo. Infelizmente, quem contrata um mau profissional só descobre com o tempo. O mesmo vale para um bom profissional. Hoje em dia, muitos profissionais não passam mais do que dois anos em uma empresa. Há casos em que ficam menos de um ano. É muito pouco tempo para desenvolver um trabalho relevante e consistente. Um bom profissional de marketing planeja. E executa. Quem não é, não planeja e não entrega. Fica só no discurso.

Páginas

Subscrever Entrevistas