O presente livro, dedicado à análise da evolução das historiografias portuguesa e brasileira no século XX, resulta da colaboração entre uma instituição portuguesa, o Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20/UC) e uma organização brasileira, o CPDOC/FGV. De um lado temos uma entidade que mistura a longa duração da Universidade de Coimbra com a relativa novidade de uma unidade de investigação financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia; do outro um centro de documentação e investigação de excelência que se transformou, também, numa escola de ciências sociais no âmbito de uma Fundação que é, também, uma instituição de ensino superior.
Sem a pretensão de se apresentar como “a história” das historiografias portuguesa e brasileira no século XX, esta obra integra textos de vários historiadores e outros cientistas sociais de ambos os países que propõem leituras diversas e cruzadas sobre a relação entre poderes (político-institucionais, religiosos, acadêmicos) e produção de discurso historiográfico, acerca da influência exercida por ambientes intelectuais estrangeiros — nomeadamente francês e alemão, britânico e norte-americano —, sobre a relevância social de tecnologias derivadas da historiografia (didática da História, património cultural, museologia), acerca de temáticas particularmente atuais e/ou polêmicas da história de Portugal e da história do Brasil (salazarismo e getulismo, colonialismo e pós-colonialismo, ditadura e transições da e para a democracia, empresas e empresários).
A obra Historiografias portuguesa e brasileira no século XX: olhares cruzados, coordenada pelos professores Américo Freire, responsável pelo 'olhar brasileiro', e João Paulo Avelãs Nunes, que registrou o 'olhar lusitano', será lançada na próxima quarta-feira, dia 24 de setembro, às 18h30.
Confira alguns trechos da introdução, que mantém particularidades da ortografia portuguesa, assim como toda a obra:
"Depois de Portugal e o Brasil terem adoptado regimes democráticos, verificou-se um reforço dos níveis de aproximação dos respectivos sistemas de ensino superior e das correspondentes comunidades científicas. Inicialmente fruto de iniciativas individuais, o processo em causa acabou por envolver também instituições de ensino superior e unidades de investigação, o poder político e empresas. Apesar de ser ainda possível aprofundar e aperfeiçoar significativamente este espaço de cooperação, muito foi já concretizado aproveitando, quer a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia/União Europeia, quer a afirmação do Brasil como uma “potência emergente”.
Em termos mais específicos, salienta-se a importância da história da historiografia e da história das tecnologias associadas como instrumento de auto-regulação deontológico-epistemológica e teórico-metodológica, na qualidade de vector de avaliação do grau de autonomia dos historiadores e de outros profissionais (da ciência e da tecnologia) face ao Estado e a entidades da “sociedade civil”. Dada a grande variedade de soluções político-ideológicas adoptadas, em Portugal e no Brasil, durante o século XX — regimes liberais conservadores, demoliberais, autoritários, totalitários e democráticos —, estar-se-ia perante um campo de observação particularmente desafiante.
Numa conjuntura em que se assiste em ambos os países — à escala global — a um a sistemática desvalorização da “utilidade prática” da historiografia, de outras ciências sociais e das tecnologias a elas associadas (o “presente contínuo” de que falava Eric Hobsbawm) visou-se, também, combater essa tendência. Procurou-se demonstrar a centralidade das interpretações acerca da realidade social passada, quer na definição de estratégias — operatórias ou ineficazes, sustentáveis ou auto-destrutivas, tendencialmente justas ou injustas — de governação das sociedades actuais, quer na estruturação de mundividências e de ideologias muito ou pouco alienantes e sectárias."
Historiografias portuguesa e brasileira no século XX: olhares cruzados
João Paulo Avelãs Nunes, Américo Freire
R$65
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