turismo sustentável

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 28/05/2013 - 12:47

     

    A Editora FGV lança mais um livro da Coleção FGV de Bolso e retoma as discussões sobre sustentabilidade e conservação do meio ambiente.

    ‘Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade’ procura mapear os principais desafios envolvidos na complexa relação entre as palavras-chave apresentadas neste título, tão comentadas nos dias de hoje.

    Helena Araújo Costa conduz o leitor a sobrevoos e mergulhos conceituais procurando tornar mais claros os grandes desafios do turismo no século XXI.

     

    Fizemos 3 perguntas à autora. Confira:

     

     

    Como o conceito de sustentabilidade, amplamente divulgado nos dias de hoje, vem sendo encarado pelo setor de turismo?

    No turismo, como em tantos outros setores, sustentabilidade é a palavra do momento. É amplamente utilizada em discursos públicos, privados, na mídia e na academia.

    Do ponto de vista do mercado, é encarado por algumas empresas como um fator estratégico ou como uma resposta às pressões externas (concorrentes, legislação, etc). Para outras, adotar ações ligadas à sustentabilidade é parte dos valores, do um estilo de vida dos proprietários. Quanto à perspectiva dos turistas, não há consenso como o assunto é percebido - se dão valor ou não, até que ponto valorizam tais iniciativas, e se são um pequeno grupo a ter sensibilidade à mitigação de danos e à maximização de ganhos a partir da atividade turística.

    Do ponto de vista das organizações públicas, a questão da sustentabilidade tem recebido muita ênfase. Quase todos os planos de desenvolvimento se dizem voltados para a sustentabilidade dos destinos turísticos. No entanto, ainda há uma compreensão restrita sobre o que é sustentabilidade e seus reais desafios. Especialmente de como implementar ações em seu favor e como monitorá-las.

    Na academia vemos grandes esforços de compreensão da multiciplicidade de assuntos que rondam a combinação entre turismo e sustentabilidade. E o livro busca mostrar isso nos sobrevoos e mergulhos conceituais propostos.

    É preciso esclarecer, no entanto, que a ampla divulgação do termo “sustentabilidade” é interessante porque coloca novas preocupações na pauta. Porém, o modismo também cobra seu preço. Por ser muito utilizada, até demasiada e inapropriadamente, o conceito acaba recebendo um certo descrédito por parte de quem o ouve. Uma dissertação de mestrado, excelente, defendida há pouco na UnB mostra essa adoção desmedida do termo na indústria e nas políticas públicas de turismo. Fica evidente que apenas adotar o termo na comunicação não muda a realidade. E isso causa uma extrema inquietação naqueles que querem ver ações concretas implementadas. Já sabemos que não deve ser apenas uma palavra usada em um plano estratégico público ou privado, ou em uma propaganda. E que vai muito além das pequenas alterações cosméticas em questões ambientais. Para isso, já existe até um termo pejorativo em inglês: o “greenwashing” ou “banho de loja verde”.

    Na orelha do seu livro, temos acesso à questão sobre os problemas que cercam a condução dos destinos turísticos por um percurso mais sustentável. Quais seriam esses principais pontos problemáticos?

    Existe dificuldade de implementar um conjunto coerente de medidas que deem conta das várias dimensões da sustentabilidade. Ou seja, falta visão sistêmica dos impactos na tomada de decisões e de seus impactos. É comum encontrarmos uma grande perda ambiental em nome de um ganho econômico e assim por diante.

    Além disso, a implementação de ações voltadas para a sustentabilidade em destinos turísticos é dificultada porque não existe uma comunidade homogênea, cheia de consensos. Isso é uma abstração. O que existe na realidade é um conjunto de grupos variados com interesses múltiplos e controversos. Enquanto um grupo quer preservar, outro quer utilizar as dunas, a praia, a cidade de modo despreocupado com limites socioambientais. Também é complicado desatar o nó do pensamento a curto prazo, especialmente quando se trata de sobrevivência de negócios (do ponto de vista das empresas) ou de reeleições (do ponto de vista político-partidário).

    Não está claro até que ponto estamos dispostos a abrir mão de um modelo atual de consumo e crescimento em nome de uma condição futura. Também temos muitos conflitos pelos usos de recursos – entre comunidades e turistas – que carecem de resolução. Da combinação destes dois pontos, cabe até falar da questão do decrescimento, que é altamente polêmica. Atualmente, já há destinos muito sobrecarregados – como Veneza e ilhas no Mediterrâneo - que estão implementando ações neste sentido, de reduzir a presença e o crescimento do turismo em suas cidades.

    Também não equacionamos ainda a questão do turismo de baixa escala e seu preço, versus um turismo de larga escala e barato, evidenciando uma elitização da lógica da sustentabilidade no turismo. O mais adequado seria pensar na aplicação de princípios da sustentabilidade em todos os tipos de turismo e de destinos, observando as conjunturas locais como relativizou Hunter. E lembrar que falar em um “hotel sustentável” ou um “destino sustentável” é uma simplificação, muitas vezes ilusória, pois o processo é dinâmico e contínuo. O que é possível e mensurável é saber em que medida estão sendo mais responsáveis na condução de empreendimento e destinos em favor do percurso da sustentabilidade.

    É possível identificar a atuação e o desempenho do Brasil no rumo de um turismo mais sustentável?

    É possível identificar uma série de projetos de desenvolvimento ligados a turismo executados por ONGs, governos, universidades, cooperativas e empresas. No entanto, as iniciativas tendem a ser ainda um pouco isoladas, sem coordenação entre si, de curto prazo, com lacunas de comercialização e com um monitoramento de resultados pouco robusto. Isso deixa obscuros quais os avanços que temos alcançado.

    No contexto empresarial, é crescente a noção da importância de certificações. Neste campo existem avanços, embora seja pequena a adesão atual por parte das empresas. Quando olhamos as premiações internacionais voltadas para práticas ligadas à sustentabilidade no turismo como um todo, o Brasil ainda tem um papel bastante tímido.

    Há, claro, alguns exemplos dos quais podemos ter esperanças. Um avanço é termos observatórios da sustentabilidade em alguns destinos turísticos brasileiros, como uma ação conjunta entre universidades, governos e empresas. Outra ação, ainda no início, é um projeto da ONG IPE no Baixo Rio Negro, chamada Eco-polos de desenvolvimento na Amazônia. Vários dos princípios da sustentabilidade têm sido observados – participação, noção de longo prazo, interação entre atividades econômicas, valorização cultural, protagonismo local, viabilidade econômica. E isso pode nos levar a ter boas expectativas em novos projetos.

     

    Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade

    Coleção FGV de Bolso - Série Turismo

    168p

    R$20

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    Gringo na laje: produção, circulação e consumo da favela turística; Gestão integral de destinos turísticos sustentáveis; Economia ambiental

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