Os (velhos) novos sujeitos da história

Índio Bororo/Hercules Florence

Índio Bororo/Hercules Florence

Com a obrigatoriedade do estudo de história e cultura afrobrasileira e indígena na rede de ensino fundamental e médio, os temas tornam-se especialmente atuais e pertinentes. Fizemos três perguntas acerca da importância de construir uma nova visão sobre esses povos para Maria Regina Celestino de Almeida, autora de Os índios na História do Brasil:

1. Qual a importância da adoção da temática “História e cultura afrobrasileira e indígena” pelas escolas brasileiras? 

O tema sempre esteve muito fora da nossa historiografia. Os índios e os africanos entram nos livros didáticos como algo à parte: antes da chamada História do Brasil, como povos primitivos; depois, aparecem em condição submissa, de explorados. Eles não são vistos como sujeitos históricos, mas sempre em função dos portugueses. A lei de 2008 pode ser um caminho para corrigirmos essa distorção.

2. De que forma a lei deve ser colocada em prática?

Existe o risco de se continuar pensando negros e indígenas sob o ponto de vista exótico. Eles sempre foram, na verdade, objeto de interesse de folcloristas e antropólogos – mas como culturas primitivas, e não como sujeitos históricos. O que é preciso é pensá-los como agentes construtores da nossa sociedade, grupos que tiveram ativa participação econômica e também política na formação do país, com reivindicações próprias, negociando com os poderes instituídos. Acho que esta deve ser a proposta: incluir de fato esses povos na história.

Escravos/Rugendas

Escravos/Rugendas

Os índios e os africanos entram nos livros didáticos sempre como algo à parte: antes da chamada História do Brasil, como povos primitivos; depois, aparecem em condição submissa, de explorados"

3. A nova medida ajuda a derrubar preconceitos?

A lei pode ajudar a desconstruir uma série de estereótipos que ainda existem. Quando morei em Manaus, em 1976, por exemplo, fiquei impressionada com o preconceito que existia contra os índios. Quando uma pessoa queria xingar a outra, chamava-a de “índio”. Havia índios destribalizados, que tinham vergonha de se assumir, e se diziam peruanos ou bolivianos. Ainda é muito comum a ideia de que o índio tem que estar isolado, congelado em uma cultura primitiva, sem participar da sociedade. Mas não é assim: eles podem estar no Congresso, com celular e internet, sem perder os vínculos com sua comunidade. A identidade indígena não é, necessariamente, estar de arco e flecha.

Confira  Os índios na História do Brasil e Geopolítica da África, livros da Coleção de Bolso da Editora FGV.

 

Categorias: 

Arquivos: 

Este conteúdo foi postado em 18/09/2012 - 19:32 categorizado como: Entrevistas. Você pode deixar um comentário abaixo.

Comentar