A Editora FGV renovou o clássico 'História e historiadores', da professora Ângela Maria de Castro Gomes, e trouxe de volta sua versão impressa, muito procurada no período em que esteve esgotada.
Além de uma nova capa na edição original, a versão eBook também está disponível em nosso site.
Confira um trecho da apresentação da obra escrito por sua autora:
... o texto que se segue procura delinear as interpretações de história do Brasil que foram elaboradas e divulgadas nesse período ('Estado Novo'), detendo-se tanto nos agentes e instrumentos mobilizados, quanto na observação dos conteúdos propostos como informações e valores de uma cultura histórica nacional. Foram privilegiados, dessa forma, os pontos fortes e de convergência detectados ao longo da análise, mas, como seria de esperar, existe, na construção estado-novista, uma série de fissuras, tensões e oposições.
Em íntima conexão com esta primeira opção, procurei, como fontes prioritárias, não os textos voltados para um público específico abarcado pela política educacional formal do Estado. Além disso, os livros didáticos e mesmo os livros “não didáticos” dos historiadores, de alguma forma, embora ainda incipiente, têm sido contemplados com estudos recentes. Escolhi então trabalhar com textos destinados a um grande e heterogêneo público — daí os periódicos —, que excediam o escopo da educação formal e caracterizavam o escopo da política estado-novista no campo da história, que também envolvia iniciativas como a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), só para dar um exemplo de sua amplitude e vinculações.
A seleção das fontes é, por conseguinte, modesta numericamente, procurando-se compensá-la com um tratamento cuidadoso quantitativa e qualitativamente. Elas são o suplemento literário do jornal A Manhã, Autores e Livros, e a revista mensal de estudos brasileiros, publicada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), Cultura Política, ambos circulando entre 1941 e 1945.
A estrutura do texto compõe-se de seis capítulos, sendo o primeiro de introdução e destinado a situar a linha interpretativa de toda a análise, e o último de finalização, tão somente para elencar e destacar pontos mencionados ao longo da exposição. São capítulos curtos, estando o trabalho concentrado nos outros quatro capítulos, distribuídos como em duas partes.
Na primeira parte, em que trabalho com o material do suplemento literário Autores e Livros, o objetivo é refletir sobre quem, nos anos 40, estava sendo definido como historiador e, em decorrência, sobre o que estava sendo entendido e postulado como saber histórico e ofício de historiador.
...
A segunda parte do trabalho, composta pelos capítulos 4 e 5, concentra-se no material de Cultura Política, em especial em algumas de suas seções dedicadas ao que então se chamava de a “recuperação do passado brasileiro”. Nesse caso, o objetivo foi entender o que significava esse passado e como estava sendo proposta sua recuperação. Em outras palavras, o exame dos artigos da revista permite uma reflexão sobre que “lugar” a história ocupava no discurso estado-novista e, particularmente, que história do Brasil estava sendo reescrita.
As duas partes do texto lidam, portanto, com materiais cujo teor é distinto em termos de possibilidades analíticas, razão pela qual sua articulação se faz por referência à montagem de um passado comum ao Estado nacional, passado este que devia ser o produto de uma tradição e precisava ser o objeto de uma política de divulgação de largo espectro. Por isso, o texto se inicia com o tratamento da questão do que é ser historiador e do que é fazer história para, em seguida, dedicar-se à reflexão dos conteúdos substantivos que a disciplina deveria veicular, segundo a ótica da política cultural implementada pelo Estado.
Perpassando as duas partes estão questões como a das relações dos intelectuais com o Estado; a dos vínculos da história do Brasil com outras disciplinas que então também procuravam melhor demarcar suas fronteiras; a das estratégias de produção cultural, envolvendo escritores, editores e instituições acadêmicas e não acadêmicas, dentre outras que poderiam ser arroladas.
Ao final, a pretensão é poder contribuir para a reflexão de uma cultura histórica que foi delineada durante os anos do Estado Novo, engrossando o esforço que reúne pesquisadores de antropologia e sociologia, além de história, e que busca o conhecimento da historicidade de suas disciplinas como forma eficaz para a compreensão dos dilemas que enfrentam atualmente. A pretensão não é pequena, mas a tentativa sim, na medida em que é explícito o reconhecimento de que muito ainda pode e deve ser feito.
impresso: R$39
eBook: R$28
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