A coluna de hoje do Pedro Doria, do O Globo, sintetiza as principais novidades esperadas para o mercado de livros digitais no Brasil: a chegada da Amazon e outras lojas de eBooks (a da Google e a Apple são outros exemplos) e o lançamento de novos tablets. Não é de hoje que o assunto deixa as editoras em polvorosa. Por aqui, planejamentos, troca de impressões, ideias e opiniões contagiam toda a equipe e tomam conta das conversas – em reuniões, nos e-mails, no cafezinho.
Desde 2008 temos a nossa Coleção Digital – livros disponibilizados na íntegra em PDF. O tempo passou, a coleção aumentou e os formatos se diversificaram, com a progressiva conversão dos títulos em ePubs e PDFs mais interativos. Caminho longo, e que está só começando. Fizemos 3 perguntas para Marcelo Rocha Pontes, gerente de vendas da editora e uma das pessoas mais envolvidas nesse processo. Confira:
1. Por enquanto, tablets e livros digitais são uma realidade para poucos. Apesar disso, já é possível ter retorno de investimento e lucro efetivo com a venda de eBooks?
O interesse das pessoas por eBooks já aumenta em ritmo muito acelerado. Sentimos isso ao fechar as contas, todo mês. É muito animador imaginar que as oportunidades darão um salto entre este segundo semestre de 2012 e o início de 2013. Teremos um divisor de águas, com a oferta de tablets a preços muito mais baixos. E isso é animador para nós, editores (a meta é que, em dois anos, a venda dos digitais represente 40% do nosso faturamento) e também para o consumidor, que encontrará preços cada vez mais atraentes.
2. Existe uma saída para editoras menores, que não têm estrutura administrativa ou verba para investir em conversão e venda de eBooks?
Normalmente, a conversão de livros impressos em digitais já é terceirizada. Os custos para um título de 300 páginas costumam variar entre R$ 250 e R$ 1.500, dependendo do fornecedor e da qualidade da transformação feita. Mas o mais complexo é a proteção dos arquivos digitais e sua distribuição. Muitas editoras acadêmicas, por exemplo, não têm sequer e-commerce. A alternativa, então, é fazer parcerias com distribuidores de livros digitais. A mecânica é parecida com a da cadeia de impressos: a editora disponibiliza seus arquivos digitais para uma outra empresa comercializar. É o que faz, por exemplo, a Gato Sabido, loja virtual do mesmo grupo da Xeriph (que, por sua vez, é uma empresa que converte impressos em eBooks). É o que pretendemos fazer por aqui, também: oferecer às editoras com dificuldades em ingressar no mercado digital o serviço de proteção e distribuição de eBooks.
O que todos querem é: oferecer condições de compra com as quais o consumidor concorde e, ao mesmo tempo, continuar capazes de entregar o produto"
3. Qual é a maior dificuldade enfrentada por uma editora que ingressa no mercado digital?
Equalizar os anseios do consumidor e os custos do livro. O que todos querem é: oferecer condições de compra com as quais o consumidor concorde (preço que ele esteja disposto a pagar; produto atraente; etc); e, ao mesmo tempo, continuar capazes de entregar o produto. Afinal, o livro, seja ele digital ou impresso, tem custo de produção (que ainda é bastante alto, diga-se). É preciso fechar as contas da maneira mais justa possível para todos os envolvidos.
Não podemos pensar com a mesma cabeça dos livros impressos. Ebooks são um produto diferente, e o que antes era visto como “limitações” desse formato pode ser, na verdade, oportunidades. O fato de uma página com muita informação, textos, figuras etc não ficar visualmente interessante na tela de um iPad deve ser um estímulo para buscarmos outras formas de apresentação, mais atraentes, interativas.
O mercado aos poucos toma consciência disso. Ao mesmo tempo, porém, ainda existe uma cadeia de produção que, para funcionar, precisa ser suprida. Há contas a pagar, há autores que não estão dispostos a abrir mão de seus direitos. Então, o que se busca é um novo formato para equilibrar as variáveis. Aqui na editora, por exemplo, nós procuramos praticar um preço para os eBooks bem abaixo dos impressos – a redução chega a 30%. E estamos trabalhando para que fiquem ainda mais baratos.