Em 16 de janeiro de 1974 Azeredo da Silveira monta sua estratégia geral antes de assumir o comando do Itamaraty, a convite do então presidente Ernesto Geisel.
O documento "Política externa brasileira: seus parâmetros internacionais", que completa 40 anos no próximo dia 16, foi a base de uma das transformações mais profundas no comportamento internacional do Brasil, através de uma política externa ambiciosa e ousada defendida e aplicada por Silveira.
Conversamos com Matias Spektor, organizador do livro Azeredo da Silveira: um depoimento, que, direto do Reino Unido, nos deu a honra de apresentar um pouco mais sobre essa figura histórica que foi, e é, Azeredo da Silveira.
Confira:
Quem foi Azeredo da Silveira?
Ele foi ministro das Relações Exteriores do governo Geisel (1974-79), e durante sua gestão o Brasil assistiu a um processo intenso de ascensão internacional. Algo parecido como o que vimos durante o governo Lula.
Em que consistiu essa ascensão?
Ela teve dois aspectos fundamentais. Primeiro, Silveira reverteu a política sul-americana. Antes, ela era defensiva. Existia a crença de que qualquer tipo de assertividade na região levaria a uma reação contrária, liderada pela Argentina. Silveira pagou para ver. O resultado disso foram grandes acordos de infraestrutura: Itaipu com o Paraguai, gasoduto com a Bolívia, acordos de Jaguarão e Lagoa Mirim com o Uruguai, Tratado de Cooperação Amazônica com os países andinos.
Qual o segundo elemento?
Silveira negociou com êxito uma bateria de mecanismos de consulta de alto nível com Washington, Londres, Paris, Roma, Bonn e Tóquio. À época, ainda não existia o diálogo regular entre países industrializados e países em desenvolvimento. Ao formalizar esses acordos, Silveira obteve o reconhecimento de terceiros de que o Brasil merecia status especial. Silveira ainda abriu uma política para a África negra, especialmente para as ex-colônias portuguesas que, até aquele momento o Brasil ignorava. E criou uma política para o Oriente Médio e a China pela primeira vez.
Qual a trajetória profissional de Silveira?
É muito interessante. Ele começou a carreira diplomática ainda muito jovem e fez parte da geração de diplomatas que encerraram o paradigma americanista da época de Osvaldo Aranha. Junto a um punhado de colgas, Silveira esteve na dianteira do que seria o lado diplomático do nacional-desenvolvimentismo: a criação da UNCTAD, a negociação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o estabelecimento de um diálogo Norte-Sul.
Existem biografias escritas sobre ele?
Não, lamentavelmente. Ele não deixou memórias nem foi sistemático em suas notas pessoais. Mas seu arquivo, depositado no Cpdoc/FGV, é riquíssimo (e ainda pouco estudado). E ele deixou mais de vinte horas de depoimento ao Cpdoc que agora podem ser lidas em “Azeredo da Silveira: um depoimento”.
Matias Spektor ainda nos apresenta uma verdadeira aula sobre Silveira no site http://silveiradepoimento.com.br/site/, que também disponibiliza documentos secretos do período de 1974 a 1979, quando nosso personagem foi ministro das Relações Exteriores.
Azeredo da Silveira: um depoimento
Matias Spektor
Em comemoração aos 40 anos do pragmatismo de Silveira, os exemplares estão 30% de desconto:
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eBook: R$35,00 (R$50,00)
Confira outras obras de Matias Spektor publicadas pela Editora FGV:
O que a China quer? e Os Brics e a ordem global
Ambas da Colelção FGV de Bolso | Série Entenda o Mundo
Veja também a matéria de hoje de sua coluna na Folha de S. Paulo.