A Editora FGV lança o livro ‘História urbana: memória, cultura e sociedade’, uma coletânea de 16 artigos que tem o propósito de revisitar um campo clássico da pesquisa histórica, mas com ares renovados por um ponto de vista atualizado com a historiografia contemporânea.
Com destaque para a cidade do Rio de Janeiro com as Festas do Divino na Corte; a relação entre violência e cultura política na época Colonial; o uso do trabalho prisional em sua urbanização e a ocupação desse novo território urbano por crioulos e africanos; a Primeira República e seus hospitais; histórias da Praia do Flamengo, entre outros temas, a obra ainda aborda o Vale do Paraíba fluminense e os recém libertos da escravidão, cidades mineiras como São João d’El Rey e seu universo das letras, Recife e os novos trabalhadores livres e os paulistas com a invenção do sertanejo urbanizado.
Os personagens e os grupos sociais são protagonistas da vida urbana e atores da produção da cidade.
Fizemos 3 perguntas à Gisele Sanglard, uma das organizadoras e autora de um dos artigos do livro. Confira:
Como a cidade é abordada nesta coletânea?
A cidade, ou o seu plural, apresentada nesta coletânea é antes de tudo múltipla, tanto no que tange à temporalidade – vai do século XVIII ao século XX – quanto das relações sociais ali construídas – cultura urbana, questões políticas e de poder, sociabilidades, religiosidade, identidade e mundo do trabalho são temas que os leitores vão encontrar nesta obra.
Procuramos ressaltar a várias possibilidades de análise da cidade: como palco de festividades e de disputas; de controle; das transformações nela ocorridas após as mudanças políticas e as necessidades de adequação – do trabalho escravo ao trabalhador livre; as reformas políticas e os impactos na malha urbana; a cidade esquecendo seu passado e a vontade de reconstruí-lo.
Os caminhos usados para analisar as questões propostas pelos autores também são múltiplos. Há aqueles que optaram por uma abordagem mais clássica dos estudos culturais, aqueles mais inspirados pelas análises de Thompson ou da cultura política; aqueles que pensam seus temas a partir de objetos da saúde e do urbanismo.
Talvez a forma melhor de definir esta coletânea tenha sido a expressão usada por minha aluna ao ver o índice do livro hoje: “tem um pouco de tudo”. E tudo acontece na cidade.
Qual a importância das relações sociais na estrutura urbana?
O território da cidade é construído pelo homem e sofre influência direta do tempo. Dois objetos caros ao historiador. Assim, a apropriação do espaço público na cidade, seus lugares de lembrança e/ou de esquecimento são fruto dos homens e da relação que ele estabelece com a própria cidade.
A expansão da malha urbana também está diretamente relacionada às relações sociais – os espaços das festividades, de habitação, de trabalho e de disputas – que também se ajustam a este movimento. E estas relações se dão tanto intra quanto extra classe. É a polícia, hoje objeto de crítica da sociedade, que em outros tempos usava os braços dos prisioneiros para realizar melhorias urbanas; é a elite que, em um gesto de utilidade social, constrói hospitais para a população carente; é a prefeitura do Distrito Federal que retira os cortiços do centro da cidade, mas permite-os em outras regiões esquecidas; é a transformação do território que faz com que a zona rural seja incorporada a cidade alterando completamente lógica da região, de seus habitantes e de seus hospitais; são os irmãos buscando multiplicar a demonstração de sua fé e de seu conhecimento.
Enfim, os homens são os protagonistas da vida urbana e a cidade é fruto das ações do homem. São indissociáveis.
Quais os principais objetos da história social da cultura analisados nesta obra?
A moderna história social da cultura demonstra preocupação com o papel das classes sociais e mesmo do conflito social; mantendo sua agenda de interpretação do cotidiano das sociedades. Estes aspectos todos estão evidenciados na coletânea.
‘História urbana: memória, cultura e sociedade’ será lançado dia 2/10 na Livraria FGV, a partir das 18h30.
Estão todos convidados para esta celebração urbana!
História urbana: memória, cultura e sociedade
Organizadores|autores: Gisele Sanglard, Carlos Eduardo Moreira de Araújo e José Jorge Siqueira
368 páginas
R$52
Outros autores: Ana Albano Amora, Angélica Müller, Flávio Gomes, Gustavo Alonso, Irenilda Reinalda B. de R. M. Cavalcanti, Jorge Victor de Araújo Souza, Leonardo Soares dos Santos, Lucia Silva, Lucimar Felisberto dos Santos, Marcelo Mac Cord, Renato Gama-Rosa Costa, Ricardo M. Pimenta, Rodrigo Fialho Silva, Sara Cabral Filgueiras e William de Souza Martins.