imprensa brasileira

  • Postado por editora em em 14/09/2017 - 15:57

    O novo livro da professora Alzira Alves de Abreu, historiadora e estudiosa da imprensa brasileira, traz uma compilação de 12 artigos que desvelam alguns dos caminhos percorridos pela atividade jornalística no país nos últimos 50 anos, sobretudo durante o regime militar e a redemocratização.

    Os textos apresentam, em grade parte, as profundas transformações técnicas e profissionais ocorridas nas redações no período de censura aos meios de comunicação.

    O lançamento do livro Desafios da notícia: o jornalismo brasileiro ontem e hoje será no dia 20 de setembro, às 18h.

    Antes dos autógrafos, nós, da Editora FGV, planejamos um bate-papo sobre as histórias da imprensa brasileira com a professora Alzira, que terá abertura da professora Marieta de Moraes Ferreira e participação da professora Joëlle Rouchou.

    Confira a introdução da obra e, na sequência, mais informações sobre o evento.

    "A intenção que nos fez preparar este livro foi a de trazer ao leitor textos sobre jornalismo e jornalistas, apresentados em seminários e congressos de história e ciências sociais, ao longo dos últimos anos, e publicados nos anais desses eventos.
    O objeto de nossas pesquisas concentrou-se, em grande parte, no período da ditadura militar (1964-85), marcado pela censura aos meios de comunicação. Ao mesmo tempo, foi o momento em que a mídia passou por grandes transformações técnicas, com novas concepções redacionais, gráficas e editoriais, e ocorreram mudanças na formação e na atuação dos jornalistas. Os textos ora apresentados refletem esse momento histórico.
    Decidimos dar maior divulgação aos temas tratados, o que permitirá ao leitor acompanhar as etapas distintas de produção do jornalismo impresso, até chegar ao jornalismo eletrônico e abrir possibilidades para novos estudos e reflexões.
    O primeiro dos 12 textos selecionados aborda a introdução da informação digital, o que determinou mudanças profundas na mídia, tanto na forma de apresentar as notícias quanto em sua distribuição. Esse jornalismo exige um novo tipo de jornalista: ele deve ter conhecimento de diversas áreas de mídia e saber utilizar diferentes formatos e linguagens. O público do jornalismo digital é em geral mais jovem. Para discutir o tema, ouvimos os jornalistas.
    O segundo texto discute o jornalismo investigativo, que se tornou um modelo para os profissionais brasileiros a partir dos anos 1980. No fim do regime militar (1985) e durante a redemocratização do país, a mídia passou a dar grande ênfase ao jornalismo investigativo e, em especial, ao “denuncismo”. Ao colaborar na derrubada do regime autoritário, a imprensa ganhou credibilidade e legitimidade no público leitor e buscou agir para desvendar mentiras e mostrar a disfunção da democracia. A investigação levou ao excesso de denúncias envolvendo políticos, empresários, policiais, militares e outros, em negócios considerados ilícitos e que merecem o exame da Justiça e da polícia.
    Em seguida, apresentamos questões sobre acontecimento e mídia, em que se ressalta a importância de analisar o acontecimento nos momentos de crise política. O historiador, ao reconstruir o passado e trabalhar com o presente, usa como fonte a imprensa.
    Como forma de trabalhar e criticar fontes históricas, é fundamental entender o processo de construção e narração dos fatos e acontecimentos pela imprensa.
    O jornalismo de utilidade social é um dos caminhos que devem ser explorados na análise da imprensa brasileira na fase de pós-redemocratização do país. O conceito de utilidade social identifica a ação dos jornalistas como tendente a servir aos interesses concretos dos cidadãos. Mas esse jornalismo estaria em contradição com as exigências do profissionalismo reivindicado pelos próprios jornalistas, para os quais, no exercício da profissão, devem prevalecer valores não partidários, não ideológicos e uma atuação distante dos acontecimentos. O jornalismo de “utilidade social”, no Brasil, se manifesta por meio de várias alternativas, entre elas a de prestador de serviços ao público — os jornais abriram espaço para queixas e reivindicações dos leitores.
    Outro tema discutido no livro é o papel da mídia na construção da cidadania. A mídia é hoje uma das principais forças que interferem no funcionamento e na transformação da sociedade. A ação da mídia está voltada para servir aos interesses concretos dos cidadãos. A informação é um dos elementos fundamentais para que o indivíduo exerça plenamente seus direitos. A informação transmitida pela mídia permite ao cidadão alargar seu conhecimento sobre as questões públicas. Isso faz com que a mídia influencie a formação do pensamento político e social. Existem, porém, limites para a atuação da mídia na construção da cidadania; é o que buscamos mostrar no texto em pauta.
    Algumas perguntas são indicadas no estudo sobre a forma como o jornalista obtém informações por intermédio de fonte privilegiada, quando o nome do informante permanece em sigilo. A partir de rápidas considerações sobre o problema, chega-se à questão do uso das informações transmitidas sigilosamente para o jornalista e que serão adotadas como fonte de pesquisa pelo historiador, como um documento histórico.
    A análise da atuação da mídia durante o regime militar (1964-85) permite entender a reestruturação das empresas jornalísticas e a decisão de criar as editorias de economia, utilizadas pelos jornalistas como ambiente de resistência à ditadura. Tais editorias foram substituindo o noticiário político, que estava sob forte censura. Para os militares, o espaço dedicado à economia era o de menor risco, porque as informações eram basicamente sobre o setor público e os dados e índices eram oficiais, fornecidos por agências do governo. O estudo que realizamos sobre o tema, especialmente sobre o jornal O Globo, permite entender a orientação ideológica dos jornalistas. Por outro lado, o comportamento dos “donos dos jornais”, e no caso específico de O Globo, se mostra distante daquele que lhes é normalmente atribuído.
    As transformações ocorridas na imprensa brasileira durante as últimas décadas determinaram não só mudanças na estrutura empresarial e na gestão administrativa, como grandes investimentos em equipamentos e a introdução de novas técnicas, o que forçou o jornalista a se adaptar aos novos tempos econômicos, políticos, sociais e culturais. O texto sobre os jornalistas brasileiros na transição para a democracia analisa o comportamento desses profissionais e identifica como eles se comportaram e que estratégias empregaram para que determinadas políticas pudessem emergir na fase de transição e consolidação do regime democrático.
    Em continuidade ao estudo das mudanças no Brasil ao longo dos anos 1970-90, analisamos as motivações políticas que levaram muitos jovens ao jornalismo, o que era visto como uma forma de exercer engajamento político. Com a volta ao regime democrático, a imprensa passou a valorizar os aspectos mais técnicos, mais profissionais do jornalismo, em detrimento de ideologias e da política.
    Foi também o momento de desilusão política com o socialismo, com a desagregação do regime comunista, com o desprestígio da ideologia marxista e com o fim das utopias de construção de um mundo socialista mais justo. O jornalismo praticado hoje é, em geral, apartidário, despolitizado e pluralista.
    Uma análise das relações entre a mídia e o Ministério Público é um dos temas ao qual dedicamos um estudo incluído neste livro.
    Ao investigarmos o papel social que os procuradores de Justiça e os jornalistas se atribuem e desempenham, procuramos lançar luz sobre a contribuição desses atores para a construção e/ou ampliação da cidadania. Para garantir uma atuação independente e enfrentar as deficiências ligadas ao udiciário e à polícia, os procuradores buscam se articular por meio da mídia. Os jornalistas, por outro lado, buscam os procuradores para obter informações sobre os processos em investigação, informações que muitas vezes não podem ser reveladas, já que comprometeriam o andamento do processo. Procuramos mostrar os problemas e os conflitos que surgem nessa relação.
    Ainda um tema que merece ser aprofundado é o papel da mídia diante dos mecanismos de repressão e censura instalados no regime militar. O texto aborda o papel que a revista Veja desempenhou no processo de denúncia à censura, utilizando figuras de diabos como solução para, diante das partes censuradas, fechar a edição. Mas a “cultura demoníaca” impediu a revista de informar os fatos e os acontecimentos mais importantes do período.
    Para finalizar, em “O jornalismo como objeto de estudo” discutimos a atuação da mídia no tratamento dado aos acontecimentos e a ausência de estudos sobre seu papel histórico. Até recentemente a mídia não recebia a atenção dos estudiosos. Buscar uma explicação para essa ausência é um dos objetivos do texto. A mídia era vista como formada por agentes subordinados em relação a suas fontes, como simples reprodutora de um discurso proveniente de outros atores e instituições. Até os anos 1970, historiadores e cientistas sociais usaram as informações da mídia para construir suas análises sobre diferentes temas, ou seja, a mídia como fonte histórica. Foi a partir dos anos 1980-90 que historiadores, cientistas sociais e estudiosos da mídia se interessaram em focalizar a forma de construir a notícia, a linguagem, a modernização das redações e das empresas midiáticas. Só recentemente foram iniciados estudos sobre o papel dos jornalistas e dos repórteres nos acontecimentos históricos, bem como sobre sua formação.
    Convém fazer duas observações sobre o material aqui reunido. A primeira é que alguns trechos se repetem ao longo das páginas: como os artigos foram redigidos, nos últimos anos, para diferentes públicos e a respeito de questões sobre o mesmo tema de análise, tornou-se necessário reiterar determinadas explicações sobre a atuação dos jornalistas e do jornalismo. A segunda é que certas informações constantes nos textos (a situação profissional de alguns jornalistas citados, por exemplo) referem-se à época em que foram escritos. Como as datas abrangem um período de 20 anos (de 1996 a 2016), é importante assinalar esse decurso temporal."

  • Postado por editora em Atualidades, Destaques, Eventos em 23/10/2015 - 11:00

    A marca distintiva da trajetória e atuação de Gustavo Corção é a de “escritor engajado” do catolicismo, caracterização que remete a dois temas caros às ciências sociais: religião e função dos intelectuais.

    Um dos mais importantes nomes do laicato brasileiro, Corção, simpático ao marxismo e homem de ligações com militantes comunistas antes de sua conversão ao catolicismo, exerceu o papel de intelectual da ética de convicção católica.

    Precisamente, entre as funções clássicas dos intelectuais está a do persuasor, ou seja, aquele cuja obrigação é revelar o que está desconhecido, preservar os valores universais e organizar e conduzir a sociedade. Essa “missão do sábio” foi realizada por Corção na literatura, em palestras e aulas, nos artigos da revista A Ordem e em espaço cativo na imprensa brasileira, como nos jornais Diário de notícias e O Globo.

    Na obra O bom combate: Gustavo Corção na imprensa brasileira (1953-1976), a autora Christiane Jalles de Paula percebe Corção enquanto católico intelectual, nesta ordem, evidenciando e articulando a conjuntura política desses anos à moral católica.

    O recorte da obra é delimitado sobre as crônicas publicadas nos dois jornais cariocas, considerando o marco inicial o ano de 1953, quando Corção torna-se articulista do Diário de Notícias, jornal de expressiva circulação e público diversificado; e o marco final, o ano de 1976, quando, já em O Globo, ele teve sua pena “quebrada” pela hierarquia e foi ameaçado de excomunhão, sendo, portanto, deslegitimado perante a comunidade católica.

    O livro apresenta aspectos de visão institucional da Igreja Católica da época, reativa à modernidade, ao lado dos esforços da hierarquia para recuperar sua influência perdida; aborda a entrada de Corção nesse mundo e sua atuação conservadora, que se volta progressivamente para os perigos do comunismo anos antes do golpe de 1964; e discorre sobre a militância de Corção por uma ordem política autoritária e sua atuação como “ideólogo” do fechamento total do regime militar.

     

    Conversamos com Christiane Jalles, que respondeu a 4 perguntas nossas. Confira:

     

    Gustavo Corção pode ser considerado um formador de opinião? Qual foi sua real importância na imprensa brasileira?

    Sim, Gustavo Corção foi um dos mais influentes leigos católicos na imprensa brasileira na segunda metade do século XX. Ele foi um formador de opinião fundamental do catolicismo que reagiu ao Concílio Vaticano II e das ideias políticas conservadoras no Brasil.

    De acordo com a introdução da  obra, Corção é abordado “enquanto católico intelectual, evidenciando e articulando a conjuntura política desses anos à moral católica.” Qual foi sua principal contribuição nos campos político e social?

    Gustavo Corção contribuiu decisivamente na propagação da reação às novidades do Vaticano II e no plano político e social defendeu uma ordem social baseada em valores católicos e aristocráticos.

    Como sua luta a favor do golpe militar no Brasil pode ser atribuída à sua conversão ao Catolicismo e, ao mesmo tempo, à sua postura simpática ao Comunismo?

    A proximidade de Gustavo Corção com o comunismo foi anterior à conversão ao catolicismo. Depois de abraçar a fé católica, o comunismo passa a ser o principal inimigo de Corção. É um catolicismo anticomunista que fundamenta todas as opiniões e que lhe faculta o papel de formador de opinião.

    Qual o principal objetivo desta obra?

    O principal objetivo do livro é trazer um estudo crítico para o público das crônicas de Gustavo Corção na imprensa. Escritor engajado do catolicismo no Brasil, Gustavo Corção atuou, para o bem e para o mal, como um cruzado. Hoje, quando as radicalizações políticas voltam a dominar o cenário político este estudo nos permite iluminar as consequências possíveis de tal radicalismo.

     

    O lançamento será dia 3 de novembro, às 19h, na Blooks Livraria. Todos convidados!

     

     

    O bom combate: Gustavo Corção na imprensa brasileira (1953-1976)

    Autora: Christiane Jalles de Paula

    Impresso: R$35

    Ebook: R$25

    Arquivos:
Subscrever imprensa brasileira