História na rede

A História não é mais a mesma. O conteúdo estático, impresso como verdade absoluta em livros pesados (e que, muitas vezes, levavam anos para ter uma atualização), ganhou a internet. Com direito a twitter, Facebook e até rede social – como no caso do Café História. O espaço, criado em 2008 pelo jornalista e historiador Bruno Leal, reúne conteúdo produzido pela equipe e a colaboração dos usuários. Mais de 47 mil pessoas compartilham vídeos, fotos, discussões e artigos, abordando de forma muito mais dinâmica e democrática assuntos do Brasil e do mundo. A principal vantagem de tudo isso? Multiplicar as possibilidades de escrita e interpretação da história.

Bruno respondeu a 3 perguntas nossas. Confira:

1. Como a internet e, em especial, as mídias sociais influenciam o registro e a divulgação da história?

Enumero três grandes mudanças: a) As novas mídias estão contribuindo para uma aceleração da história. Os jornais online, os blogs e as redes sociais relatam um número quase infinito de eventos, segundo a segundo. Ora, isso provoca uma mudança no status da categoria “acontecimento”, uma expansão daquilo que Benedict Anderson chamava de “comunidades imaginadas”. E a nossa comunidade imaginada de hoje vive a história intensamente, globalmente, mais do que qualquer outra civilização. Não à toa, nunca se discutiu, pesquisou, escreveu e publicou tanta história contemporânea.

b) As novas mídias estão incrementando a produção e a disseminação do conhecimento histórico. Para explicar isso, invento uma historinha: uma instituição pública de Londres digitaliza um fundo histórico inteiro. Mais de 5 mil documentos, que podem ser vistos e copiados gratuitamente por qualquer internauta. E mais: é possível fazer busca por palavra-chave nesse fundo digitalizado. Resultado: a publicação do fundo na internet democratiza o acesso à informação; gera cópias que impedem a perda ou o esquecimento do documento; possibilita mais estudos sobre um mesmo assunto; poupa tempo e favorece novos olhares ao pesquisador; permite que historiadores de diferentes lugares do mundo abordem objetos de estudo que antes lhes eram vetados, fosse por custos ou por distância.

c) As novas mídias fortalecem o espírito de uma comunidade especializada. Ao usarem blogs, redes sociais, e-mails e outras ferramentas online, os historiadores têm à disposição uma inteligência coletiva poderosa, que é a própria comunidade de historiadores, antes não tanto articulada, organizada, conhecida.

2. Ser historiador, hoje, é uma boa ideia?

Ser historiador hoje não é uma boa ideia. É uma ótima ideia (risos). Todas essas transformações, todos esses desafios fazem da história uma área muito mais interessante. O historiador não é mais o sujeito associado somente ao velho, ao que é do passado, habitante do arquivo. Ele também deve ser visto como aquele que: discute os processos complexos do presente; compartilha suas descobertas não só com a comunidade científica (mas também com os não historiadores); e se apropria das novas mídias para alcançar melhores resultados e provocar reflexões. O historiador hoje trabalha em muitas frentes: é pesquisador, professor, consultor, empresário, correspondente, comentarista, blogueiro.

 3. Como você imagina o ensino de história daqui a 50 anos?

Dizem que o historiador é o profeta do passado. Pensar o futuro não é exercício assim tão comum para nossa “espécie”. Mas vamos lá: em 2062 eu vejo (ou desejo?) o ensino de história preocupando-se menos com o factual e mais com as relações, com as conjecturas, com a problematização dos fatos; o professor de história mais interdisciplinar, multimídia e (claro!) ganhando um salário muito mais justo; uma sala de aula sem quadro-negro e sem carteiras viradas para um mesmo lugar; alunos interessados no que está sendo discutido, não apenas porque “vai cair na prova”, mas porque isso faz muito sentido para suas vidas, faz parte do seu mundo.

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Este conteúdo foi postado em 25/10/2012 - 17:33 categorizado como: Atualidades, Entrevistas. Você pode deixar um comentário abaixo.

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