A última catástrofe

A última catástrofe, publicado inicialmente na França e lançado agora pela FGV Editora, apresenta um quadro geral dos debates sobre os desafios e especificidades da história do tempo presente.
A história do tempo presente é uma história como as outras? Quais são os marcos cronológicos que a delimitam? Como a história do tempo presente pode lidar com as demandas memoriais e garantir seu compromisso com as regras do ofício do historiador? Qual sua relação
com o regime de historicidade presentista? Por que a história dos períodos recentes que enfrentou tantas resistências vem conquistando uma grande visibilidade tanto na esfera universitária quanto no espaço público?
Henry Rousso, um dos principais expoentes da historiografia francesa dedicados ao estudo da história do tempo presente, busca responder essas questões tomando as seguintes diretrizes: “a história já não se caracteriza por tradições a respeitar, por heranças a transmitir, por mortos a celebrar, mas antes, por problemas a ‘gerir’” mediante um constante trabalho de crítica.
O autor chama atenção ainda para os desafios que se colocam a seus profissionais, ao mesmo tempo observadores, investigadores e atores de uma história que está sendo produzida.
Como desdobramento dessa perspectiva, propõe uma reflexão sobre certa maneira de pensar a história do tempo presente que não é apenas acompanhar uma visão traumática do passado, mas ajudar a compreendê-la e estabelecer a distância necessária ante as imposições
da memória. Outra contribuição relevante é tornar acessível não só para os estudiosos, mas também para o público em geral alguns princípios básicos que norteiam a prática dos historiadores, que não pode ser apenas a produção de uma seleção de fatos, já que a escrita da história é produto de um lugar social e de sua relação com um corpo social mais amplo, e deve estar condicionada por uma prática científica.
Cabe ainda mencionar que a obra apresenta indicações para a compreensão dos princípios, desafios e debates que se colocam para o historiador e a função social da história, bem como acompanhar a bibliografia atualizada acerca das grandes questões historiográficas das últimas décadas.
 

Confira a apresentação da edição brasileira da obra:

"A tradução desta obra no Brasil, publicada originalmente na França em 2012, constitui para mim uma honra e uma felicidade. Com efeito, pude constatar muitas vezes, seja na ocasião de algumas estadas no Brasil, seja pelos intercâmbios regulares com colegas brasileiros, quão comum era o interesse pela prática da história do presente em nossos países. De ambos os lados, houve nesses 30 últimos anos um grande investimento intelectual na maneira de abordar uma história no processo de se fazer, nos papéis respectivos da história e da memória, na importância decisiva do testemunho, da história oral e dos arquivos orais. Ainda que os contextos políticos ou sociais sejam diferentes, sinto que há uma mesma sensibilidade no Brasil e na França (assim como na Europa de modo geral) no que diz respeito à maneira de tratar as sequelas dos períodos de guerra e de violência política que deixam rastros e cicatrizes duradouros.
Esses acontecimentos, que marcaram a história do século XX e já a do nascente século XXI, modificaram profundamente o ofício do historiador, obrigando-o a se engajar de modo permanente no espaço público, sabendo ao mesmo tempo que sua missão, que consiste em explicar
o mais amplamente possível a complexidade do passado, iria adensar sua prática, fazendo-o sair da torre de marfim da universidade para que adentrasse um pouco mais nos vivos combates do tempo presente, tanto o seu quanto o dos homens e das mulheres que ele estuda."

Henry Rousso | Professor pesquisador no Instituto de História do Tempo Presente (Centro Nacional da Pesquisa Científica, Paris). Escreveu inúmeros trabalhos sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a história da memória dos traumatismos contemporâneos.

 

A última catástrofe: a história, o presente, o contemporâneo

Henry Rousso

Este conteúdo foi postado em 03/11/2016 - 11:46 categorizado como: sem categorias. Você pode deixar um comentário abaixo.

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