O Brasil mudou mais do que você pensa

Os trabalhos de pesquisadores do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (GVcemif) da FGV e do Instituto Plano CDE entre os anos de 1995 e 2015 com a população das classes CDE, tanto por meio de entrevistas in loco quanto de análises de dados quantitativos, constataram transformações e mudança de comportamento na vida dessas famílias, notadamente mudanças positivas pouco conhecidas de grande parcela da população.

Essas informações fazem parte do livro O Brasil mudou mais do que você pensa: um novo olhar sobre as transformações nas classes CDE, organizado por Lauro Gonzalez, Maurício de Almeida Prado e Mariel Deak, que será lançado no dia 25/9, na Livraria da Vila, em São Paulo.

De acordo com os organizadores, “as histórias dos efeitos das mudanças descritas na vida da população CDE reforçam a certeza de que é hora de um olhar de longo prazo sobre as transformações pelas quais o Brasil passou e continua passando.”

Grandes nomes recomendam sua leitura através de textos registrados na capa do livro. Confira alguns trechos a seguir:

“(...) um bálsamo para quem quer entender “a floresta”, e não um punhado de árvores. Ele revela um conjunto de grandes transformações nas chamadas classes C, D e E no período que vai de 1995 a 2015. (...) As lições desse processo de mobilidade social, com seus avanços e limites, deveriam alimentar um projeto de longo prazo para o Brasil, especialmente num ano eleitoral.” Fernando Luiz Abrucio (Doutor em ciência política pela USP e professor da FGV-SP).

“Este livro olha para as duas décadas anteriores, precisamente para o período entre 1995 e 2015, e apresenta uma visão mais positiva. De fato, o Brasil estava numa situação muito pior antes do exitoso Plano Real e as subsequentes políticas sociais.” Albert Fishlow (Professor emérito na Universidade de Columbia e na Universidade da Califórnia em Berkeley).

“Este livro ilumina algumas das principais transformações ocorridas no Brasil real durante as duas últimas décadas.” Marcelo Neri (Diretor do FGV Social e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea).

“Os autores abordam os temas de forma objetiva e equilibrada, indo além simplificações que exaltam ou desprezam os impactos de mudanças econômicas e políticas públicas das últimas décadas”. Gustavo Azenha (Diretor do Lemann Center for Brazilian Studies da Universidade de Columbia)

“Este livro proporciona uma visão sistêmica do contexto brasileiro e das políticas públicas relativas a renda, educação e habitação, muito além dos números.” (Neca Setúbal, Mestre em ciência política e doutora em psicologia pela PUC. Presidente do Conselho Consultivo da Fundação Tide Setubal).

“(...) extraordinário trabalho de pesquisa mostrado nesse livro revela é que, olhando-se de perto e com atenção, nem tudo foi tão ruim assim.” Otaviano Canuto (Diretor executivo do Banco Mundial).

 

Confira parte da introdução da obra a seguir e, na sequência, mais informações sobre o lançamento.

 

O país do futuro que nunca chega (Stefan Zweig). O Brasil dá um passo para a frente e dois para trás. O país que não perde a oportunidade de perder oportunidades (Roberto Campos). Nunca saímos do lugar. Essas são algumas das frases recorrentes para descrever uma percepção generalizada sobre a estagnação de nosso país. Para grande parte da população, não evoluímos. Ou, quando evoluímos um pouco, logo em seguida enfrentamos uma crise na qual tudo volta atrás e todas as conquistas parecem perdidas.
Esse sentimento de estagnação e atraso é amplificado em momentos de crise econômica, quando o pessimismo se torna sentimento predominante e a sensação geral é de perda de bem-estar. Nesses momentos, fica mais difícil a compreensão do processo de evolução do país com certo distanciamento e uma perspectiva de longo prazo.
A ideia deste livro nasce do trabalho de muitos anos de pesquisadores do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (GVcemif) da FGV e do Instituto Plano CDE com a população das classes CDE. Ao acompanhar as mudanças na vida dessas famílias, tanto por meio de entrevistas in loco quanto de análises de dados quantitativos, notamos grandes transformações e mudança de comportamento. A constatação de que essas mudanças positivas são pouco conhecidas de grande parcela da população foi o principal motivador para a realização desta publicação.
Ademais, nossa análise envolve um período histórico relativamente longo, de 1995 a 2015, e acreditamos que as mudanças positivas aqui abordadas representam o alcance de novos patamares, sendo estruturais nesse sentido. A crise atual, embora traga desalento e tenha efeitos conjunturais negativos, não alterou o fato de que novos patamares foram alcançados pelas classes CDE. Por exemplo, o aumento da escolaridade das classes CDE não se perde com a crise. Ou ainda o fato de que a posse de certos bens duráveis e o acesso a crédito podem aumentar a resiliência à crise.
Apesar de o recorte do livro tratar das mudanças positivas para as classes CDE, não ignoramos que o Brasil ainda tem um enorme caminho a trilhar rumo a uma situação de melhor qualidade de vida para sua população.
Em nenhum momento defendemos que os problemas já estão solucionados, inclusive nos temas especificamente abordados. O leitor notará isso claramente ao longo dos capítulos. Além disso, os temas foram escolhidos a partir da experiência de pesquisa dos autores envolvidos.Tópicos fundamentais para o Brasil de hoje, tais como a violência e a falta de segurança, não fizeram parte da nossa análise.
Isso posto, os cinco temas aqui abordados são: educação, habitação, posse de bens, inclusão financeira e digitalização. Cada tema corresponde a um capítulo, que será dividido em quatro partes: “O que mudou” apresenta, por meio de diversos dados disponíveis, as principais transformações de cada tema; “Por que mudou” analisa os dados apresentados e busca explicar as políticas públicas e os movimentos de mercado que engendraram as transformações; “Os efeitos na vida das famílias” traz histórias de vida que mostram as mudanças ocorridas dentro dos lares; e “Desafios para o futuro” busca sucintamente levantar as principais questões a enfrentar e recomendações de cada tema.
Os autores, apesar do denominador comum da experiência em pesquisa envolvendo as classes CDE, têm formações acadêmicas variadas, o que propicia a utilização de diversas lentes de análise ao longo dos capítulos. Acreditamos que essa diversidade contribui para o propósito do livro ao permitir olhares diferentes sobre as transformações ocorridas ao longo do período analisado.
A análise de dados quantitativos foi baseada em diversas fontes e tem como eixo central os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. O período de 1995 a 2015 foi selecionado pela disponibilidade de dados e por permitir fazer uma comparação da evolução da vida das famílias nos diversos tópicos. Entendemos que as mudanças ocorridas nesse período são uma precondição para a resolução de outras questões muito importantes. Se o Brasil quase não evoluiu em produtividade do trabalho nesse período, isto está relacionado, entre outras coisas, com o nosso atraso em resolver as questões básicas da educação. Porém, para resolver as questões da educação, primeiro precisávamos incluir todos: só muito recentemente atingimos indicadores aceitáveis de universalização do ensino para então começar a focar a melhoria de sua qualidade.
Cabe ressaltar ainda que nosso objetivo não foi uma análise comparativa mostrando a trajetória do Brasil vis-à-vis outros países. Sabemos que certos países, nos quais há algumas poucas décadas havia indicadores semelhantes aos nossos, entraram em uma rota sustentada de desenvolvimento muito antes do período aqui analisado para o contexto brasileiro e hoje se encontram em uma situação superior. Os casos chileno e sul-coreano são sempre lembrados.
Em educação, por exemplo, dados da Unesco mostram que em 1990 os países da América do Norte, Europa Ocidental e Leste Asiático já tinham taxas de frequência à educação primária acima de 96%, isto é, ensino primário virtualmente universalizado.1 No mesmo ano, segundo dados do IBGE, a frequência ao ensino primário no Brasil era de 80% para a população em geral e 73,3% para domicílio com renda per capita de até um salário mínimo. A universalização da educação primária no Brasil só foi alcançada no final dos anos 1990 e início dos 2000.
Entretanto, a evidência de que vários países largaram na frente na corrida do desenvolvimento não anula o fato que, em 1995, o Brasil estava em um patamar muito inferior. A pré-escola e o ensino médio eram uma realidade apenas para as classes AB, assim como o acesso ao ensino superior. Menos de 20% dos domicílios possuíam telefone, e nas classes CDE esse índice era de menos de 5%. O acesso à informação para grande parte das famílias era limitado aos telejornais de poucos canais de TV aberta. A máquina de lavar (e até mesmo a geladeira) era item possuído apenas pela elite. O emprego com carteira assinada era raro nas classes baixas, assim como o acesso a uma conta-corrente. Os domicílios eram menores, com mais moradores por cômodo, e havia mais moradias com acabamentos precários.

O que são as classes CDE?
Classificar uma população em grupos socioeconômicos não é tarefa fácil. Podem-se adotar critérios econômicos, demográficos, culturais, étnicos e ainda assim não seríamos capazes de chegar a uma estratificação definitiva de uma sociedade. Não obstante a complexidade desse tema, que perpassa as diversas ciências sociais, este livro adota um critério estritamente econômico para definir as classes CDE: a renda domiciliar per capita. São três as justificativas para tal escolha:
1. É um critério numérico claro, transparente, que facilita a comunicação e o entendimento sobre quem é o público-alvo deste livro;
2. A renda domiciliar é uma das proxies mais importantes (embora não seja única) das condições de vida das famílias;
3. É uma variável que consta em toda a série histórica da Pnad, que é a principal (mais confiável e constante) fonte de dados sobre as condições de vida dos domicílios brasileiros.
Este livro chama de classes CDE os indivíduos com renda domiciliar per capita abaixo de um salário mínimo, e — a fim de estabelecer algumas comparações mais detalhadas — consideramos classe C as pessoas com renda per capita de meio a um salário mínimo e classes DE aquelas com renda per capita abaixo de meio salário mínimo. Por construção, chamamos de classes AB os indivíduos com renda domiciliar per capita acima de um salário mínimo. A tabela seguinte mostra alguns dados sobre essas classes CDE segundo os dados de 2015 (mais atuais da série analisada). (...)

 

O Brasil mudou mais do que você pensa: um novo olhar sobre as transformações das classes CDE

Organizadores: Lauro Gonzalez, Maurício de Almeida Prado e Mariel Deak

 

Este conteúdo foi postado em 14/09/2018 - 10:51 categorizado como: sem categorias. Você pode deixar um comentário abaixo.

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