Por que os regimes autoritários persistem, mesmo diante de forças liberalizantes como as novas tecnologias de informação, mais interdependência econômica internacional e populações melhor educadas, com expectativas amplas?
Em seu novo livro, publicado pela Editora FGV, o cientista político Maurício Santoro analisa ditaduras na Ásia, África e América Latina e examina o papel do nacionalismo e do fundamentalismo religioso nos regimes autoritários atuais.
Fizemos 3 perguntas ao autor do recém-lançado ‘Ditaduras contemporâneas’. Confira:
1. É possível a convivência de eleições realmente competitivas em Estados fundamentalmente ditadores?
Em alguns casos, sim. Há regimes autoritários que realizam eleições relativamente competitivas no plano local, de municípios e províncias - o Zimbábue é um exemplo. Mas o mais comum é que ditadores procurem usar eleições um instrumento de propaganda, para mostrar o quanto seu governo é supostamente liberal. Nesses casos, as votações ocorrem sob muitas restrições, em geral em um clima de intimidação à oposição e da criação de obstáculos jurídicos a ela - dificultando ou impedindo o registro de candidaturas, por exemplo.
2. O senhor acredita que o modelo da China, que desponta como potência econômica apesar de seus baixos índices de desenvolvimento humano, pode influenciar outros países na combinação entre ditadura política e economia competitiva?
É muito difícil imitar o desempenho econômico da China, porque ele é produto de uma combinação muito inusitada de fatores, que vão do legado social da revolução de 1949 à existência de uma diáspora chinesa em muitos países, com recursos e vontade de investir no país. A influência da China sobre outros regimes ocorre mais pelo seu poderio internacional, pela maneira como ela pode proteger e auxiliar outros governos autoritários, em particular na África e na Ásia.
3. Em 'Ditaduras contemporâneas', o senhor não classificou o governo de Hugo Chávez como plenamente ditatoriais. Com a morte do líder venezuelano e a vitória do seu sucessor, Nicolás Maduro, é possível traçar um futuro político para o país?
De fato, classifico a Venezuela como uma democracia frágil, onde liberdades cruciais foram fragilizadas pelas medidas do governo, que restringiu direitos da oposição. A extrema turbulência política da 1a eleição pós-Chávez mostra que a Venezuela terá anos difíceis pela frente. Liderança carismática não substitui a importância de instituições sólidas, de regras do jogo aceitas por todos os participantes das disputas eleitorais. Governo e oposição tem pela frente o desafio de reestabelecer um pacto de convivência e de conflitos dentro de parâmetros mais estáveis.
Ditaduras contemporâneas - Coleção FGV de Bolso, série 'Entenda o mundo'.
Maurício Santoro
140 páginas
R$20