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  • Postado por editora em em 10/01/2017 - 12:09

    Quase quatro anos após o anúncio da morte de Hugo Chávez, ocorrida em 5 de março de 2013, sua ausência, somada às especulações sobre sua morte prematura, agitou as redes sociais e as mídias nacional e internacional com projeções das mais variadas sobre o que aconteceria com a Venezuela se o presidente realmente viesse a falecer. Sua morte representaria o fim da chamada Revolução Bolivariana? O chavismo teria condições de sobreviver sem Chávez?

    A obra Estado e democracia nos tempos de Hugo Chávez (1998-2013), que acabamos de publicar, analisa a atuação do governo de Chávez e as profundas transformações do Estado Venezuelano a partir da construção de uma democracia que transborda a dimensão representativa para conceder ao povo uma atuação participativa e protagônica nas decisões políticas, através do chamado “socialismo do século XXI”.

    A pesquisa da historiadora Mariana Bruce analisa a relação entre a ação social organizada, herdeira de um legado histórico e de uma prática comunitária anterior ao governo de Hugo Chávez, e o poder político como espaço de disputa e, ao mesmo tempo, de construção social, apesar das contradições dos interesses em jogo e dos desafios de um processo em construção e reinvenção permanentes.

    O prefácio do professor Carlos Walter Porto-Gonçalvez nos indica, de forma precisa e elucidativa, a grande contribuição desta pesquisa. Confira:

    "Num momento em que vivemos uma grave crise de legitimidade dos sistemas políticos em todo o mundo, este livro de Mariana Bruce é inspirador. Fugindo do caráter normativo do que seja a Revolução ou a Democracia, a autora nos abre caminhos extremamente férteis para pensar/agir os contraditórios processos emancipatórios em curso na América Latina. Ao recusar a ideia de “Revolução é…” ou “Democracia é…”, que ao congelar esses conceitos no mundo sobrelunar das ideias instaura uma ditadura do pensamento, a autora nos convida a mergulhar no terreno movediço da história em que a vida teima em ser reinventada na perspectiva emancipatória pelos grupos subalternizados. E o faz analisando uma experiência na qual a riqueza do que vem sendo vivido tem sido ofuscada pelo maniqueísmo teórico-político, mais correto seria dizer ideológico, com que vem sendo abordada: a Venezuela.

    Distinguir o popular do populista; o poder constituinte do constituído; a complexa relação líder/povo — tudo isso é analisado com uma pesquisa refinada na qual, mais que explicações, a autora nos brinda com as profundas implicações da invenção democrática por que passa esse país, muito além do maniqueísmo que não só empobrece sua compreensão, como, mais grave ainda, nos impede de ver a importância dessa experiência para o pensar/agir emancipatório, sobretudo depois da queda do Muro de Berlim. Afinal, depois de vermos uma revolução como a russa, que teve como palavra de ordem “todo poder aos sovietes”, cair após 80 anos sem que nenhum soviete houvesse para defendê-la, tornarmos a ver uma história em que a comuna volta a ser a busca do autogoverno, como na Venezuela, não é uma questão qualquer. E a autora, com um estudo denso, e de dentro de um desses conselhos/dessas comunas, nos mostra como se desenvolve esse processo em que um líder popular no sentido mais forte da palavra, talvez por suas melhores qualidades, desempenha um papel contraditório nesse caminho para a emancipação.

    Vale a pena ler com atenção, até porque em cada canto da América Latina/Abya Yala, tal como um fractal, há um pedaço de cada um de nós."

    Estado e democracia nos tempos de Hugo Chávez (1998-2013)

    Mariana Bruce

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