Arquivo de Março 2017

  • Postado por editora em em 30/03/2017 - 14:52

    A democracia impedida: o Brasil no século XXI, obra do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, traz uma análise das etapas do processo que culminou com o impedimento da presidente Dilma Rousseff. O livro foi escrito ao longo de 2016, ano em que se viu a polarização de opiniões entre os que acreditam na legalidade do impedimento da ex-presidente e aqueles que estão convencidos de ter havido um golpe de Estado, entre eles o autor.

    Na obra, ele expõe o percurso do impeachment, desde a “fabricação do precedente ideológico para rupturas constitucionais”, passando pelas passeatas de 2013, até a sessão de 17 de abril de 2016, da Câmara dos Deputados, que autorizou a instauração do processo de impeachment.

    Entre os pontos que fazem parte da narrativa do autor estão o exame do comportamento dos eleitores às vésperas das eleições de 2014; a reeleição da presidente, as heranças do seu governo anterior e as insatisfações políticas com medidas no novo mandato; as comparações e distinções entre os eventos de 1964 e 2016; a democracia representativa, o golpe constitucional e o golpe parlamentar; as bases aliada e de oposição; e os eventos políticos históricos e contemporâneos de outros países.

    Confira o prefácio da obra:

    "Este não é um livro de propaganda, mas de interpretações críticas, em que pressuponho no adversário o mesmo empenho com que busco entender a complexidade da democracia moderna.
    Se toda interpretação divergente resultasse de deliberada má-fé, não haveria sentido criticá-la. A expectativa de persuadir se justifica na medida em que a disposição de mudar de opinião, se persuadido pela argumentação contrária, seja axioma comum ao intérprete e ao leitor.
    Este não é um livro inocente. Ideias competem não apenas com ideias, mas com interesses. Meu interesse está associado à confiança no potencial das reflexões que exponho. Mas acredito que o melhor entendimento das conexões entre reflexão e compromissos práticos ajuda a ambos. Nem sempre a supremacia política está fundada em conceitos produtivos, daí a peculiar responsabilidade das ideias: erros têm consequências, nem sempre reversíveis.
    Em meu lance de abertura, entendo que o golpe em curso no Brasil expressa rombuda submissão da inteligência empresarial ao interesse do oportunismo político. Em sã consciência, nenhum conservador acredita que as deficiências do governo de Dilma Rousseff recomendavam o extremo de uma cesura constitucional em favor da entrega do poder nacional à medíocre confraria que o usurpou. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) não tem histórico de estadistas, mesmo que reacionários, mas de habilíssimos articuladores parlamentares. Os recursos com que contaram sempre, vazios do ponto de vista intelectual, eram abundantemente abonados em empregos e falcatruas; nenhuma ideologia, porém fartos interesses miúdos. Até mesmo a grande predação escapava à capacidade operacional de seus quadros, vista a evidência de que os graúdos e recentes ladrões da Petrobras não eram ligados a partidos ou, na maioria, pertenciam ao Partido Progressista (PP). Os peemedebistas já descobertos vendiam-se por migalhas. Medo do flagrante levou-os à sandice do golpe burocrático parlamentar, com a conivência das elites conservadoras, mas socialmente fracassado, sem perspectiva de redenção. Meliantes sem projeto de futuro, os intrusos no poder afagam os grandes cartéis de interesse, gigantes internacionais que lhes deem cobertura na rede cosmopolita em que são penetras, adotando-lhes as ideias, protegendo-lhes os interesses.
    A trapaça nacional compõe capítulo suburbano de eminente processo de longa duração em que as utopias de sociedade fundadas na solidariedade foram dizimadas pela horda dos acumuladores e concentradores de lucros. Essa história tem um sentido, sentido disputado por filósofos e analistas sociais. É com esse confronto maior de interpretações que o presente volume está comprometido.
    O entreato brasileiro se inscreve no processo de profunda ruptura civilizatória em que a ideia de democracia como liberdade e autonomia submergem diante da versão de democracia como riqueza sem limite legítimo e poder sem constrangimento de afronta. É razoavelmente factível iludir pessoas de boa-fé quanto ao vero caráter da política brasileira atual. O Brasil ingressa no modo brutamontes de seus governantes na arena internacional do século XXI – de que o prestígio da estupidez dos esportes de violência desregrada constitui iluminado símbolo.
    Este livro foi escrito veloz, mas não apressadamente. O núcleo da problemática contemporânea da democracia ocupa a agenda de grande número de estudiosos, e, em particular, os eventos dos dois últimos anos no Brasil se introduziram em pesquisa com que tenho estado intermitentemente envolvido, e que, longe de terminada, favoreceu incorporar a crise nacional em dramático contexto internacional." (Continua)

    A democracia impedida: o Brasil no século XXI

    Wanderley Guilherme dos Santos

  • Postado por editora em em 21/03/2017 - 07:58

    Este livro de Mariana Bruce analisa um dos temas mais transcendentais da conjuntura latino-americana contemporânea: as profundas transformações do Estado a partir da construção de uma democracia que transborda amplamente a dimensão representativa para outorgar à participação popular um rol central com a configuração de espaços e instrumentos de ação política e social crescentes.
    Produto de uma ampla pesquisa de campo, a obra faz um balanço dos 13 anos de governo bolivariano na Venezuela e do papel protagônico dos consejos comunales, convertidos em poder do Estado, como instrumento central não apenas para um projeto de democracia participativa, mas também para uma gestão da própria vida social, de seus problemas cotidianos e para a reapropriação das visões de futuro e dos projetos coletivos.
    A pesquisa que sustenta este livro analisa com cuidado a relação entre a ação social organizada, herdeira de um legado histórico e de uma prática comunitária anterior ao governo de Hugo Chávez, e o poder político como espaço de disputa e, ao mesmo tempo, de construção social.
    Em última instância, trata-se de um povo que encontrou na participação popular uma ferramenta poderosa para viabilizar um novo modelo societário e uma nova visão de mundo. Certamente, essa experiência está marcada por permanentes tensões, que refletem as contradições dos interesses em jogo e os desafios de um processo em construção e reinvenção permanente.
    Repensar o Estado, repensar a democracia à luz da riqueza das transformações que ocorrem na América Latina, coloca-se como tarefa urgente e de grande envergadura teórica e política. Cabe à academia, comprometida com a compreensão profunda da realidade na qual está imersa, assumir esse defesa. O livro que o leitor tem em mãos é uma contribuição de particular riqueza para essa tarefa.

    No dia 23 de março, Mariana Bruce promove uma roda de conversa sobre esse tema com Danilo Spinola Caruso, Eduardo Scheidt, Felipe Addor, Flávio Túlio Ribeiro Silva, Rafael Araújo e Vicente Ribeiro.

    O papo será na Livraria da Travessa de Botafogo e todos estão convidados.

    Confira o prefácio da obra a seguir.

    "Num momento em que vivemos uma grave crise de legitimidade dos sistemas políticos em todo o mundo, este livro de Mariana Bruce é inspirador. Fugindo do caráter normativo do que seja a Revolução ou a Democracia, a autora nos abre caminhos extremamente férteis para pensar/agir os contraditórios processos emancipatórios
    em curso na América Latina. Ao recusar a ideia de “Revolução é…” ou “Democracia é…”, que ao congelar esses conceitos no mundo sobrelunar das ideias instaura uma ditadura do pensamento, a autora nos convida a mergulhar no terreno movediço da história em que a vida teima em ser reinventada na perspectiva emancipatória pelos grupos subalternizados. E o faz analisando uma experiência na qual a riqueza do que vem sendo vivido tem sido ofuscada pelo maniqueísmo teórico-político, mais correto seria dizer ideológico, com que vem sendo abordada: a Venezuela.
    Distinguir o popular do populista; o poder constituinte do constituído; a complexa relação líder/povo — tudo isso é analisado com uma pesquisa refinada na qual, mais que explicações, a autora nos brinda com as profundas implicações da invenção democrática por que passa esse país, muito além do maniqueísmo que não só empobrece sua compreensão, como, mais grave ainda, nos impede de ver a importância dessa experiência para o pensar/agir emancipatório, sobretudo depois da queda do Muro de Berlim. Afinal, depois de vermos uma revolução como a russa, que teve como palavra de ordem “todo poder aos sovietes”, cair após 80 anos sem que nenhum soviete houvesse para defendê-la, tornarmos a ver uma história em que a comuna volta a ser a busca do autogoverno, como na Venezuela, não é uma questão qualquer. E a autora, com um estudo denso, e de dentro de um desses conselhos/dessas comunas, nos mostra como se desenvolve esse processo em que um líder popular no sentido mais forte da palavra, talvez por suas melhores qualidades, desempenha um papel contraditório nesse caminho para a emancipação.
    Vale a pena ler com atenção, até porque em cada canto da América Latina/Abya Yala, tal como um fractal, há um pedaço de cada um de nós." (Carlos Walter Porto-Gonçalves)

    Estado e democracia nos tempos de Hugo Chávez (1998-2013)