Este livro tem por objetivo trazer informações e provocar reflexões sobre um tema ainda pouco estudado no país: o processo de transformação das instituições de educação superior em grandes grupos educacionais com atuação nacional e internacional.
Na década de 1990, é gestada uma revolução no setor de educação superior brasileiro, tornando-o mundialmente singular. Exemplo disso é que o Brasil tem o maior grupo econômico em educação superior do mundo. Da filantropia às empresas de capital aberto, o Brasil se destaca como modelo de solução para inclusão na educação superior a partir das empresas de educação com capital aberto e listadas na bolsa de valores, bem como dos grandes grupos internacionais.
Este livro vai se deter na análise dos grupos educacionais de capital aberto listados na bolsa de valores, considerados nacionais. Está dividido em cinco capítulos com alguns subcapítulos e uma conclusão.
No primeiro capítulo, fazemos uma contextualização do período e das decisões históricas que facultam a operação no sistema educacional brasileiro de instituições com fins lucrativos, capital aberto e listadas na BM&FBovespa. Será evidenciado o modo como essa entrada modifica estruturalmente todo o sistema, invertendo a lógica de grande demanda por vagas nos cursos superiores por parte dos possíveis alunos e baixa oferta de vagas por parte das instituições de ensino tradicionais, transformada em uma realidade oposta de maior oferta de vagas do que demanda por parte de possíveis alunos.
No segundo capítulo, abordamos a descoberta de um novo negócio por parte dos private equities: a educação. Verificaremos o impacto disso em todo o sistema, as consequências de haver instituições que não se atualizaram em termos de gestão e os grandes grupos educacionais S.A., listados no chamado “novo mercado” (dimensão da BM&FBovespa que exige o cumprimento das melhores práticas de gestão vigentes). Segue-se um breve relato sobre a constituição de cada um dos grupos de educação S.A. no Brasil: Anhanguera, Kroton, Estácio Participações, Ser Educacional, Anima Educação.
Há ainda duas tabelas sínteses: a primeira trazendo a visão dos grupos citados acima, suas respectivas IPOs (initial public offers, isto é, ofertas públicas iniciais), bem como a existência ou não de controlador no grupo; a segunda demonstra o resumo das fusões e aquisições no momento em que ocorreram. Discorremos também sobre a tentativa de fusão entre Kroton e Estácio, que criaria a gigante da educação superior com 1,5 milhão de alunos.
No terceiro capítulo, focamos na distorção entre ensino público e privado no Brasil, com suas consequências. Abordamos a baixa taxa líquida da educação superior, os programas do governo para tentar melhorar essa realidade e atingir as metas do Plano Nacional de Educação para 2024, a importância do financiamento estudantil feito pelo Estado e os preconceitos por serem os grupos S.A. os principais beneficiários dos mesmos, além dos alunos. Trazemos um quadro síntese mostrando o custo do Estado com os alunos nas universidades federais e com os programas de bolsa e financiamento.
No quarto capítulo abordamos a transformação que o ingresso dos private equities protagonizam no sistema por dentro das instituições adquiridas, implantando os conceitos de governança, compliance e novas maneiras de apurar resultados, com exemplos de DREs. Analisamos as mudanças em todos os setores – planejamento estratégico, meritocracia, metas, remuneração variável, marketing, a introdução da gestão de risco nas instituições pertencentes aos grupos S.A. etc. Expomos um caso de um grupo S.A. que leva metodologia de gestão até a dimensão acadêmica, fazendo ainda um quadro síntese dos modelos de gestão adotados tradicionalmente e dos introduzidos pelos grupos S.A. Discutimos, por fim, a pertinência das transformações, bem como ação e reação dos atores nelas envolvidos.
No quinto capítulo, trabalhamos as possibilidades de inclusão e formação de sujeitos a partir da educação por meio da mediação de novas tecnologias. Analisamos a inclusão de um novo ator no processo de ensino/aprendizagem – o gestor –, possibilitada pela utilização dessas novas tecnologias. Algumas questões abordadas no capítulo são: o desafio do Brasil para a inclusão de massa nas universidades, a hegemonia dos grupos S.A. na utilização da tecnologia para inclusão na educação, os limites conceituais dessa novidade e ainda o entendimento equivocado do professor como custo, em vez de principal ativo das instituições de ensino S.A.
Na conclusão, retomamos pontos relevantes como a pertinência de o ensino superior ser vocativo, discussões sobre se a figura do aluno pode ser vista e entendida como cliente e o papel das universidades S.A. no futuro da educação brasileira.
Este livro é, ainda, composto por um glossário de siglas utilizadas no texto, uma bibliografia básica citada ao longo do texto e o breve currículo de seus autores.
O lançamento será dia 31 de agosto, Na livraria da Travessa de Ipanema, às 19h.
Todos convidados!
Universidade S.A.: as companhias de capital aberto da educação superior no Brasil
Paula Caleffi e Alexandre J. L. Mathias
Coleção FGV de Bolso | Série Economia & Gestão
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