Jabuti 2016

  • Postado por editora em em 24/10/2016 - 07:58

    O resultado da primeira fase do 58º Prêmio Jabuti foi anunciado dia 21 de outubro e a obra O corpo da Nova República: funerais presidenciais, representação histórica e imaginário político, do professor Douglas Atilla Marcelino, é uma das dez finalistas na categoria Ciências Humanas.

    Confira a introcução da obra:

    "A “teologia política” (para retornar ao termo de Kantorowicz) do século XX ainda não foi escrita, embora tenham havido, aqui e ali, algumas tentativas nesta direção. No entanto, ela existe — ou, mais precisamente, existem várias formas dela — e enquanto não a compreendermos, pelo menos tão bem como compreendemos a dos Tudor, dos Majapahits ou dos Alawites, uma grande parte da vida pública de nosso tempo vai permanecer obscura. O extraordinário não deixou a política moderna, por mais que a banalidade nela tenha entrado; o poder ainda inebria, mas também ainda dignifica. [Geertz, 2009:214-215]"

    Se alguma certeza podemos ter sobre a experiência humana passada, é que ela deve ser considerada em sua própria historicidade. E, se tal aspecto pode parecer evidente num certo sentido, nem sempre ele parece ter sido considerado pelos historiadores. A maioria deles, entretanto, hoje compreende que a história não se reduz a modelos teóricos preconcebidos. A experiência humana é sempre mais complexa, dinâmica, multifacetada, tornando condição de possibilidade para a abordagem histórica conferir alguma fixidez a esse amontoado de relações móveis a que chamamos com alguma simplificação de sociedade ou de processo histórico. Certamente, isso pode ser feito de modo mais ou menos reducionista, embora essa última condição não possa ser completamente apagada. Assim, perceber as peculiaridades de determinados acontecimentos históricos pode parecer uma condição inexorável dentro dos cânones de uma disciplina cuja principal vocação talvez seja apontar a fragilidade de certos modelos e formalizações, sempre insuficientes quando confrontados com os vestígios da experiência passada.
    O estudo do passado recente remete a certos problemas não menos prementes aos historiadores. Algumas facilidades ocasionais podem obscurecer enormes dificuldades que, inclusive, não são menos consideráveis do que aquelas que acometem os estudos sobre períodos mais remotos da história humana. Estudar o passado recente demanda uma experiência interpretativa de natureza quase inversa àquilo que já foi identificado como fundamento do trabalho antropológico: ao esforço de transformar o exótico em familiar corresponde, por outro lado, a necessidade de não se aprisionar na comodidade do imediatismo ou da proximidade do objeto de estudo. Se não propriamente transformar o familiar em exótico, ao menos devemos procurar compreender o passado recente a partir dos horizontes de perspectivas e das possibilidades de escolhas significativos aos sujeitos históricos envolvidos nos acontecimentos estudados. Portanto, as exigências não são menores em relação aos estudos de outros períodos passados. Somente uma perspectiva simplista emprestaria maior facilidade à história recente, atitude pouco condizente com a percepção da complexidade dos condicionantes e das operações envolvidas na criação de um maior ou menor estranhamento em relação ao passado.

    É nessa perspectiva que este estudo analisa a conjuntura do adoecimento e da morte de Tancredo Neves, particularmente os grandiosos funerais que se seguiram ao seu falecimento, no dia 21 de abril de 1985. Aquele foi um momento em que os fundamentos simbólicos da comunidade política como construção imaginária foram colocados em questão de forma muito particular, configurando elementos que foram depois dramatizados nos funerais de Tancredo, sem dúvida o maior cortejo fúnebre da história do país até então. Um dos objetivos das páginas seguintes, nesse sentido, é produzir uma análise com forte preocupação etnográfica que, mesmo que incompleta por natureza, permita reconstituir historicamente aspectos mais profundos sobre as formas de ritualização do poder e as disputas pelo imaginário político na conjuntura da morte de Tancredo Neves. Cruzando o estudo de fenômenos conjunturais com outros de mais longa duração, a pesquisa aposta tanto naquilo que fornece uma singular potencialidade à abordagem histórica (a percepção da historicidade de certos eventos), quanto naquilo que permite torná-la algo mais do que uma despreocupada atenção à irredutível imprevisibilidade do passado (suas relações com elementos mais duradouros da história do país).

    Ao analisar os eventos políticos que marcaram os primeiros meses de 1985, é quase impossível não se impressionar com a sucessão de acontecimentos inesperados, com as coincidências aparentemente incompreensíveis, que pareciam predizer algo de imperioso aos contemporâneos. Depois de eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, Tancredo foi internado na madrugada anterior à cerimônia de empossamento, quando ninguém, a não ser ele e parte de seu ciclo de familiares, imaginava que estivesse doente. Mais do que isso, sua posse não se restringiria à aparição solene de um político importante ou aos exageros de um evento meramente espetaculoso. E não somente pelo tom festivo ou porque estava sendo preparada com bastante antecedência, mas justamente por aquilo que explica ambos os aspectos: ela daria forma e expressividade ao sentimento de contentamento pelo suposto fim de um ciclo histórico, pelo surgimento de um “novo tempo” na história do país.

    Num momento extremamente frágil do ponto de vista político-institucional, em que ameaças de retorno à ditadura pareciam dar sinais constantemente, o adoecimento de Tancredo Neves podia parecer inacreditável. Afinal, com frequência, os principais meios de comunicação o
    representavam como o único responsável pela conciliação nacional, como o construtor de uma “nova era” (a Nova República), que em pouco tempo se iniciaria. Seguem-se ao acontecimento inesperado uma internação que se prolongou por quase 40 dias, marcada por sete cirurgias, reações imponderáveis do seu organismo em momentos simbólicos, como a Semana Santa, e comportamentos bastante surpreendentes (senão excepcionais) daqueles que o circundavam. Como desfecho de uma sucessão de eventos atípicos, sua morte se efetivaria no mesmo dia daquela que vitimou o principal herói da história nacional, o Tiradentes. Aspecto por si só surpreendente, ele torna-se realmente significativo pela indiscutível admiração e constante homenagem que Tancredo Neves prestava àquele que (além de tudo) foi seu conterrâneo. Desconsiderar esse acúmulo de eventos imprevisíveis, em boa parte não plenamente dependentes dos esforços dos sujeitos históricos envolvidos, seria pouco compreender dos acontecimentos daqueles meses de março e abril de 1985.

    Constituir o passado em história, entretanto, não é apenas perceber as peculiaridades de eventos inesperados, sua historicidade, aprisionando a análise nos condicionantes advindos de movimentações pouco controladas pelos sujeitos históricos. Essa é uma dimensão inexorável, impossível de ser desconsiderada. Mas reduzir a abordagem histórica a ela impediria qualquer esforço de explicação do passado. A condição do conhecimento histórico é apostar que nem tudo se reduz ao episódico e ao acaso, ainda que essa seja realmente uma aposta. Por outro lado, tais acontecimentos não podem ser desprendidos das interpretações que os contemporâneos davam a eles. Vários cientistas sociais têm ressaltado a indispensabilidade de considerar qualquer ação como simbólica ou, mesmo, que um acontecimento
    tem sua existência como um evento somente quando é mediado pela cultura. Como destacou Marshall Sahlins (2003b:144), “aquilo que é contingente só se torna plenamente histórico quando é significativo”. Portanto, superar a dicotomia entre comportamento e significado ou entre evento e estrutura pressupõe compreender a dialética entre essas duas dimensões, muitas vezes percebidas de modo simplificado como pares de opostos.

    Nesse sentido, uma pesquisa voltada para o período correspondente à morte de Tancredo Neves não poderia se reduzir à consideração dos elementos atípicos mencionados. Do mesmo modo, ela não deveria se resumir aos atos de consciência dos indivíduos mais próximos das constelações de poder. Aqui, novamente, o episódico tem que ser compreendido dentro de um plano mais geral que, por outro lado, não desconsidere algumas de suas implicações de natureza estrutural. E, de fato, muito já se discutiu sobre os motivos da morte do presidente, na maioria das vezes atribuída às ações indevidas deste ou daqueles agentes históricos.3 Logo depois do acontecimento, por exemplo, os mistérios da prática médica e os desacertos dos especialistas renderam páginas e mais páginas na imprensa e alhures, como se a responsabilização de determinados personagens permitisse compreender o fundamento do ocorrido. Se o paradoxo da disciplina histórica está na impossibilidade de desconsiderar determinadas ações e sua intencionalidade, elas não devem abarcar todo o conteúdo da análise, porquanto mais frutífero é o esforço de compreensão do modo como os significados a elas atribuídos permitem pensar formas específicas de expressão simbólica do lugar do poder como construção imaginária, redimensionando tais comportamentos dentro de um quadro mais complexo de mudanças históricas. Somente assim se pode compreender de forma menos simplificada por que certas discussões ou ações foram tão valorizadas e quais os sentidos que adquiriram num momento muito específico do ponto de vista histórico.

    O estudo da conjuntura que antecedeu à morte de Tancredo Neves visa apenas fornecer elementos à reflexão sobre as reelaborações por que passava sua memória e, assim, abrir caminho ao estudo do objeto principal desta pesquisa: seus funerais, que serão analisados dentro do amplo quadro das homenagens fúnebres prestadas aos presidentes brasileiros do pós-1930. Na verdade, funerais como os de Tancredo Neves são entendidos aqui como eventos que permitem refletir sobre mudanças mais profundas nas formas de ritualização e incorporação do poder que conferem sentido à comunidade política, inclusive no que diz respeito às alterações no significado simbólico da figura presidencial no pós-1930 da história brasileira, tendo em vista que a figura de Getúlio Vargas (não pelo personagem em si, mas por aquilo que ele passou a representar) pode ser tomada como indicativa do surgimento de novos modos de compreensão e representação do significado do chefe do Executivo.Tais transformações, em certa medida, podem ser interpretadas como redefinições sofridas pela cultura política republicana, desde que o conceito seja entendido numa perspectiva atenta às ações dos sujeitos históricos nas constantes disputas e reinvenções das tradições e símbolos que permitem dar significado às instituições e coletivos imaginários pelos quais se manifestam os fundamentos subjetivos da política.

    Uma preocupação igualmente relevante desta pesquisa se relaciona ao modo como os eventos e o tempo podem ser considerados objetos de experimentação da narrativa histórica. A experiência, o vivido, o acaso constituem elementos que, durante longo período, foram praticamente ignorados por um modelo de macro-história muito praticado no século XX. Além de tentar revalorizá-los, fundamentamos a parte central da pesquisa no estudo de eventos que duraram apenas três dias: as intensas homenagens que compuseram os funerais de Tancredo Neves, interpretados numa perspectiva que tentou se aproximar daquilo que Clifford Geertz chamou de “descrição densa” para caracterizar o trabalho antropológico. A ideia, nesse caso, foi pensar tais eventos, cada vez mais, dentro de uma temporalidade subjetiva, naquilo que o culto do corpo do presidente significou em termos de uma expectativa de refundação da República e de um novo sentido projetado para a história nacional.

    Um único acontecimento (a morte de Tancredo Neves), portanto, é compreendido aqui como elemento que articula todas as principais interrogações que atravessam a pesquisa. Resgatados daquilo que os condenava como objetos de uma história “historicizante”, os eventos têm sido revalorizados nos últimos anos, podendo ser pensados como elementos-chave à compreensão de fenômenos históricos que os ultrapassam, desde que abordados numa perspectiva diferenciada. Ou seja, mais do que os eventos em si, a análise recai sobre o modo como eles colocam em jogo elementos estruturais, sobre o significado histórico que adquirem quando apropriados por meio de sistemas culturais. Até porque, é bom destacar, a revalorização dos eventos como objeto de investigação está longe de permear os estudos de certos universos temáticos para os quais os historiadores têm se voltado com mais afinco recentemente.

    Um bom exemplo é o já vasto campo de análise sobre as reformulações por que passa a memória nacional: não parecem muitas as pesquisas centradas no modo como um determinado acontecimento da história recente (que não seja um evento comemorativo) pode estimular a retomada de mitos fundadores da nacionalidade ou a construção de diferentes versões sobre a história do país. Nesse plano, de modo geral, os historiadores têm se preocupado mais com a produção dos próprios historiadores, com a consolidação de determinadas explicações da trajetória nacional formuladas em obras já consagradas dentro do universo letrado, sobretudo do século XIX. Essas interrogações são fundamentais, mas podem ser também redirecionadas à reflexão sobre outros problemas conexos e menos estudados: como um evento da história recente pode estimular a retomada, ou mesmo a reformulação, dessas diferentes versões sobre a história do país? O que um evento como a morte de um presidente pode colocar em jogo em termos daquilo que já parece relativamente consolidado no imaginário sobre a nação? Essas interrogações são importantes, pois remetem ao problema sobejamente mais amplo das relações entre mitos e eventos, para o qual os historiadores talvez devessem se voltar de forma mais recorrente.

    De fato, é no plano das relações entre evento, tempo, memória e mito que esta pesquisa se articula. No que se refere ao acontecimento e seus significados, por outro lado, ela permitirá também colocar em questão as próprias formas da representação histórica, somando-se ao esforço de problematizar os procedimentos narrativos aqui utilizados na “descrição densa” dos funerais presidenciais. Isso porque, logo após a morte de Tancredo Neves, foi elaborada uma narrativa histórica sobre os eventos que, juntamente com outras formas de representação do passado recente, disputava a figuração do “povo brasileiro” como personagem central de uma história que foi imediatamente colocada em questão pelo trágico acontecimento político ocorrido. Trata-se de um momento em que as fronteiras entre o público e
    o privado pareciam mais do que nunca passíveis de reinvenções, tendo em vista que as disputas em torno do corpo presidencial simbolizavam a abertura de espaço para um imprevisível aparecimento da política como lugar de manifestação do dissenso, de modo semelhante ao que categorizaram alguns autores preocupados com as peculiaridades da época democrática (Lefort, 1991a). Tal como certas práticas culturais de ritualização do luto, aquela narrativa histórica parecia tentar amenizar a dor da perda por meio de uma encenação narrativa que, conferindo um lugar ao morto, conformava um sentido para a vida dos vivos, num momento em que a tragicidade dos acontecimentos experimentados tornava particularmente urgente a necessidade de assegurar o futuro das instituições republicanas.

    Nessa inesperada manifestação da política, por outro lado, o surgimento do novo e a imprevisibilidade do passado ganham espaço na própria narrativa aqui produzida, permitindo relativizar o estudo apenas das condições de possibilidade dos eventos em favor de um olhar atento tanto às incertezas daqueles que vivenciaram as experiências aqui reconstituídas quanto àquilo que, tomando o passado como lugar de manifestação da diferença, impede que a história se transforme numa contínua repetição do mesmo. Nessa perspectiva, a conjuntura da morte de Tancredo Neves não configurou apenas um momento propício à acentuação de uma tendência à privatização do poder que a ultrapassava, mas parece ter flexibilizado de forma radical e dramática o espaço de disputa pelas estruturas formais da política, manifestando, num curtíssimo espaço de tempo (da morte e dos funerais presidenciais), algo semelhante àquilo que autores célebres acabaram projetando para uma mais larga duração ao buscar pelas especificidades das democracias modernas.

    Nesse tipo de perspectiva, a análise dos funerais de Tancredo Neves remete não apenas para os discursos sobre a nacionalidade que fizeram parte daquele ritual, mas para as formas de representação do poder que, reconfigurando um imaginário político, se expressavam tanto nas disputas pelo corpo do presidente morto como símbolo do corpo político da nação quanto nos ingredientes narrativos que, funcionando igualmente como práticas de luto, permitiam a figuração poética do “povo brasileiro” em diferentes formas de representação do passado. Assim, a preocupação com a natureza simbólica do poder e suas fundamentações antropológicas, que se manifestavam no novo sentido conferido à figura presidencial, pode ser aproximada do que já foi chamado de uma poética do saber, já que os modos de
    incorporação do poder estão relacionados com formas específicas de subjetivação política, enraizando os próprios discursos que figuram ou colocam em questão entidades que conferem significado à vida coletiva.

    De modo geral, estão aqui delineadas as principais preocupações que atravessam esta pesquisa. Vale a pena, portanto, fazer uma breve apresentação do modo como o texto foi estruturado, dividindo-se em quatro partes. A primeira delas praticamente dá continuidade a esta introdução, sendo importante para uma compreensão mais profunda dos objetivos do trabalho, já que poderemos destacar os fundamentos que amparam o estudo dos funerais de Tancredo Neves e outros importantes personagens políticos. Seus capítulos permitirão historicizar a transformação de determinados tipos de cerimônias fúnebres em eventos de celebração nacional, focando desde aquilo que tornou possível sua ritualização numa “chave de leitura” historicista durante o século XIX até as mudanças que caracterizaram os funerais de certos presidentes brasileiros do século seguinte. Paralelamente, poder-se-á realizar uma análise da historiografia já produzida sobre os funerais de outros personagens do período republicano brasileiro, assim como determinados estudos antropológicos, situando esta
    pesquisa num quadro mais amplo de discussões.

    Na segunda parte, faremos um estudo das reconstruções da memória de Tancredo Neves no período que antecedeu aos seus funerais. Atravessada por uma preocupação de natureza fortemente etnográfica, seu objetivo é mapear um conjunto de ocorrências históricas que permitirão compreender os sentidos singulares que a morte do presidente podia assumir naquela conjuntura específica da história do país. Ela também se fundamenta, portanto, nas potencialidades que a noção de “descrição densa” pode apresentar para uma análise que se pretende fortemente histórica e antropológica.

    Na terceira parte, a mais importante, analisaremos os funerais de Tancredo Neves. Sua abordagem poderá se beneficiar dos capítulos anteriores, com vistas a fundamentar uma interpretação centrada naquilo que uma experiência ritual particular pode dramatizar de certos condicionantes históricos de maior e menor duração dentro da história brasileira. Antes disso, um primeiro capítulo abordará os funerais de presidentes brasileiros do pós-1930, permitindo compreender melhor as mudanças que atravessaram tais eventos-rituais após a morte de Getúlio Vargas e, assim, abrindo caminho ao estudo do caso de Tancredo Neves (que é de fato aquele no qual se poderá perceber as preocupações teóricas que permeiam a pesquisa).

    Já na quarta e última parte analisaremos três diferentes formas de narrativa que, ao tematizarem a morte de Tancredo Neves, conferiam um sentido determinado à história nacional, permitindo colocar em questão as próprias formas da representação histórica. No texto introdutório de cada uma das quatro partes do livro, por fim, o leitor poderá encontrar uma apresentação mais pormenorizada dos problemas ali enfrentados.

     

    O corpo da Nova República: funerais presidenciais, representação histórica e imaginário político

    Douglas Attlia Marcelino

    Impresso: R$55

    Ebook: R$39

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