Numa coletânea de textos organizados pelos professores Rodrigo Patto Sá Motta e Luciano Aronne de Abreu, a Editora FGV, em parceria com a ediPUCRS, lança o livro Autoritarismo e cultura política.
Dividida em 11 capítulos, a obra reúne textos em português produzidos pelos organizadores e os professores Miriam Hermeto, Enrique Serra Padrós, Helder Gordim da Silveira, Claudia Wasserman, Luis Carlos dos Passos Martins, Rodrigo Perla Martins e Ronaldo Herrlein Jr., além de dois trabalhos em espanhol escritos pelos professores Marina Franco e Rolando Alvarez Vallejos.
Com abordagens sobre ditadura brasileira, censura dos anos de 1970, sindicalismo e corporativismo no Brasil, segurança nacional brasileira e operação Condor, bem como 'seguridad interna argentina' e 'partido comunista de Chile', entre outros, os textos nos demonstram a vasta história do autoritarismo em alguns países, entre eles o Brasil.
O professor Rodrigo Patto define a atuação do regime militar na produção cultural do Brasil como "modernizadora e autoritária, ao mesmo tempo. Houve a expansão dos empreendimentos e empresas culturais, como jornais, televisão, rádio e editoras, e também investimentos para modernizar as universidades. Porém, simultaneamente, a ditadura criou mecanismos para cercear a liberdade, como a censura (direta e indireta) e eventuais ações violentas contra artistas desafetos do regime."
Confira a apresentação da obra feita por seus organizadores:
"A aproximação analítica entre os temas Autoritarismo e Cultura
Política, abrangendo o Brasil e outros países latino-americanos
(Argentina, Chile e Uruguai), pode gerar chaves interpretativas e
explicativas inovadoras para a história da região. Com efeito, tais
nações passaram por experiências autoritárias recentes que, em boa
parte, contribuíram para a sua configuração atual, quer seja pela
ação direta na moldagem de suas estruturas econômico-sociais contemporâneas,
quer seja pela própria reação adversa que geraram na
forma de movimentos de combate a esses regimes e suas heranças
ainda atuantes, em especial no campo da construção da memória.
O enfoque ganha especial pertinência quando consideramos
que, em alguns desses países, como o Brasil, o autoritarismo não é
um fenômeno político recente, mas possui uma vasta História. Não
apenas porque tais países já tenham passado por regimes não democráticos
anteriormente, mas porque também eles foram palco da
elaboração de toda uma tradição teórica autoritária, ou seja, de intelectuais
que pensaram e projetaram a sociedade (brasileira e latino-
-americana) como incompatível com a democracia liberal. E muitos
elementos desse pensamento autoritário eram compartilhados ou
apropriados por outras correntes de pensamento – mesmo à esquerda
do espectro político-intelectual – e, inclusive, pelos grandes meios
de comunicação, alcançando uma abrangência maior que o restrito
círculo dos intelectuais. Dessa maneira, torna-se muito pertinente
procurar associar o autoritarismo à cultura política, na medida em
que as bases do pensamento autoritário contribuíram difusamente
na própria maneira como a realidade política dessas sociedades vem
sendo concebida ao longo das últimas décadas.
Por outro lado, há que se considerar também a manifestação de
determinados traços de cultura política tanto nos períodos de governo
autoritário quanto nas fases consideradas democráticas. Tendo
em vista especialmente o caso brasileiro, podemos mencionar como
exemplos o reiterado recurso à conciliação entre setores da elite, a
reprodução de práticas clientelistas, o arraigado corporativismo e a
tradicional personalização das relações políticas.
Sob a inspiração desses pressupostos teóricos, selecionamos e
convidamos os autores que contribuem para esta coletânea, na expectativa
de oferecer reflexões úteis à compreensão da história política
do Brasil e de países do Cone Sul."
Autoritarismo e cultura política
Editora FGV
R$40