A Editora FGV, a Ouro sobre Azul e a Fundação Biblioteca Nacional convidam para o lançamento de uma nova edição do livro Introdução ao pensamento político de Maquiavel, de Lauro Escorel, originalmente publicado em 1958 pela Editora Simões do Rio de Janeiro e reeditado em 1979 pela Editora da Universidade de Brasília.
Dada a argúcia de análise, Nicolau Maquiavel, um dos maiores pensadores políticos de todos os tempos, não cessou de ser lido e comentado durante os últimos 500 anos. Nesse contexto, o ensaio de Lauro Escorel figura entre as interpretações mais importantes já feitas no Brasil – consistindo na melhor de sua época e das 4 décadas seguintes –, o que confere à obra importância histórica e também científica, se considerarmos que os três grandes problemas enfrentados pelo texto - a autonomia da política , o realismo das relações internacionais e o perigo totalitário - continuam assombrando a humanidade.
Por tudo isso, a terceira edição de Introdução ao pensamento político de Maquiavel permanece tão válida quanto as anteriores e apresenta ampla bibliografia, a melhor, mais sólida e refinada com que se poderia contar na época em que o livro foi escrito.
A obra será lançada no dia 28 de agosto, na Biblioteca Nacional | Auditório Macgado de Assis, e os professores Rodrigo Bentes Monteiro e Silva Patuzzi, da UFF, estarão presentes para dialogar sobre a importância da obra, que figura entra as mais importantes análises brasileiras sobre o pensamento político maquiaveliano.
A mesa-redonda "Reflexões de Lauro Escorel sobre o pensamento de Maquiavel" é aberta ao público e terá transmissão ao vivo pelas redes sociais com possibilidade de perguntas pelos usuários, o que tornará o debate muito mais interativo.
O acesso poderá ser feito através dos links vídeo@RNP e aovivofbn a partir das 18h do dia 28.
Confira um trecho do prefácio do autor:
"Apesar da vasta bibliografia existente sobre o assunto, acreditamos não ser necessário justificar longamente a publicação do presente ensaio. São tão raros, entre nós, os autores que se têm ocupado de Maquiavel – e os que o fizeram, além do mais, se limitaram quase sempre a examiná-lo apenas de relance – que não será exagero dizer que o interesse que ele continua a despertar e a atualidade flagrante de sua problemática política só encontram paralelo no desconhecimento geral de sua obra, vida e personalidade. E a razão disso está em que, com exceção de alguns estudiosos que têm acesso às fontes estrangeiras de informação cultural, o grande público brasileiro dispõe tão somente, tanto quanto sabemos, de uma discutível tradução portuguesa d’O príncipe, livro, na verdade, da mais alta importância, mas insuficiente por si só para dar uma visão completa e justa do pensamento político de Nicolau Maquiavel. Faltam por completo ao leitor nacional textos críticos, informações bibliográficas atualizadas, obras fundamentais mais recentes de caráter crítico-biográfico sobre a matéria, de tal modo que a maioria está condenada a ter do pensador florentino ideias inevitavelmente incompletas ou deformadas. Será difícil encontrar alguém hoje em dia que não se sinta à vontade para empregar corretamente expressões como “maquiavelismo”, “maquiavélico” ou “maquiavelicamente”, mas serão poucos aqueles capazes de revelar um conhecimento seguro e menos superficial das conexões existentes entre a época de Maquiavel e a sua obra, bem como das premissas metodológicas e intenções doutrinárias que o inspiraram. Quantos serão, realmente, os que leram o próprio O príncipe e sobre ele meditaram com perfeita consciência do momento histórico em que o famoso livro foi concebido, e das relações do mesmo com as demais obras de Maquiavel? O fato é que o secretário florentino tornou-se através dos tempos uma figura legendária, erigido em símbolo de tudo o que há na política de demoníaco, de equívoco e inescrupuloso, de astúcia e dissimulação. Seu nome e derivados verbais se incorporaram ao nosso vocabulário corrente, determinando à sua simples menção reações estereotipadas, que vão do horror dos que o condenam em nome da moral tradicional, à admiração dos que o louvam em nome do realismo político.
A consequência de semelhante banalização do nome de Maquiavel – como de resto acontece com todos os grandes poetas ou pensadores que a celebridade histórica vulgarizou a ponto de serem mais citados do que lidos – é que ela nos dá uma ilusão traiçoeira de familiaridade com suas ideias, e não estimula um esforço mais sério para conhecer verdadeiramente as fontes, características e objetivos do pensamento maquiavélico.
É tendo em mente essas considerações que nos animamos a publicar o presente ensaio. Desde logo, queremos advertir o leitor eventual que não foi nosso propósito escrever nem uma biografia propriamente dita de Maquiavel, nem um estudo completo sobre sua obra, que pertence também ao campo literário, já pelas suas qualidades estilísticas, já pelas suas produções poéticas e teatrais. Quisemos apenas apresentar uma introdução ao seu pensamento político, com a esperança de que ela poderá despertar algum interesse no meio brasileiro, considerando, por um lado, a inegável atualidade do tema e, por outro, aquele relativo desconhecimento das ideias maquiavélicas a que acabamos de aludir.
Não há, por conseguinte, no espírito do autor, qualquer pretensão de estar revelando aos mais informados fatos novos e ideias propriamente originais sobre Maquiavel, por mais que, evidentemente, se tenha esforçado ele por repensar honestamente as questões teóricas de natureza ético-política que sua obra coloca e sugere. Na parte biográfica – que julgamos de interesse apresentar em vista da estreita conexão existente entre o pensamento e a vida do pensador florentino – valemo-nos das três principais biografias que fazem autoridade no campo dos estudos maquiavélicos: as de Pasquale Villari e Orestes Tommasini, escritas ainda no século XIX, e a do eminente humanista, Roberto Ridolfi, de recente publicação, em dia, portanto, com os resultados da investigação mais moderna sobre a vida e a obra de Maquiavel. No que diz respeito à análise e avaliação de seu pensamento político – objeto da segunda parte do presente ensaio –, escolhemos, na imensa bibliografia que se ocupa do assunto, alguns livros que nos pareceram fundamentais e atualizados para nos servir de guia seguro no labirinto das ideias maquiavélicas.
Esperamos sinceramente que este estudo – que serviu a seu autor para tomar uma consciência mais clara do grave e difícil problema das relações da política com a ética – possa contribuir para esclarecer ou pelo menos estimular à meditação e discussão aqueles leitores que, interessados embora no assunto, não tiveram as mesmas facilidades que nos foram proporcionadas por um estágio profissional em Roma, para entrar em contato com a bibliografia maquiavélica."
Lauro Escorel (1917-2002), nascido em São Paulo, ingressou na carreira diplomática por concurso em 1943 e foi promovido a ministro de primeira classe em 1968. Como embaixador, serviu na Bolívia, Paraguai, Dinamarca, México e Espanha. Crítico literário desde a juventude, colaborou em diversas publicações, entre elas, Correio da Manhã, O Estado de S. Paulo, A Manhã e o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, onde escreveu sobre literatura italiana.
Em 1958, publicou pela Editora Simões, Rio de Janeiro, a 1a edição do livro Introdução ao pensamento político de Maquiavel, agora reeditado pela Editora FGV em coedição com a Ouro sobre Azul e, em 1972, o livro A pedra e o rio – uma interpretação da poesia de João Cabral de Melo Neto, pela Duas Cidades, São Paulo, reeditado pela Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, em 2001.
Introdução ao pensamento político de Maquiavel
R$42,00