história

  • Postado por editora em em 05/01/2018 - 06:45

    A Teoria da Dependência: do nacional-desenvolvimentismo ao neoliberalismo, obra de Claudia Wasserman, conta a trajetória de quatro intelectuais que começaram suas vidas profissionais juntos e se tornaram amigos. Mas qual o interesse em estudar um grupo de amigos? O que os torna interessantes para a história do Brasil, da América Latina ou da região periférica como um todo? Esses intelectuais tiveram grande importância para a criação de um aparato teórico capaz de perscrutar a realidade latino-americana. O conjunto de reflexões resultantes desse empreendimento foi denominado Teoria da Dependência e serviu de base para pesquisas sobre toda a realidade periférica. As trajetórias de Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotônio dos Santos e André Gunder Frank revelam as desventuras de intelectuais que nos anos 1960 discutiram a urgência da Revolução Brasileira, foram perseguidos pela ditadura militar, foram exilados e, com a anistia, retornaram ao Brasil procurando as marcas do passado.

    Confira o prólogo do livro:

    Esta pesquisa aborda a trajetória de quatro intelectuais. Três brasileiros, Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra, e um alemão, André Gunder Frank. O objetivo do estudo foi entender a aliança formada entre eles para além da constatação de que eram um grupo de amigos que se encontrou pela primeira vez na Universidade de Brasília (UnB) e que, em seu percurso de vida, trabalho e militância política, continuou se encontrando e se reconhecendo como companheiros.

    Um desses vínculos, para além da amizade, e talvez o mais forte deles, dizia respeito ao desejo de compreender e transformar a realidade brasileira a partir de suas habilidades como cientistas sociais.

    Eles eram jovens intelectuais marxistas atuantes quando sobreveio o golpe de 1964.

    No exílio, conheceram as universidades chilena e mexicana, trabalharam com outros cientistas sociais latino-americanos e formularam conceitos, ideias e interpretações que julgavam adequados para compreender a América Latina e a periferia do sistema capitalista.

    Ao conjunto de conceitos, ideias e interpretações formulados por eles e outros cientistas sociais deu-se o nome de teoria da dependência, cuja paternidade foi disputada por outros intelectuais nos anos 1970. Eles saíram do Brasil quando a discussão mais recorrente entre os intelectuais de esquerda era a revolução brasileira, sua urgência, caráter, agentes, condições concretas e subjetivas etc.

    Quando voltaram ao Brasil, depois da anistia, encontraram um país imerso em discussões sobre a democracia e seus condicionantes econômicos, tais como ajustes recomendados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), participaram desses debates e tiveram imensas dificuldades de reintegração nos ambientes acadêmicos e políticos.

    A pesquisa tracejou esse percurso, do Brasil nacionalista e revolucionário ao Brasil neoliberal e pré-democrático. Abordou, nesse percurso, o contexto intelectual brasileiro anterior ao golpe, os ambientes acadêmicos e políticos que as personagens desse estudo encontraram no México e no Chile e a conjuntura da redemocratização, contemplando as transformações ocorridas na universidade, nos partidos políticos e no ambiente dos intelectuais de esquerda.

    O capítulo 1 aborda o início desse percurso, desde a participação militante na Polop, o ingresso como professores na UnB, o golpe, o exílio, o ambiente acadêmico e político dos países do exílio e os diversos reveses que eles passaram entre o Chile e o México.

    Foi valorizado também o esforço dessas personagens em construir um arcabouço teórico que explicasse a dependência, o subdesenvolvimento e examinasse as possibilidades e alternativas aos povos da periferia. O capítulo 2 aborda aspectos da produção intelectual de Theotônio, Vânia, Ruy Mauro e Gunder Frank, com ênfase para os temas do capitalismo dependente, do socialismo e do latino-americanismo. A análise da enorme quantidade de livros e artigos escrita por esses quatro autores seria impossível neste espaço e nem era o objetivo deste estudo. Privilegiaram, nestes três aspectos mencionados, os elementos que deram origem e que fortaleceram os vínculos do grupo, bem como as críticas dirigidas às suas narrativas, que produziram as polêmicas do grupo com intelectuais do mainstream e também ajudaram na sua distinção.

    Finalmente, a pesquisa adentrou os anos 1980, quando Theotônio, Vânia e Ruy Mauro voltaram ao Brasil. No capítulo 3, o estudo apreciou especialmente a necessidade de acomodação dos exilados à nova realidade, o que chamamos de aggiornamento, que vem acompanhado da estranheza e das ilusões acalentadas durante os anos do exílio. Os memoriais acadêmicos produzidos pelas nossas personagens para retomar suas atividades nas universidades brasileiras foram as fontes preferenciais deste último capítulo. Mesmo reconhecendo a limitação dessa fonte, foi possível perceber os sentimentos envolvidos nessa tentativa de retomar a vida profissional, pessoal e como cidadão.

    Porém, vítimas da chamada “redemocratização sem sobressaltos” e da “higienização da intelectualidade” de esquerda nos anos 1980, os autores da teoria da dependência sofreram com o ostracismo as consequências de terem mantido uma posição política e teórica radical. No início do século XXI, seus projetos e diagnósticos começaram a ser reabilitados. Atualmente, a partir dessa recuperação, é possível, inclusive, compreender os seus equívocos e fazer a crítica da sua produção científica, que poderá ser retomada e servir de ponto de partida para novos projetos para o Brasil e para a América Latina.

     

    A teoria da dependência: do nacional-desenvolvimentismo ao neoliberalismo

  • Postado por editora em em 11/07/2017 - 17:09

    Os livros didáticos se tornaram notícia na mídia impressa e televisiva. De tempos em tempos, seus autores são colocados na berlinda, acusados de trazerem aos leitores informações inadequadas. Tais críticas se tornam mais preocupantes porque os livros didáticos são avaliados pelo Estado brasileiro por meio do Programa Nacional do Livro Didático. Este livro se debruça sobre a problemática do livro didático de história, analisando as políticas que os estabelecem e as narrativas que eles trazem a seu público.

    Confira parte da introdução da obra:

    Os livros didáticos em nosso país se tornaram notícia na mídia impressa e televisiva. De tempos em tempos, seus autores são colocados na berlinda, acusados de trazerem aos leitores informações erradas, defasadas ou tendenciosas. Sabe-se que tais problemas podem ocorrer em qualquer publicação, não sendo exclusividade dos livros escolares.
    Mas tais críticas se tornam mais graves e preocupantes porque os livros didáticos fazem parte de um aparato educativo, são voltados à formação de crianças e jovens, e, além disso, são avaliados e adquiridos pelo Estado brasileiro por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Por conseguinte, as críticas feitas na imprensa aos livros didáticosrepercutem diretamente sobre os governantes e as políticas públicas de educação, pondo em xeque até mesmo a validade e os métodos adotados em tais políticas.
    A imprensa não é a única a colocar os livros didáticos sob suspeição.
    Os especialistas de cada área de conhecimento que não participam do processo de avaliação do PNLD, quando têm a oportunidade de tecer considerações sobre os livros didáticos, muitas vezes se espantam com o descompasso entre a produção acadêmica de sua área e o que encontram nos livros, em seu ponto de vista, ainda sujeitos a distorções sem justificativa.
    Entre os professores do Ensino Básico, as opiniões se dividem de acordo com sua formação acadêmica. Entre as críticas mais presentes, a da legibilidade dos textos, que segundo esses mesmos professores pode estar acima da capacidade de compreensão de seus alunos, exigindo maior ou menor intervenção por parte do docente (Munakata, 2001).
    Já para os alunos, muitas vezes os livros são enfadonhos, com muitos e longos textos, incompreensíveis, o que coloca em dúvida se o problema está no livro, nas características do fugaz leitor contemporâneo ou dos conteúdos programáticos a ensinar e aprender.
    Esse não é um fenômeno apenas nacional (Choppin, 2002). Cada um de nós possui um ponto de vista diferenciado sobre o livro didático, de acordo com nossa proximidade pessoal, geracional e ocupacional — entre outras variáveis. Se somos alunos da escola, ou ex-alunos de muito tempo atrás; pais ou jornalistas; professores do Ensino Básico ou especialistas da universidade; gestores de políticas públicas ou donos de editoras que irão submeter obras ao PNLD. Cada um desses lugares sociais, junto com as demandas que nos colocam, vai nos aproximar
    ou fazer repelir afetiva, econômica, política ou intelectualmente determinada obra didática ou o tratamento que confere a um tema, em seus textos, imagens e exercícios.
    Os livros didáticos de história estão entre os mais visados pela crítica pública, em especial a jornalística, que representa a posição de determinados segmentos da sociedade. Tais livros elaboram uma narrativa sobre o passado remoto, mas também sobre o passado recente, que tende a repercutir de forma mais apaixonada e direta sobre nós. Não é casual que parte da crítica aos livros didáticos se dê pela acusação de viés ideológico. Os livros de história, pelos assuntos de que tratam, são plenos em ideologia, por mais que se busque isentá-los de proselitismo.
    Tais livros não apenas retratam a sociedade em sua história (Choppin, 2002). Por terem uma finalidade educativa, eles narram essa história destacando aspectos que podem bonificar a sociedade de que tratam e silenciar sobre aspectos que representariam demérito, por meio dos temas, enfoques, sujeitos, eventos e processos escolhidos para serem narrados. Essa narrativa escolar que compõe os textos do livro didático de história é, também, portadora de uma memória social com valor formativo, como afirmam Guyon, Mousseau e Tutiaux-Guillon (1994:47):
    A memória seleciona os grandes episódios do passado, transforma os atores em heróis, oculta os eventos que prejudicaram a coesão do grupo (como guerras civis, grandes conflitos sociais, repressão do poder central, ocupação estrangeira...). A memória do grupo legitima o presente, constitui uma visão ideal do grupo, alimenta seu imaginário.
    A face memorial da narrativa escolar, em tempos de busca de direitos assentados em disputas da memória, aprofunda um problema constitutivo do livro didático em sua função social quanto à correção dos conteúdos que tratam de temas sensíveis à memória: que narrativa é a correta? Podemos afirmar com segurança que os livros didáticos de história se tornaram objeto de disputa social pela narrativa válida, especialmente no que se refere ao tratamento conferido a determinados conteúdos curriculares.
    Em síntese, de um lado da crítica social, temos as políticas públicas para o livro didático que precisam considerar tais críticas como expressão da sociedade para a formulação de suas ações. De outro, o objeto concreto das diferentes críticas: o que dizem os livros didáticos de história.
    Esses dois lados consolidam os eixos estruturantes deste livro e do projeto que o originou: as políticas públicas para o livro didático e as narrativas que constituem os textos dos livros didáticos de história. (Continua

    Livros didáticos de história: entre políticas e narrativas

    Helenice Rocha, Luiz Reznik, Marcelo de Souza Magalhães

    O lançamento será dia 17 de agosto, às 19h00, na Blooks Livraria

  • Postado por editora em em 23/05/2017 - 15:22

    “Eu estava tranquilamente na prisão até que um belo dia, vendo televisão, eu vi anunciando a estreia do filme Cidade de Deus. Mané Galinha, Zé Pequeno, Bené, Cenoura… eu olhei: “Que porra de Cenoura é essa? Que dava tiro no Zé Pequeno era eu!...”

    Cidade de Deus: a história de Ailton Batata, o sobrevivente, de Alba Zaluar e Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, reconstitui ao mesmo tempo uma história pessoal e a história dos agentes envolvidos no mundo do crime do Rio de Janeiro.

    Importante personagem da crônica do tráfico de drogas na virada dos anos 1970-1980 no Rio, Ailton Batata da Cidade de Deus passa de bandido a estudo de caso neste livro, publicado pela Editora FGV.

    Sua história de desqualificação, que inclui um encarceramento de 15 anos, é transformada pela introdução de dois pesquisadores acadêmicos para quem Ailton recontou sua história, reconstruiu sua autoimagem e refez sua imagem pública.

    Em mais de 60 horas de entrevistas, acompanhadas pelo psicanalista Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, Ailton Bitencourt narrou à Alba Zaluar a sua versão do que considera a verdadeira história da guerra entre ele e Zé Pequeno, a primeira guerra do tráfico amplamente noticiada na imprensa carioca, que virou parte importante de um romance e trama de um filme que fazem sucesso até hoje.

    Ailton Batata, que vem a ser o único sobrevi­vente entre os protagonistas desta guerra, passa a ser um homem mais valorizado ao contribuir para a ciência com o relato de sua história e hoje, de fora do crime, pode dizer alguma coisa, com propriedade, sobre o mundo da transgressão.

    Ao iniciar as entrevistas para a confecção deste livro, Ailton já havia deixado a prisão: estava trabalhando na assistência social da prefeitura do Rio e mantinha-se afastado do mundo do tráfico de drogas, apesar de ter recebido algumas ofertas para assumir sua antiga atividade. Ao que parece, não só o cumprimento da pena o auxiliou nessa retificação subjetiva, a sua “inscrição na história” também o fez: relatada de forma disfarçada no filme Cidade de Deus, o colocou numa posição de destaque dentro do universo do crime.

    Muitos sabem que o personagem Sandro Cenoura é o Ailton Batata da Cidade de Deus e sua versão da história está nesse livro.

    Confira um pequeno trecho a seguir:

    "Ailton foi testemunha-chave e um dos atores principais na construção do tráfico de drogas como negócio por seu tino comercial e por sua capacidade de liderança e de organização. Seu depoimento tem o valor de documento da história oral do mundo do crime no Rio de Janeiro.
    Um economista diria que ele foi um empreendedor e, nesse negócio, um pioneiro. O tino comercial fica claro na avaliação que ele faz do mercado em meados dos anos 1970, quando o tráfico de cocaína começava a se espalhar na cidade do Rio de Janeiro. A reputação de bom comerciante, que ele defende até hoje, sustenta-se na negativa de que, na sua época e na sua boca de fumo, a cocaína fosse malhada. No máximo, uma mistura que já vinha do fornecedor. Ele mesmo não misturaria com fermento em pó, como se faz hoje, o que torna o produto vendido com menos de 50% de cocaína. Mas, como as mercadorias que vendia eram ilegais, cometeu muitos crimes, principalmente o homicídio, visto que não tinha como resolver judicialmente os conflitos em torno dos “estabelecimentos comerciais informais” (ou bocas de fumo) criados na Cidade de Deus, depois que ele deixou de ser o único traficante poderoso. As emoções desencadeadas na disputa com os que, de repente, viravam inimigos foram tomando conta das suas ações não mais apenas comerciais.

    "O nome sempre foi esse — boca de fumo —, porque começou com o fumo. No passado, as bocas começaram com o fumo, até surgir a cocaína. Nem todas as bocas trabalhavam com cocaína, mas tinha, era pouca coisa… Em 1974 para 1975 já se usava cocaína. Muita gente saía da Cidade de Deus para comprar no Cantagalo, e tinha um pessoal que vendia lá na Taquara. Em 1974 já tinha muita cocaína no subúrbio. A cocaína não era assim um privilégio que uns podem e outros não podem.
    Se eu comprasse um quilo, já mandavam de presente meio quilo de mistura.43 Hoje em dia tem até preço barato, porque a cocaína hoje é cheia de fermento em pó. Tem favela que vende cocaína aí de R$ 3,00. Naquela época, vamos dizer que, por menos de R$ 10,00 ou R$ 20,00, não se comprava cocaína. Ela era servida naquele papel, acho que se chamava papel-manteiga. Claro, com o plástico por dentro. A cocaína melava muito, até virava água. Tinha várias qualidades de cocaína. Era uma época em que poucos cheiravam por causa do preço, entendeu? Hoje em dia, com R$ 3,00 ele cheira o pó nas favelas. Naquela época era caro, uns R$ 10, R$ 20, R$ 50. Às vezes até de R$ 10,00 era difícil de comprar. Quem tinha não fazia o que se faz hoje. Naquela época ele comprava R$ 50,00 de cocaína, cheirava a noite toda e guardava, porque ele não ia aguentar cheirar tudo. Hoje em dia os caras ficam aí a noite toda, porque é muito fermento que eles estão cheirando, entendeu? Em vez de um cara falar pó ou cocaína, falava brizola.
    No meu tempo, a cocaína era de outra qualidade. Então, corria risco de melar, até derretia, se deixava muito tempo exposto ao vento, porque não se levava muita mistura igual hoje. Hoje a própria mistura que eles colocam na cocaína, aquilo você pode jogar ela aqui em cima da mesa e dar uma volta de duas ou três horas e quando você voltar ela está ali ainda no mesmo lugar. A mistura ali é demais, porque o fermento, a maisena, aquilo ali protege a cocaína para não melar. E como hoje em dia é mais o fermento do que cocaína… O meu filho Aramis foi preso [em 2009] com três gramas e pouca de cocaína, duas gramas de fermento. Tanto é assim que a pena diminuiu de cinco para três anos
    ."

     

    Cidade de Deus: a história de Ailton Batata, o sobrevivente

    Alba Maria Zaluar e Luiz Alberto Pinheiro de Freitas

    Lançamento dia 1 de junho, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema

     

  • Postado por editora em em 17/05/2017 - 11:03

    Terceira incursão do historiador José Carlos Reis no projeto de mapeamento historiográfico das identidades do Brasil, este livro reivindica a necessidade de os brasileiros reavaliarem o próprio percurso histórico. O objetivo é problematizar a noção de uma “história geral”, de raiz universal, absoluta, unívoca, redigida pelo protagonismo narrativo europeu e norte-americano que, por meio do filtro etnocêntrico e homogeneizador, fixa nos compêndios a história do outro pelo olhar do eu. O autor, aqui, defende a ideia de uma história plural, “em que as diversas regiões do país contam diferentemente a história brasileira, mantêm relações diferentes com o passado e propõem projetos diferentes para o futuro”.

    Confira um trecho da apresentação da obra:

    "O objeto deste livro é a (re)escrita da história do Brasil, a construção e a reconstrução dos discursos sobre a história brasileira durante o século XX. É um estudo reflexivo, uma história intelectual, uma avaliação crítica da produção histórico-sociológico-antropológica sobre o Brasil. Vou diferenciar um “ponto de vista geral” de um “ponto de vista plural” e defender a necessidade de os cidadãos brasileiros começarem a ver a história brasileira diferentemente. O ponto de vista da “história geral” tem sua matriz na “história universal” escrita pelos europeus para legitimarem suas invasões e conquista do planeta. Os franceses, ingleses e alemães escrevem a história dos outros povos de tal maneira que eles se sintam resgatados, salvos da barbárie, do caos primitivo, do paganismo, com a chegada deles, os brancos cristãos europeus. O que os indígenas da América, os negros da África, os orientais pensam da sua própria história não importa, pois, ao entrarem em contato com os europeus, suas histórias ganharam um centro e passaram a ser decididas e dirigidas por protagonistas externos. Os norte-americanos deram continuidade a essa perspectiva histórica centralizadora, etnocêntrica, civilizadora, branqueadora, e, em suas obras de ficção, esse ponto de vista é estendido ao universo, aos planetas. O grupo da enterprise (empresa, companhia), dirigido pelo capitão James Tiberius Kirk, é um grupo de “exploradores”, de “conquistadores”, de “descobridores”, uma reedição das grandes navegações dos séculos XV e XVI.
    O objetivo é a homogeneização do universo, que deve ser submetido a um único governo, dominado por uma única cultura, habitado por um homem (os ETs serão humanizados!), enquadrado em um único padrão estético, lógico e ético. Os que não se adaptarem e não se integrarem a essa “história geral” não terão direito à sua experiência singular e à narração de sua história; serão esquecidos, excluídos, exterminados.
    Após a Independência, o Brasil precisava entrar nesse “concerto das nações ocidentais”, vencedoras; precisava inventar uma identidade reconhecível por elas; precisava adotar um ponto de vista geral integrador à grande história universal. Coube a Francisco Adolfo de Varnhagen, inspirado em um alemão, Carl Philipp von Martius, “inventar” essa “história geral do Brasil”, que se disseminou em compêndios que diziam narrar a “verdadeira história do Brasil”. Era uma visão centrada no Rio de Janeiro, na monarquia, que reivindicava a condição de “história nacional”, de narrativa única, geral, verdadeira, do Brasil. Esse ponto de vista geral fechou as possibilidades de interpretações diferentes da experiência brasileira, os fatos eram sempre os mesmos; os protagonistas, sempre os mesmos; os grandes eventos eram os ligados ao Estado; as datas eram incontornáveis, indiscutíveis; o enredo, sempre o mesmo; o sentido, único e incontestável. Predominava uma única “ordem do tempo”, que a população devia aprender, memorizar e repetir. Havia um “abuso da memória”, no sentido de que se deviam lembrar sempre as vivências brasileiras de uma única forma e em uma única perspectiva. O ponto de vista dessa história geral era etnocêntrico, branco, elitista; era a generalização do olhar de um grupo e de uma região, o ponto de vista de uma parte que se tomava como centro do todo. Essa história geral expressava um projeto político de conquista e colonização de uma região, que se considerava superior às outras. Desde a Independência, a Corte fluminense se representava como o núcleo branco, cristão e ocidental do Brasil, que tinha a missão heroica de “salvar o país”, levando ao interior bárbaro, com violência, se fosse necessário, os valores da civilização ocidental.
    Este livro visa problematizar essa noção de “história geral do Brasil” e propor uma “história plural do Brasil”, não etnocêntrica, em que as diversas regiões do país contam diferentemente a história brasileira, mantêm relações diferentes com o passado e propõem projetos diferentes para o futuro. Com esse ponto de vista plural, sustento que não deve haver uma narração única e ideal da experiência bra sileira, porque as regiões brasileiras viveram ou repercutiram diferentemente essa experiência. Há “experiências brasileiras”, no plural, há “tempos brasileiros”, múltiplos, que geram “narrações plurais” do Brasil. Para explorar essa multiplicidade de histórias brasileiras, selecionei seis clássicos do pensamento histórico brasileiro, que, embora tenham também ambições gerais, expressam o ponto de vista de vários estados da Federação. Por um lado, esta pesquisa quer romper com o ponto de vista da “história geral” como perspectiva única e ideal; por outro, mantém-se ligada a “histórias gerais”, mas, agora, múltiplas, várias, regionais, produzidas a partir de pontos diversos do território, gerando uma percepção prismática da vidabrasileira.
    Essa “história plural do Brasil” que proponho, posicionando-se entre a história regional e a história geral, irá explorar as visões fluminense, paulista, gaúcha, pernambucana, paraense e mineira do Brasil, mostrando como esses estados narram o passado brasileiro, a experiência geral brasileira, como se situam nela, como avaliam seus impasses e o que fariam para resolver as dificuldades brasileiras no futuro. Cada região avalia diferentemente o percurso da história brasileira, situando- se de forma central nela, e propõe seu próprio caminho para a solução dos impasses. Ao sugerir essa “história plural do Brasil”, esta pesquisa quer substituir o olhar centralizador, etnocêntrico, autoritário, unificador, branqueador e homogeneizador por um novo olhar, descentralizador, heterogeneizador, federativo, republicano, democrático, revelando as diversas faces da história do Brasil, as diversas avaliações e projetos de construção da nação. Não estou propondo a desintegração do país, fomentando separatismos, mas indicando uma direção de “unificação e diferenciação”, uma dialética de todo/partes, em que as partes se sintam o todo e o todo integre as partes. Posso dizer, metaforicamente, que substituirei o olhar predador da onça ou do leão pelo olhar sofisticado, sutil, múltiplo, facetado desses insetos que têm um “olhar composto” (omatídios), olhos que cobrem quasetoda a sua cabeça e lhes dão uma visão detalhada ao seu redor. Seus olhos, quase esferas completas, formados de pequenos olhinhos, são considerados os melhores olhos existentes, pois conseguem enxergar em todos os ângulos possíveis. Graças a essa capacidade excepcional de “visões”, a libélula e a abelha conseguem detectar padrões de movimento e rapidamente reagir a eles. Inspirado nesse olhar da natureza, este livro visa construir “visões do Brasil”, uma percepção poliédrica da realidade brasileira, que pode ampliar o conhecimento do passado e levar ao encontro de soluções democráticas. Esses insetos são “construtores”, conseguem construir laços de sociabilidade, ao contrário de leões e onças, animais que andam solitários ou em pequenos grupos, que só têm tanto prestígio por serem a referência de reis e elites, que não são minhas referências. Minha pretensão é conduzir o pensamento histórico brasileiro a uma “consulta oftalmológica” ou ao “consultório psicanalítico”, para sair de lá com novos óculos ou com uma nova linguagem, que expresse uma visão e representação ao mesmo tempo mais aberta e mais integrada de si.
    Formularei os seguintes problemas: pode-se narrar a experiência brasileira sempre da mesma forma e com o mesmo conteúdo? A história brasileira possui uma verdade imutável e absoluta, tal como aparecia na história geral fluminense do século XIX? Quais as formas, os estilos, os modos de escrever a história brasileira? Como os principais estados escrevem sobre a sua experiência brasileira? Quais os riscos de uma história geral e quais as vantagens de uma história plural? Qual é o lugar e a contribuição dos autores selecionados à historiografia brasileira do século XX? Qual é a concepção de “tempo histórico brasileiro” desses historiadores? Quais são os conceitos de “identidade/alteridade”, “evento”, “sociedade”, “ação”, “luta”, “projeto social”, “justiça social”, “utopia”, enfim, qual é o conceito de “história” desses historiadores e cientistas sociais? Quais são os “sentidos históricos” possíveis da nação brasileira? Como a sociedade brasileira recebeu e se apropriou ou pode ainda receber e se apropriar dessas obras?
    Minha hipótese mais geral: uma abordagem plural da vida brasileira é uma necessidade urgente, tanto do ponto de vista científico, se queremos ampliar e refinar o conhecimento do nosso passado, quanto do ponto de vista político, se queremos ampliar o exercício da cidadania, se queremos construir uma identidade brasileira consciente das suas diferenças republicanas e democráticas. Precisamos nos opor a visões centralizadoras e autoritárias, geralmente ensinadas no ensino fundamental e divulgadas pela mídia, para ter uma atitude realmente crítica em relação ao passado brasileiro e abrir nosso horizonte de expectativa para uma experiência comum de liberdade e democracia. Vou procurar demonstrar minha hipótese com o estudo e a análise de grandes intérpretes do Brasil, que mantêm entre si uma relação ao mesmo tempo de enfrentamento, de divergência radical e de complementaridade,de fecunda interlocução, pois os olhares divergentes trazem sempre novasinformações e constroem outras soluções para o Brasil. Vou construir uma nova narrativa do Brasil, procurando “fazer aparecer” a pluralidade dos “tempos brasileiros”: o tempo saquarema (fluminense), o tempo bandeirante (paulista), o tempo farroupilha (gaúcho), o tempo confederador (pernambucano), o tempo amazônida/ igaraúna (paraense) e o tempo inconfidente (mineiro). Esses “tempos brasileiros” aparecem em “narrativas do Brasil” muito diferentes, e conhecê-los significa ampliar, aprofundar, intensificar nosso conhecimento das identidades do Brasil.
    Para reconstruir a visão fluminense do Brasil, analisarei o livro de José Murilo de Carvalho 'A construção da ordem: a elite política imperial; Teatro de sombras:a política imperial (2012)', obra polêmica, vista como um elogio ao Império e a Pedro II, o conquistador do Brasil, enfatizando a construção do Estado e ignorandoa construção da nação, que expressa o “tempo saquarema”. Para reconstruir a visão paulista do Brasil, analisarei a obra de Fernando Henrique Cardoso 'Empresário industrial e desenvolvimento econômico do Brasil (1964)', o importante sociólogo-historiador paulista que se tornou, depois, presidente da República, que suponho expressar com forte atualidade o “tempo bandeirante” em seu esforço de conquista e domínio das outras regiões do Brasil. Para avaliar a visão gaúcha do Brasil, analisarei a obra do jurista-historiador Raymundo Faoro 'Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro (1975 [1958])', que, para mim, atualiza'o “tempo farroupilha” ao questionar o Estado brasileiro desde as origens — obra extremamente importante, original, sempre citada e analisada por historiadores ecientistas sociais, uma referência incontornável do pensamento histórico brasileiro. Para reconstruir a visão pernambucana do Brasil, analisarei a obra de Evaldo Cabral de Mello 'Rubro veio: o imaginário da Restauração pernambucana (1986)','que suponho representar o “tempo confederador” pernambucano, em alusão à Confederação do Equador, de 1824, que sempre resistiu às lideranças fluminense e paulista, procurando restaurar a centralidade e o prestígio de Recife/Olinda na história brasileira. Para avaliar a visão paraense do Brasil, analisarei a obra de Raimundo Moraes 'Na planície amazônica (1926)', que, para mim, representa o “tempo amazônida/igaraúna” da região Amazônica, que sofre com o abandono e desinteresse do governo central e pede para ser reconhecida e integrada ao conjunto da nação brasileira. Para enfatizar a visão mineira do Brasil, analisarei a obra de Darcy Ribeiro 'O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (1995)', que revela o “tempo inconfidente”, que questiona os poderes hegemônicos de São Paulo e Rio de Janeiro, aliando-se a gaúchos, pernambucanos e paraenses, para fazer avançar o projeto republicano em “um movimento de unificação e diferenciação”, levando o Brasil a se tornar uma nação ao mesmo tempo unida e descentralizada, uma verdadeira “federação”, justa e democrática.
    Os próprios títulos de algumas dessas obras sintetizam o tema e a problemática da pesquisa: “a formação e os sentidos do Brasil”, “o desenvolvimento brasileiro”, “as regiões brasileiras”, “as paisagens brasileiras”, “os grandes eventos brasileiros”, “os sujeitos da história brasileira”. Esses temas foram narrados de forma muito própria pelas diversas regiões do Brasil que, suponho, esses autores representam. Em cada uma das obras selecionadas, e em seu conjunto, abordarei os seguintes problemas: como cada região brasileira interpreta o Brasil? Como a historiografia regional representou o Brasil ao longo do século XX? Como cada região brasileira articula, na historiografia, o “espaço da experiência” e o “horizonte de expectativa” dos brasileiros? Que experiências brasileiras são resgatadas e centralizam essas representações regionais e com vista a quais futuros?
    Como cada um desses autores reconstruiu o passado brasileiro e como cada um deles perscrutou o futuro do Brasil? O exame das fontes, a escolha dos conceitos, das teorias, dos temas de pesquisa, a organização da argumentação estão sempre articulados a uma experiência presente da história, que propõe uma determinada redescoberta do passado e uma determinada tendência em relação ao futuro. José Murilo de Carvalho, Fernando Henrique Cardoso, Raymundo Faoro, Evaldo Cabral de Mello, Raimundo Moraes e Darcy Ribeiro, em seu presente, articularam o passado do Brasil ao seu futuro de uma forma determinada; eles produziram “interpretações do Brasil”. A análise interna de cada uma dessas configurações do tempo brasileiro, e sua comparação, poderá revelar um conhecimento mais aprofundado das identidades brasileiras."

    As identidades do Brasil 3: de Carvalho a Ribeiro - História plural do Brasil

    Jose Carlos Reis

     

  • Postado por editora em Atualidades, Destaques, Entrevistas em 01/12/2015 - 13:43

    Helenice Aparecida Bastos Rocha, Marcelo de Souza Magalhães e Rebeca Gontijo se reuniram novamente para colocar O ensino de história em questão.

    A nova obra, que traz o subtítulo 'cultura histórica, usos do passado', é uma coletânea de artigos de diversos historiadores que buscam uma possibilidade de articulação entre os estudos sobre ensino escolar de história e aqueles que focalizam a cultura histórica ou as possibilidades de produzir, ensinar e aprender história para além do espaço escolar.

    A primeira parte do livro reúne um conjunto de reflexões sobre as noções de cultura histórica, consciência histórica, educação histórica e linguagens. Tais noções estão presentes nos mais variados estudos que se dedicam a pensar o ensino escolar de história hoje, configurando vertentes interpretativas de acordo com a concepção de cada autor sobre o conceito utilizado.
    A segunda, abriga estudos sobre ensino e aprendizagem da história em diferentes momentos e lugares. Da universidade à escola, passando pelos problemas que envolvem a formação do historiador e do professor de história, incluindo o contato dos estudantes universitários com o ambiente escolar e sua cultura própria e, também, com a pesquisa histórica. Desenvolvendo saberes e sensibilidades, os estudantes de história, nos diferentes níveis, aprendem a pensar historicamente e a lidar com os vestígios do passado, construindo a história escrita e ensinada.
    E, por fim, a terceira parte inclui algumas reflexões sobre a história no espaço escolar e além dele. Do rádio à banca de jornais, passando pelas escolas, as narrativas históricas assumem formatos diversos visando atingir públicos e objetivos diferenciados, e construindo sentidos para o passado.

    Conversamos com a professora Helenice Rocha sobre esta obra, e ela respondeu 3 perguntinhas para nosso blog. Confira:

    1.       Quais os principais desafios do ensino de história nos dias de hoje?

    São muitos, alguns deles, contemplados na discussão do livro, são a concepção de formação histórica dos alunos na escola e dos professores nas licenciaturas, as ideias sobre como ocorrem e podem ocorrer essas formações, na escola e fora dela, através das mídias, hoje e no passado.

    2.       De acordo com a apresentação da obra “é possível compreender a cultura histórica como a relação que uma sociedade mantém com seu passado.” Diante desta observação, qual a importância dos ‘usos do passado’ no desenvolvimento da nossa sociedade?

    A partir de reflexões sobre as diferentes expressões da história e do passado, hoje sabemos que o passado é mobilizado, evocado e usado para diferentes fins, além do escolar e do acadêmico. Especialmente os meios de comunicação social usam o passado como argumento para o que noticiam, mesmo quando não falam diretamente da história. Assim, tomar conhecimento dessas mobilizações possibilita um olhar crítico sobre a construção social da de narrativas sobre a sociedade a que temos acesso através da televisão, do rádio e do jornal, por exemplo.

     3.       Qual o principal objetivo desta obra?

    Este livro pretende apresentar ao público interessado no ensino de História o resultado de um ciclo que se iniciou em 2011, quando passamos a convidar pesquisadores de destaque, representantes de pensamentos diversos sobre o ensino de História como um dos usos possíveis do passado. Visou-se propiciar debates entre eles e os pesquisadores do grupo Oficinas de História, abertos ao público em geral. Tanto as contribuições dos convidados quanto parte das contribuições dos componentes do grupo constituíram os capítulos do livro.

     

    O livro será lançado na Livraria Prefácio, no próximo dia 8 de dezembro, às 19h.

    Esperamos por todos.

     

     

     

    O ensino de história em questão: cultura histórica e usos do passado

    Organizadores: Helenice Aparecida Bastos Rocha, Marcelo de Souza Magalhães e Rebeca Gontijo

    Impresso: R$47

    Ebook: 33

     

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Destaques em 04/12/2014 - 09:14

    Com o objetivo de promover um diálogo produtivo entre discussões da historiografia e do ensino de história, lançamos o livro Ensino de história: usos do passado, memória e mídia, organizado pelos professores Marcelo Magalhães, Helenice Rocha, Jayme Fernandes Ribeiro e Alessandra Ciambarella.

    Os autores Temístocles Cezar, Helenice Rocha, Maria Lima, Angela de Castro Gomes, Jayme Fernandes Ribeiro, Aléxia Pádua Franco, Flávia Eloisa Caimi, Júnia Sales Pereira, Alessandra Ciambarella, Eucidio Pimenta Arruda e Rodrigo Bonaldose se debruçam sobre temas originais para pensar o ensino da história como prática social e promovem, nesta obra, um debate entre os antigos e os novos públicos da História, relacionando os usos do passado, as estratégias da memória e as mídias às necessidades da história ensinada em ambiente escolar.

    De acordo com a professora Helenice, uma das organizadoras, "Este livro é resultado da preocupação com os usos e a circulação social da história dentro e fora dos espaços formais, através de objetos culturais e mídias que evocam o passado. Reúne artigos de um conjunto diversificado de estudiosos que historicizam os usos escolares e não escolares do passado."

    Confira um trecho da apresentação:

    "As inter-relações entre o ensino de história e a sociedade são muitas, apontando para diversas direções. O movimento de disseminação do conhecimento histórico, que pode se iniciar no universo da pesquisa e de sua comunicação científica, é interminável. Passa por sua apropriação pela escola e demais instâncias do social e chega ao conjunto de produtos culturais que são apreciados pelos diversos grupos sociais, inclusive pelos pesquisadores, que alimentam, entre outros agentes, o que podemos denominar espiral da cultura histórica, tal como Carlos Vogt propõe para a cultura científica. Estabelecido o paralelo, podemos considerar a existência de diferentes esferas na espiral da cultura histórica de acordo com seus agentes e públicos e suas formas de expressão, passando pela esfera acadêmica, escolar, da divulgação para o público em geral ou mobilizada em reivindicações junto ao Estado estabelecido juridicamente.
    Parte das manifestações da cultura histórica, nessa espiral, chega à aula de história. Nos livros didáticos, em outros recursos que professores buscam e transformam, em objetos que os próprios alunos levam para a aula, como curiosidades ou resultados de pesquisa. Os produtos relacionados com a história são concretizados visando à democratização do conhecimento e ao entretenimento.
    Às vezes, visam trazer histórias ao grande público que funcionam como argumentos em favor de direitos, ou do dever ético de memória.
    Em todos os casos, estabelecem relações entre o passado e o presente, no uso de produtos que evocam o passado.
    Este livro se propõe fazer um passeio por algumas das diferentes alternativas postas na relação entre o ensino de história e outros usos do passado, em especial com os produtos da mídia contemporânea que evocam ou utilizam o passado, entre a história e a memória. Trabalhar com a relação entre passado e presente é um desafio permanente. Se tratamos a história como um diálogo entre eles, como a aula pode ser entendida pelos alunos sem essa dimensão dialógica? Como compreender o passado sem, em nenhum momento, pensarmos as questões do presente? Dessa forma, se partimos da compreensão do passado como algo múltiplo e constantemente reavaliado e reconstruído, inclusive na expressão dos produtos culturais que o evocam, a aula de história também deve ser pensada em sua multiplicidade, em suas inúmeras possibilidades, num diálogo permanente entre o tempo vivido no presente e as diversas formas de apreensão e interpretação do passado, por alunos e professores.
    Nesse sentido, a relação passado–presente condiciona não somente a visão de mundo dos professores de história, mas sobretudo suas práticas de ensino e de pesquisa, suas escolhas teóricas e metodológicas, suas relações no ambiente escolar, enfim, seu cotidiano na sala de aula. Da mesma forma, a escola e suas múltiplas dimensões não se encontram dissociadas das escolhas políticas de quem a constitui, sejam alunos, professores, sociedade, Estado, gestores ou pensadores sobre a educação. Assim, se compreendemos que, para a construção do conhecimento histórico, o tempo presente é um elemento fundamental para a análise que construímos do passado, ele vai atuar também na maneira como os professores vão pensar seu ensino."
    Ensino de história: usos do passado, memória e mídia

    O livro será lançado na Livraria da Travessa, dia 11 de dezembro.  Todos convidados!

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Ensino de história: usos do passado, memória e mídia

    R$47

  • Postado por editora em Atualidades, Destaques, Entrevistas em 14/11/2014 - 12:06

    A história do tempo presente tem mobilizado segmento expressivo da comunidade de historiadores no plano nacional e internacional. Inscreve-se em um movimento mais amplo de renovação historiográfica que trouxe consigo revitalização da história política, ampliação do uso de fontes, valorização da interdisciplinaridade, maior diálogo com as ciências sociais, recusa de explicações deterministas e totalizantes, valorização de atores individuais e coletivos, relação dialética entre história e memória.
    Esse movimento é também demarcado por importante reflexão epistemológica que enseja densas análises referentes às especificidades teóricas e metodológicas desse novo fazer histórico. A eleição do tempo presente como temporalidade nuclear de pesquisas e análises é recente e, portanto, fértil em suas possibilidades de construção de uma forma inovada de conhecimento histórico que pressupõe redimensionamento do campo da história, da construção de abordagens, das noções de espacialidade, além de fértil construção de estratégias dialogais com diferentes áreas de conhecimento. Essas são necessariamente questões complexas em suas múltiplas dimensões. Sugerem a necessidade de um esforço reflexivo crescente e aprofundado que, além do enfoque teórico, considere resultados de pesquisas, traduzidos em uma escrita da história que visita o passado recente das sociedades em uma dinâmica inter-relacional de temporalidades.
    O livro História do tempo presente, organizado pelas professoras Luciliade Almeida Neves Delgado e Marieta de Moraes Ferreira, objetiva contribuir para a reflexão de historiadores, estudantes de história e profissionais de áreas de conhecimento afins à história que se dedicam a estudos sobre a história do tempo presente, com ênfase na história política. Nesse sentido, além de resultados de pesquisa e da apresentação de interpretações sobre experiências históricas específicas, incorpora reflexões sobre a peculiaridade da história política no tempo presente, considerando, inclusive, a inflexão paradigmática que marcou os últimos 40 anos no campo das ciências humanas e sociais.
    Nesse sentido, a concepção do livro prioriza as seguintes abordagens sobre a história do tempo presente: campo constitutivo e temporalidade, pluralidade de fontes e de procedimentos de pesquisa e diversidade de temática.

    Conversamos com a professora Lucilia. Confira a entrevista:

    Qual é a principal contribuição da obra para a disseminação do tempo presente como um campo importante da história?

    A obra, além de integrada a um movimento de renovação historiográfica caracterizado por ampliação e diversificação do uso de fontes, valorização da interdisciplinaridade, maior dialogo com as ciências sociais, apresenta análises sobre o estatuto teórico e metodológico do tempo presente e também resultados de experiências pesquisa que elegeram o presente, como temporalidade nuclear das investigações realizadas.

    Quais temas fazem parte do campo de pesquisa da História do tempo presente?

    Além de uma história política, renovada e atualizada a pesquisa da História do tempo presente engloba diversidade temática ampla, incorporando objetos tais como: mundo do trabalho, educação, memória social e individual, mídia, movimentos sociais, gênero, cultura, liturgias do poder, questão fundiária, saúde,  religiosidades, entre outros.

    Qual a importância social do historiador do tempo presente?

    O historiador do tempo presente inserido na realidade social na qual vive, pode contribuir  para:  o registro de narrativas da memória (história oral), .  o diálogo interdisciplinar da história com outras áreas do conhecimento e subsidiar reflexões e análise sobre o mundo no qual estamos inseridos.

     

    História do tempo presente

    Lucilia de Almeida Neves Delgado e Marieta de Moraes Ferreira

  • Postado por editora em Atualidades, Eventos em 04/12/2013 - 11:09

    Desde 2009, a Editora FGV se dedica à produção de obras de síntese sobre os mais diversos temas das ciências humanas e sociais através da Coleção FGV de Bolso.

    De maneira rápida e eficaz, através de textos claros e acessíveis, apresentados em pequenos formatos, estudantes, professores e profissionais têm acesso aos conceitos e considerações de especialistas nas áreas abordadas em cada uma das sete séries que formam essa coleção.

    Direito, economia, filosofia, história, relações internacionais, sociologia e turismo são os temas que compõem a coleção, que possui 31 títulos e já ultrapassou a marca de 20 mil exemplares vendidos.

    Para comemorar esse êxito na disseminação do conhecimento e celebrar as publicações de 10 novos títulos em 2013, vamos promover um lançamento coletivo nesta quinta-feira, dia 5 de dezembro, na Livraria FGV.

    Conheça os livros participantes desse evento e seus autores:

     

    ditaduras

     

    Ditaduras contemporâneas | Série Entenda o mundo

    Mauricio Santoro

    Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), jornalista e assessor de direitos humanos na Anistia Internacional Brasil. Foi repórter, gestor de políticas públicas no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas; lecionou em instituições no Brasil, Estados Unidos e Argentina. Ganhou por duas vezes o Prêmio América do Sul do Ministério das Relações Exteriores.

     

    destinos

    Destinos do turismo: percursos para a sustentabilidade | Série Turismo

    Helena Costa

    Professora do Departamento de Administração e do bacharelado em Turismo da Universidade de Brasília (UnB). É doutora em Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB), mestre em Turismo e Hotelaria, e bacharel em Administração. Lidera o Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade (LETS/CDS), grupo que desenvolve pesquisas e projetos nacionais e internacionais acerca de turismo e sustentabilidade. Dedica-se a pesquisas sobre relações sociais entre atores do turismo, competitividade e gestão sustentável de destinos turísticos.

     

     

    nacao

     

    A construção da Nação Canarinho: uma história institucional da seleção brasileira de futebol, 1914-1970 | Série História

    Carlos Eduardo Barbosa Sarmento (in memorian)

    Mestre e doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil e coordenador de ensino de graduação da Escola Superior de Ciências Sociais, na Fundação Getulio Vargas (Cpdoc/FGV).

     

    era

     

    A era das conquistas: América espanhola, séculos XVI e XVII | Série História

    Ronald Raminelli

    Professor de História da América da Universidade Federal Fluminense. Doutor pela Universidade de São Paulo e pesquisador do CNPq e Faperj. Publicou os livros: Imagens da colonização (Jorge Zahar, 1996) e Viagens Ultramarinas (Alameda, 2008). Com Cecília Azevedo organizou o livro Histórias das Américas (FGV, 2011).

     

     

     

    misericordias

     

    As misericórdias portuguesas: séculos XVI a XVIII | Série História

    Isabel dos Guimarães Sá

    Professora de História Moderna no Departamento de História da Universidade do Minho, Portugal, e investigadora associada ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.  Tem importantes trabalhos sobre a infância abandonada, a pobreza e caridade, entre os séculos XVI e XVIII. Atualmente, tem se dedicado à história da cultura material e do ritual, especialmente no século XVI.

     

     

    palcos

     

    A política dos palcos: teatro no primeiro governo Vargas (1930-1945) | Série História

    Angélica Ricci

    Doutoranda em história social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadora do Programa Memória da Administração Pública Brasileira (Mapa), do Arquivo Nacional.

     

     

     

    Bolsanobolso

    A Bolsa no bolso | Série Economia & Gestão

    Moises Spritzer | Economista e instrutor de risco de crédito na Caixa Econômica Federal. Profissional com 40 anos de experiência no mercado financeiro. Especialista em finanças (UFRJ). Professor da FGV Management (MBA) em finanças e mercado de capitais. Premiado pela “excelência em ensinar com qualidade” no IDE/FGV. Coordenador acadêmico do Analista FGV Finanças.

    Ilda Spritzer | Doutora em engenharia de produção pela Coppe/UFRJ. Professora da FGV Management (MBA) em finanças e análise de projetos de investimento. Professora associada no Cefet/RJ. Atuação na área de projetos de tecnologia de informação e comunicação para educação financeira.

     

     

    creativec

     

    O que é Creative Commons | Série Direito & Sociedade

    Sergio Branco | Doutor e mestre em direito civil pela Universdiade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autor dos livros Direitos autorais na internet e o uso de obras alheias e O domínio público no direito autoral brasileiro — uma obra em domínio público.

    Walter Britto |  Acadêmico de direito na FGV Direito Rio. Trabalhou com o projeto Creative Commons no CTS/FGV.

     

     

     

    america

    A América portuguesa e os sistemas atlânticos na Época Moderna | Série História

    João Fragoso | Professor titular do Instituto de História da UFRJ; autor do livro Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro, 1790-1830, e um dos organizadores de O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa, séculos XVI-XVIII. Em 2010 recebeu da Presidência da República a Comenda do Mérito Científico.

    Roberto Guedes | Professor de história da UFRRJ; autor de Egressos do cativeiro (Porto Feliz, SP, 1798-1850) e organizador da obra Dinâmica imperial no Antigo Regime português.

    Thiago Krause | Professor de história moderna na FGV/RJ e doutorando no PPGHIS/UFRJ. Foi professor de história da América e do Brasil na UFRJ.

     

    obolsa

     

    O Bolsa Família e a social-democracia | Série Sociedade & Cultura

    Débora Thomé

    Mestre em ciência política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj). Graduada em jornalismo, trabalhou por seis anos no jornal O Globo, no qual foi repórter e interina da coluna Miriam Leitão. De lá, acompanhou atenta ao desenvolvimento do Programa Bolsa Família. Foi também premiada pela Federación Internacional de Periodistas.

     

     

    Esperamos todos para o lançamento!

    convite

     

     Coleção FGV de Bolso

    Clareza e competência num pequeno livro!

  • Postado por editora em Promoções em 22/08/2013 - 12:33

    O historiador Felipe Magalhães mostra neste livro o sucesso do jogo do bicho nos primeiros tempos, o início e o acirramento da repressão, a ligação com malandros e com grandes empresários cariocas, a oscilação constante entre escândalo e folclore.
    Esta leitura leva o leitor à seara da história social deste e de outros jogos no Rio de Janeiro com zelo, paixão e qualidade invejáveis no autor, com base em depoimentos, trechos de jornais da época, propagandas, textos literários e belas ilustrações.
    Ganhou, leva! O jogo do bicho no Rio de Janeiro (1890-1960) apresenta grande parte da história do Rio de Janeiro, com suas permissões e repressões, que devem refletir até os dias de hoje.

    Um livro repleto de  imagens e textos de época que provocam uma viagem a um Rio de Janeiro ainda Capital Federal, recheado de inovações, divertimentos e contravenção.

    Confira alguns trechos e imagens:

    Tornando-se indecoroso o modo por que vendedores de bilhetes de loteria (sem licença), rifas, bichos etc […] infestam os corredores e mais dependências do edifício da municipalidade, em detrimento às posturas e resoluções municipais, abusando principalmente do local onde deverá haver severa fiscalização; peço vênia para lembrar-vos o alvitre de ser compelido o cidadão porteiro e seus auxiliares a fazer cessar semelhante abuso, empregando os meios a seu alcance, não só por intermédio da força policial que aqui se acha destacada, como ainda pelo agente distrital respectivo, a fim de ser cumprida e respeitada a postura municipal em vigor, principalmente dentro do edifício da municipalidade do Distrito Federal.   AGCRJ, Loterias, códice 46-1-47, fl. 20.

    Bicho 3

    Pobre Hilário! Não merecias os remoques e as graçolas com que te flechou a imprensa… O teu caso é um simples sinal dos tempos, um sintoma. Hoje, no Rio de Janeiro, o jogo é tudo. Não há criados, porque todos os criados passam a comprar bilhetes de bichos. Não há conforto nas casas, A loteria dos sentidos ou os sentidos da loteria porque as famílias gastam todo o dinheiro do mês no elefante ou no cachorro. Ninguém trabalha! Todo mundo joga… Crônica de Olavo Bilac - 1904

    Bicho 2

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Era nos tempos heroicos da boêmia carioca, em que a vida era amável, e havia fome, mas a vítima a suportava contente. Trabalhava-se pouco, sonhava-se muito, e amava-se nem muito, nem pouco. Os cafés formigavam de gente jovial que esperava o almoço e a fortuna sem saber de onde, e as confeitarias eram o quartel-general dos que haviam jogado no bicho. Imprevidência e alegria. Despreocupação e uma grande, profunda, inflexível confiança no Destino e no Acaso. Crônica de Humberto de Campos – 1935

    Bicho 1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Participe do Facebook e Twitter e concorra a exemplares desse livro!

    capa

     

     

    Ganhou, leva! O jogo do bicho no Rio de Janeiro (1890 - 1960)

    Felipe Magalhães

    Promoção Meio a Meio | R$28 (impresso) e R$20 (eBook)

    Válida apenas em 22/8/2013

    Arquivos:
  • Postado por editora em Atualidades, Eventos em 03/07/2013 - 13:51

    O Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e o Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, localizados no Centro do Rio, sempre tiveram um papel importante na cena política do Brasil.No pós 64, em meio ao silêncio imposto pela ditadura, a antiga Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) e seus descendentes, o IFCS e o IH, sempre foram espaços de resistência de professores e do movimento estudantil do Estado.

    Hoje, esse mesmo ambiente resgata sua vocação contestadora e volta a ser abrigo de estudantes em meio à recente onda de protestos e manifestações da cidade.

    Outros ideais são defendidos, mas o movimento, enfim, se repete.

    Explicar o que se passou nos anos de 1960; apresentar a história anterior ao IFCS e ao IH e da extinta Universidade do Brasil, e os movimentos contestadores precursores ao período ditatorial; apontar a relevância dos professores de história e a trajetória universitária dessa disciplina, são os principais objetivos do novo livro de Marieta de Moraes Ferreira.

    ‘A história como ofício’ traz reflexões e análises da autora e depoimentos de diferentes gerações de professores de história como Francisco Falcon,  Cybelle de Ipanema, Miridan Falci, Clóvis Dottori, Neyde Theml, Pedro Celso Uchoa Cavalcanti, Ilmar Mattos, Arno Wehling, entre outros, e nos faz entender o papel social e político do historiador e o seu comprometimento com esse ofício.

     

    Esta obra será lançada hoje, na Livraria FGV, às 18h30.

    Contamos com sua presença.

     

    A história como ofício

    Marieta de Moraes Ferreira

    R$52

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