Arquivo de Julho 2022

  • Postado por editora em em 26/07/2022 - 10:02

    O livro Império em disputa: coroa, oligarquia e povo na formação do Estado brasileiro (1823-1870), escrito pelos historiadores Thiago Krause e Rodrigo Goyena Soares e publicado pela FGV Editora, tem início com a fundação do Império do Brasil e apresenta uma nova síntese historiográfica sobre este período, voltada tanto aos especialistas como ao público leitor mais amplo.

    Este segundo volume da coleção ‘Uma outra história do Brasil’ aborda período pós Independência.

    Confira a seguir o prefácio do historiador e professor da USP, Rafael de Bivar Marquese:

    Este volume, parte da coleção “Uma outra história do Brasil”, da FGV editora, traz uma grande contribuição para a história do Brasil Império. Ele reúne dois jovens historiadores, com trajetórias acadêmicas distintas no que refere aos temas prévios de estudo e às escolas historiográficas em que se formaram, mas cujas respectivas preocupações convergem de maneira clara.
    A excelência da pesquisa de base, uma escrita da história teoricamente informada e o cuidado permanente em articular perspectivas analíticas em geral tomadas como antagônicas são aspectos que unificam os percursos de Thiago Nascimento Krause e Rodrigo Goyena Soares.
    Eles se valem desse equipamento para enfrentar o difícil desafio de apresentar uma nova síntese historiográfica sobre o Império do Brasil, voltada tanto aos especialistas como ao público leitor mais amplo.
    Exercícios como este, que conjugam pleno domínio do campo, mobilização de fontes primárias, discussões historiográficas de fundo e uma exposição elegante e direta, porém sem simplificações, infelizmente são raros em nosso meio historiográfico. Se, por um lado, o culto à monografia — verificado em teses de doutorado, dissertações de mestrado e artigos publicados em revistas especializadas — foi imprescindível para que a historiografia brasileira desse o salto constatado após a profissionalização do ofício da história em nossas terras (no que já vai meio século…), por outro lado, ele levou a um certo desdém com as obras de síntese. Livros com esse escopo ajudam, e muito, a colocar ordem no campo. Fora do Brasil, eles gozam de um prestígio acadêmico e intelectual que não têm por aqui. Talvez o exemplo máximo do que estou afirmando sejam as quatro Eras compostas por Eric Hobsbawm entre 1962 e 1994: malgrado seu enorme sucesso editorial no Brasil, essas obras não estimularam nossos melhores historiadores e historiadoras a produzirem algo semelhante — mesmo que fosse tão somente na forma — relativo à nossa história.
    O período imperial brasileiro tem gerado nos últimos anos um sem-número de ótimos trabalhos acadêmicos. Porém, salvo exceções, o que predomina é a fragmentação temática, espacial e cronológica das perspectivas adotadas. Não raro, quem trabalha com escravidão crê que examinar os grupos dirigentes nada lhe acrescentará; quem examina a cultura acredita que a economia constitui um mundo à parte; quem olha para o Rio Grande do Sul não olha para o Vale Amazônico. Os exemplos poderiam ser multiplicados. Acrescenta-se a dificuldade inata em lidar com uma quadra ao longo da qual o Brasil passou por várias convulsões políticas e sociais, cisões profundas entre o Primeiro Reinado e o Segundo Reinado e o maior conflito militar externo já enfrentado por nosso Estado nacional.
    Diante de tais desafios, Krause e Goyena Soares realizaram um enorme feito. Eles nos apresentam uma combinação equilibrada de narrativa temporal e descrição analítica que se mostra notavelmente capaz de dar conta da dialética da duração de um arco de tempo que vai da fundação do Império do Brasil à sua crise, a que se seguiu ao término da Guerra do Paraguai e à aprovação da Lei do Ventre Livre.
    A cada passo, os autores explicitam as articulações de fundo entre a chamada alta política e os movimentos sociais dos subalternos, a política externa e os caminhos tomados pela construção da ordem nacional, a história financeira e seus desdobramentos na reiteração cotidiana das relações sociais.
    A síntese interpretativa que eles trazem tem dois pontos de fuga. O primeiro é a centralidade da escravidão negra para nossa formação como um país independente. Mais do que um legado colonial que o Império se encarregaria de encerrar assim que possível, a escravidão como um projeto nacional, imposto ao conjunto do país em meio a disputas de toda ordem, foi o que deu a solda para a construção do Estado nacional brasileiro sob a roupagem de uma monarquia constitucional. O segundo é a recusa a uma leitura personalista da história, algo que tem se manifestado na multiplicação recente de biografias. O livro opera, de forma muito sofisticada, com o pressuposto da relativa autonomia do político em relação ao quadro econômico nacional e às ordens regionais e globais mais amplas. Mas, no reverso dessa medalha, os autores tampouco deixam de chamar constantemente a atenção para as articulações dialéticas das diversas esferas de existência da vida social, bem como para as dimensões globais de fenômenos que, no mais das vezes, são tomados como exclusivamente nacionais. Pode-se afirmar, aliás, que o livro, ao descortinar os liames entre a escravidão negra, a estrutura financeira imperial e os ritmos da política externa, não apenas sintetiza trabalhos pioneiros realizados nos últimos anos, mas traz, em si, a proposta de uma agenda renovada de investigação.
    Tudo isso vem temperado por uma atitude intelectual fortemente antidogmática, que se mostra aberta às mais variadas matrizes teóricas de interpretação do passado brasileiro. Os especialistas saberão identificar facilmente essas marcas abrangentes de tratamento historiográfico; aos não-especialistas, restará a certeza de estarem diante de uma obra de peso, daquelas que conferem um claro sentido histórico ao mundo em que vivemos.
     

    Para marcar o lançamento desta obra, os autores estarão presentes em eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    O evento do Rio terá a participação do presidente da Fundação Getulio Vargas, professor Carlos Ivan Simonsen Leal, e um bate-papo com os autores no auditório da FGV (Praia de Botafogo, 190 – 12º andar), dia 17/8 às 17h.

    Em São Paulo, os autores promovem novo encontro na Livraria Martins Fontes Paulista (Avenida Paulista, 509), dia 22/8 às 18h.

     

    Império em disputa: coroa, oligarquia e povo na formação do Estado brasileiro (1823-1870)

    Thiago Krause e Rodrigo Goyena Soares

  • Postado por editora em em 07/07/2022 - 12:14

    "Entender a trajetória da educação no Brasil até o ponto a que chegamos é parte fundamental do esforço para melhor diagnosticar os desafios atuais, evitando soluções simplistas para problemas estruturais complexos."

    A aproximação do Bicentenário da Independência trouxe um incentivo adicional ao jornalista Antônio Gois para iniciar sua pesquisa sobre a trajetória da educação no Brasil, na qual investiga as raízes profundas do atraso brasileiro nesse setor.

    Para marcar o lançamento desse livro, que conta com apresentação do Ministro Luiz Roberto Barroso, vamos promover dois bate-papos:

    Rio de Janeiro | 28/7/2022 | Blooks Livraria | 19h

    Bate-papo com o autor, Antônio Gois, e o ex-Ministro da Educação e Diretor do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da FGV (FGV-DGPE), José Henrique Paim.

    São Paulo | 8/8/2022 | Livraria da Vila | 19h

    Bate-papo com o autor, Antônio Gois, e os Professores Romualdo Portela (Unicamp) e Fernando Abrucio (FGV), na Livraria da Vila.

     

    Confira a seguir um trecho da apresentação da obra:

     

    Apresentação
    A falsa prioridade
    Luís Roberto Barroso*

    Meu grande projeto na vida sempre foi o de ser professor. Sobretudo um professor. Jamais me arrependi da escolha que fiz. Dou aula na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) há exatos 40 anos. A vida, generosamente, trouxe-me outras realizações, mas nenhuma se compara a essa. A educação constitui uma das minhas grandes aflições no Brasil, notadamente a educação básica. Essa é a única razão pela qual aceitei, imprudentemente, escrever esta apresentação. Nela faço breve resenha do trabalho de Antônio Gois e algumas reflexões sobre o tema — mas sinto-me no dever de sugerir ao leitor que salte diretamente para o livro e pule esta parte, que a ele não agrega valor. Trata-se apenas de um testemunho de apreço e admiração pela devoção com que o autor se dedica, há anos, infatigavelmente, a refletir e divulgar conhecimentos e informações sobre a educação no Brasil.

    I. Uma nota pessoal
    Estudei a maior parte da minha vida em escola pública, desde o jardim de infância até o vestibular. Meus pais até podiam pagar uma escola privada, mas havia uma dificuldade: os principais colégios particulares da época eram católicos. E eu sou filho de mãe judia e pai católico. Não tendo passado pelos ritos próprios da religião na minha infância, as escolas não me aceitariam nem minha mãe quereria. Por essa razão, tive de ir para escolas públicas e estudei no Cícero Pena (Jardim), na Escola Roma (Primário) e no Pedro Álvares Cabral (Ginásio). Tenho a lembrança de que eram colégios exemplares. Puxando pela memória, não me lembro de ter tido sequer um colega negro ao longo de todo o período. A escola pública era o domínio da classe média, naquela segunda metade dos anos 1960 e início dos anos 1970.
    Essa foi a primeira lembrança que me veio à mente ao começar a ler o importante livro de Antônio Gois. Logo ao início, ele denuncia o erro grave de diagnóstico de que a escola pública era muito melhor antigamente. A escola pública nem pública era. Apropriada privadamente pelas elites, ela refletia apenas mais um capítulo da exclusão social brasileira. Neste pequeno grande livro, o autor conta uma história triste, de desigualdades, egoísmos, mediocridades, escolhas equivocadas e falsas prioridades. Por sorte, a história ainda não acabou; e gente como ele trabalha com afinco para que ela mude de curso e tenha final feliz. Assim será.

    ***

    IV. Conclusão
    Saio finalmente do caminho. A expansão, qualificação e evolução da educação básica são os únicos caminhos para a prosperidade dos povos e a emancipação das pessoas. A deficiência na educação básica tem como consequência vidas menos iluminadas, trabalhadores menos produtivos e elites intelectuais menos preparadas para pensar soluções para os problemas nacionais. A importância da educação avulta, exponencialmente, na era da Revolução Tecnológica, com a economia do conhecimento e da inovação rompendo fronteiras.
    Vivemos o admirável mundo novo da tecnologia da informação, da biotecnologia, da nanotecnologia, da impressão em 3D, da computação quântica, dos carros autônomos e da internet das coisas. Um tempo em que o aprendizado deve ultrapassar os conhecimentos convencionais para incluir, além da gramática e da matemática, como aponta o livro, pensamento crítico, capacidade de resolver problemas complexos e criatividade.
    Para superar o atraso que nos reteve na história, a educação precisa ser, verdadeiramente — e não retoricamente —, uma real prioridade. Antônio Gois nos oferece, em relato objetivo e preciso, um inventário dos desacertos do passado, das dificuldades do presente e acende algumas luzes para um futuro mais promissor. Para quem queira se juntar, com informação de qualidade e reflexões pertinentes, ao movimento crescente que vê na educação o único caminho possível para o florescimento do país, este livro oferece um excelente conjunto de diagnósticos, ideias e sugestões. Tive o privilégio de lê-lo em primeira mão, com prazer e proveito.

     

    * Professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

     

    O ponto a que chegamos: duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente

    Autor: Antônio Gois