Nicolau Maquiavel

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 22/07/2015 - 12:53

    Maquiavel é um dos autores mais lidos e citados por pensadores e por políticos do Ocidente, em geral associado a atributos que continuam a gerar escândalo e a alimentar a hipocrisia, com a legitimação do recurso a quaisquer meios que sejam eficazes para a realização de fins desejados. Daí, a associação do maquiavelismo à sumária frase “os fins justificam os meios”, como resumo da doutrina de Maquiavel - expressão que, de acordo com os organizadores, nunca foi usada por ele, mas lhe é amplamente associada na linguagem comum.

    Maquiavel no Brasil, obra organizada pelos professores Rodrigo Bentes Monteiro e Sandra Bagno, trata dos percursos da obra deste florentino, desde os primeiros movimentos da colonização no século XVI até os dias de hoje.

    Assista à série de 4 vídeos produzidos pela Companhia das Índias (UFF) sobre a obra, com os professores Rodrigo Bentes Monteiro, Gustavo Kelly de Almeida, Angela de Castro Gomes e Arthur Weststeijn.

    Em seguida, confira a apresentação do livro.

     

    Vídeo #1 | Memórias da revolta | Rodrigo Bentes Monteiro

    Vídeo #2 | Do paço ao castelo | Gustavo Kelly de Almeida

    Vídeo #3 | Vargas e Maquiavel | Angela de Castro Gomes

    Vídeo #4 | Nassau e Maquiavel - Arthur Weststeijn

     

     

    "Mesmo sendo um dos autores mais acometidos na história ocidental por diferentes formas de censura, desde o Quinhentos o florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) tornou-se uma referência imprescindível. Seu O príncipe mudaria a maneira de encarar o que os gregos antigos chamavam de ?? ????????, ou seja, as questões ligadas à política. Entre várias interpretações, ele seria reconhecido como o fundador da ciência política moderna, com suas obras revelando-se mina ainda hoje inesgotável de reflexões e debates. Como poucos escritos na história do Ocidente, O príncipe, junto a livros como os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e Da arte da guerra, alimentou ao longo dos séculos, disfarçada ou abertamente, uma vasta produção de análises e refutações, mas principalmente de grandes polêmicas. Embora Maquiavel tenha ganhado novos rumos, marcando de forma indelével os âmbitos político e militar em escala universal, bem como os meios literário, teatral, filosófico e historiográfico, e mais especificamente os ligados à realidade linguística e cultural, somente após três séculos a Itália seria politicamente unificada — algo por ele tão almejado.
    Ao aproximar-se a efeméride dos 500 anos do primeiro prenúncio da escrita d’O príncipe — encontrado na carta escrita por Maquiavel em 10 de dezembro de 1513 ao amigo Francesco Vettori, anunciando seu trattatello —, o professor Artemio Enzo Baldini, da Universidade de Turim, criou o projeto de pesquisa internacional Machiavellismo e Machiavellismi nella tradizione politica occidentale. Um de seus objetivos era ampliar o espectro tradicionalmente interessado nas investigações acerca do autor florentino.1 Procurou então envolver novas áreas linguísticas e geográficas, para além dos países europeus que, grosso modo, desde o Quinhentos lidavam de modo mais ou menos velado com seu pensamento e obra, que então circulavam de vários modos. Na América Latina, o modesto número de estudos sobre Maquiavel em língua portuguesa até o século XX poderia levar a crer que o Brasil tenha permanecido mais periférico ou menos influenciado pelo debate em tela.
    Ângela Barreto Xavier, Giuseppe Marcocci, Rodrigo Bentes Monteiro e Sandra Bagno foram honrados com um convite de Enzo Baldini para estudar quais maquiavelismos possivelmente marcaram as tradições históricas, culturais e linguísticas de Portugal e do Brasil. Países por muitos aspectos hoje tão próximos, mais ainda no tempo em que a monarquia portuguesa apresentava uma forte dimensão ultramarina, ou mesmo no século XIX, com a dinastia de Bragança perpetuada no Brasil imperial. Partindo de um quadro de pesquisa e informações bastante escasso, no tocante aos vestígios da presença e da recepção de obras de Maquiavel entre os séculos XVI e XIX, sobretudo no Brasil, foram organizados dois colóquios, no Rio de Janeiro e em Lisboa.
    Aos poucos, os investigadores perceberam que o quase vacuum era na verdade um plenum. Pois o aparentemente vazio poderia ser repleto de uma tipologia específica de maquiavelismo, elaborado com sabedoria em Portugal a partir da década de 1530, num momento ainda de livre circulação das obras maquiavelianas. Logo após, ele seria metabolizado no contexto da censura formal e católica, em torno de ideias sobre como conquistar e manter o poder, no conjunto de uma monarquia detentora de vastas conquistas coloniais — a propósito, das mais duradouras entre os impérios nascidos na Época Moderna. Portanto, trata-se de um maquiavelismo destinado a arraigar-se sem que (quase) ninguém pudesse materialmente ler O príncipe. Disfarçado, ele ficaria implícita e longamente associado, na consciência linguística e cultural lusófona, a conceitos como simulação/dissimulação — o campo semântico lexical escolhido pelos organizadores para representar uma das facetas do maquiavelismo luso-brasileiro.
    O presente volume apresenta um dos primeiros resultados e algumas hipóteses de pesquisa sobre a presença e as possíveis formas de recepção das obras maquiavelianas no Brasil. Entretanto, muito resta a fazer, pois, além dos documentos dispostos em bibliotecas e arquivos portugueses e brasileiros, ainda por serem estudados, há os pertinentes a outros países de língua portuguesa. Segue-se, assim, uma adaptação em forma de proêmio — lembrando os livros de Maquiavel — de uma conferência do professor Baldini, bem como um estudo introdutório ao conteúdo específico do livro."

     

    Maquiavel no Brasil: dos descobrimentos ao século XXI

    Orgs.: Rodrigo Bentes Monteiro e Sandra Bagno

    Impresso: R$49

    Ebook: R$35

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