América espanhola

  • Postado por editora em Atualidades, Entrevistas em 20/05/2013 - 12:07

     

    O novo livro do professor Ronald Raminelli trata da conquista da América pelos espanhóis e procura desvendar as complexas redes que envolviam conquistadores, nativos e a Coroa espanhola.

     

    Reunindo algumas das mais recentes pesquisas sobre o tema, essa síntese pode ajudar a modificar a visão parcial sobre o processo de conquista do Novo Mundo entre os séculos XV e XVII.

     

    Fizemos 3 perguntas ao autor. Confira!

     

     

    Na orelha do seu livro, o senhor fala de “visão simplista e parcial sobre a conquista da América”.  A que o senhor se refere e a que atribui esse simplismo analítico?

    Considero uma análise simplista aquela que pretende explicar o passado a partir de uma única perspectiva. Por muito tempo, a conquista da América resumia-se aos ataques militares contra os índios indefesos e à hecatombe provocada pelas epidemias. Pretendia-se não somente culpar os espanhóis pelo massacre indígena, mas também demonstrar que os índios eram “raça inferior”,  incapazes de reação. Em seguida, influenciados pelos marxistas, os historiadores pretenderam comprovar que os índios resistiram aos espanhóis e, aos poucos, deixaram de ser vítimas e receberam contornos de heróis. De fato, fossem vítimas ou heróis da resistência, os índios tiveram participação na conquista, lutaram contra as milícias espanholas, mas também colaboraram com os invasores para massacrar as populações locais. Sem os índios, os espanhóis teriam muitas dificuldades para conquistar a América. Em pesquisas recentes, descobriu-se que os espanhóis empregaram soldados negros em embates, sobretudo no assalto a Tenochtitlan (posteriormente Cidade do México). Enfim, hoje os historiadores entendem que as rivalidades entre as comunidades americanas favoreceram os espanhóis. Eles incentivaram os indígenas a aniquilar seus rivais, mas, em outras ocasiões, os espanhóis foram usados pelos índios para submeter seus oponentes. Aliás, dependendo do espaço, ao invés de  conquista seria melhor empregar conquistas, pois algumas populações resistiram ou ficaram esquecidas por séculos. Assim, não se pode conceber a conquista como o duelo entre o bem e o mal, entre índios e espanhóis, tampouco que os combates fiquem restritos às primeiras décadas do século XVI, mas concluir que foi processo de longa duração e que os conquistadores não eram somente os espanhóis. Em vários episódios, os índios e os negros também se sagraram vitoriosos.

    Como o senhor avalia os estudos mais recentes sobre os impérios numa perspectiva comparada?

    A perspectiva comparada é um método muito eficaz contra os historiadores nacionalistas e regionalistas que pretendem sacralizar personagens e singularizar eventos da sua história. Com alguma defasagem temporal, existem elementos que se repetem na história da América Latina. Neste grande território, as estruturais sociais, as formas de dominação e os vínculos com a metrópole guardam muitas semelhanças. Assim, conhecer o que se passou no Peru ou no México pode lançar luzes sobre o passado colonial do Brasil. Essas regiões estavam conectadas, pois dividiam a mesma cultura política e religiosa. Por isso defendo que o diálogo com os historiadores da América hispânica é fundamental para aperfeiçoar a nossa própria pesquisa histórica e nossas conclusões sobre o passado colonial.

    Qual o impacto da colonização espanhola na América?

    Seria muito maniqueísta afirmar que os espanhóis criaram um potente sistema de exploração do povos indígenas. De fato eles recorreram às tradições locais, às formas de dominação que já existiam antes da conquista. Não inventaram a mita, os espanhóis aperfeiçoaram e perpetuaram os mecanismos incas que obrigaram os índios a trabalhar. Nas ilhas do Caribe, onde as populações foram dizimadas pelas epidemias e pelo excesso de trabalho, os espanhóis e os crioulos (mestiços ou brancos nascidos na América) introduziram o trabalho escravo africano. O mesmo procedimento ocorreu em regiões tropicais, onde não havia braços para cultivar a cana-de-açúcar e o tabaco. Os africanos alteraram bastante o perfil populacional da América. O vazio populacional e a expansão agrícola para exportação incentivaram a difusão da abominável escravidão.  Ao meu ver, o grande impacto da colonização da América foi a introdução do escravismo, as demais formas de exploração do trabalho existiam antes da invasão espanhola.

     

    A era das conquistas - Coleção FGV de Bolso - Série História

    Ronald Raminelli

    180 páginas

    R$20

    Arquivos:
Subscrever América espanhola