Democracia no tempo de Hugo Chávez

Este livro de Mariana Bruce analisa um dos temas mais transcendentais da conjuntura latino-americana contemporânea: as profundas transformações do Estado a partir da construção de uma democracia que transborda amplamente a dimensão representativa para outorgar à participação popular um rol central com a configuração de espaços e instrumentos de ação política e social crescentes.
Produto de uma ampla pesquisa de campo, a obra faz um balanço dos 13 anos de governo bolivariano na Venezuela e do papel protagônico dos consejos comunales, convertidos em poder do Estado, como instrumento central não apenas para um projeto de democracia participativa, mas também para uma gestão da própria vida social, de seus problemas cotidianos e para a reapropriação das visões de futuro e dos projetos coletivos.
A pesquisa que sustenta este livro analisa com cuidado a relação entre a ação social organizada, herdeira de um legado histórico e de uma prática comunitária anterior ao governo de Hugo Chávez, e o poder político como espaço de disputa e, ao mesmo tempo, de construção social.
Em última instância, trata-se de um povo que encontrou na participação popular uma ferramenta poderosa para viabilizar um novo modelo societário e uma nova visão de mundo. Certamente, essa experiência está marcada por permanentes tensões, que refletem as contradições dos interesses em jogo e os desafios de um processo em construção e reinvenção permanente.
Repensar o Estado, repensar a democracia à luz da riqueza das transformações que ocorrem na América Latina, coloca-se como tarefa urgente e de grande envergadura teórica e política. Cabe à academia, comprometida com a compreensão profunda da realidade na qual está imersa, assumir esse defesa. O livro que o leitor tem em mãos é uma contribuição de particular riqueza para essa tarefa.

No dia 23 de março, Mariana Bruce promove uma roda de conversa sobre esse tema com Danilo Spinola Caruso, Eduardo Scheidt, Felipe Addor, Flávio Túlio Ribeiro Silva, Rafael Araújo e Vicente Ribeiro.

O papo será na Livraria da Travessa de Botafogo e todos estão convidados.

Confira o prefácio da obra a seguir.

"Num momento em que vivemos uma grave crise de legitimidade dos sistemas políticos em todo o mundo, este livro de Mariana Bruce é inspirador. Fugindo do caráter normativo do que seja a Revolução ou a Democracia, a autora nos abre caminhos extremamente férteis para pensar/agir os contraditórios processos emancipatórios
em curso na América Latina. Ao recusar a ideia de “Revolução é…” ou “Democracia é…”, que ao congelar esses conceitos no mundo sobrelunar das ideias instaura uma ditadura do pensamento, a autora nos convida a mergulhar no terreno movediço da história em que a vida teima em ser reinventada na perspectiva emancipatória pelos grupos subalternizados. E o faz analisando uma experiência na qual a riqueza do que vem sendo vivido tem sido ofuscada pelo maniqueísmo teórico-político, mais correto seria dizer ideológico, com que vem sendo abordada: a Venezuela.
Distinguir o popular do populista; o poder constituinte do constituído; a complexa relação líder/povo — tudo isso é analisado com uma pesquisa refinada na qual, mais que explicações, a autora nos brinda com as profundas implicações da invenção democrática por que passa esse país, muito além do maniqueísmo que não só empobrece sua compreensão, como, mais grave ainda, nos impede de ver a importância dessa experiência para o pensar/agir emancipatório, sobretudo depois da queda do Muro de Berlim. Afinal, depois de vermos uma revolução como a russa, que teve como palavra de ordem “todo poder aos sovietes”, cair após 80 anos sem que nenhum soviete houvesse para defendê-la, tornarmos a ver uma história em que a comuna volta a ser a busca do autogoverno, como na Venezuela, não é uma questão qualquer. E a autora, com um estudo denso, e de dentro de um desses conselhos/dessas comunas, nos mostra como se desenvolve esse processo em que um líder popular no sentido mais forte da palavra, talvez por suas melhores qualidades, desempenha um papel contraditório nesse caminho para a emancipação.
Vale a pena ler com atenção, até porque em cada canto da América Latina/Abya Yala, tal como um fractal, há um pedaço de cada um de nós." (Carlos Walter Porto-Gonçalves)

Estado e democracia nos tempos de Hugo Chávez (1998-2013)

 

Este conteúdo foi postado em 21/03/2017 - 07:58 categorizado como: sem categorias. Você pode deixar um comentário abaixo.

Comentar