Plínio Salgado: um católico integralista

A nossa contemporaneidade está mar­cada por indignações e descrenças políticas, o que torna cada vez mais necessário recuperar trajetórias e ten­sões passadas. Procurando dialogar com estas e outras questões, a Editora FGV publica o livro Plínio Salgado: um católico integralista entre Portugal e o Brasil (1895-1975), de Leandro Pereira Gonçalves, que desvenda e revisa aspectos, trajetórias e lutas do líder integralista Plínio Salgado (intelectual e político indissociável da “era do fascismo”, do qual foi a expressão mais visível no Brasil dos anos 30 do século XX).

O autor desdobra a sua análise em duas fases principais: na primeira remonta à passagem de Salgado, nas décadas de 20-30, da literatura à política, sob a influência do movimento modernista de 1922, e as suas primeiras impregnações doutrinárias pelas leituras do Integralismo Lusitano; na segunda, o autor examina as intensas relações estabelecidas com o conservadorismo português, iniciadas uma década mais tarde, após o fechamento da AIB (Ação Integralista Brasileira) em 1937, sua prisão e posterior exílio em Portugal.

Na investigação de Leandro Pereira Gonçalves, foi utilizada uma quantidade significativa de fontes jornalísticas da Biblioteca Nacional do Brasil, bem como a análise de documentos depositados na Fundação Casa de Rui Barbosa, no CPDOC da Fundação Getulio Vargas e no Fundo Plínio Salgado do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro.

Nos fundos documentais foi possível identificar ações de Plínio Salgado no exílio em Portugal, além de elementos que possuíam ligações com o líder integralista. Foram realizadas investigações no arquivo do SNI, além de uma pesquisa inédita na ocasião da investigação, no acervo não aberto ao público, aos documentos da Legião Portuguesa, milícia oficial do Estado Novo que tinha o propósito de organizar a moral da nação e cooperar na sua defesa contra os inimigos da pátria. Nesta vasta pesquisa foram localizados dossiês sobre o líder do integralismo brasileiro, Plínio Salgado, e o seu secretário particular, Hermes Malta Lins e Albuquerque, figura importante no exílio.

Os estudos investigativos em Portugal apresentam uma relevância especial, principalmente pelas poucas produções acadêmicas sobre o tema até o momento. Com investigações nos acervos portugueses, principalmente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), o autor buscou uma possibilidade de entendimento das relações tão próximas de Plínio Salgado com Portugal, iniciadas antes do exílio, e descobriu um dossiê que apresenta a tentativa de um plano entre Salgado e os nazistas alemães.

De acordo com o dossiê, esta tentativa de acordo em 1941 buscava uma aproximação entre PS (com apoio do secretário particular) e membros do governo alemão. Representantes da Gestapo verificaram um grande interesse nessa associação, com o objetivo de transportar a política nazi para o Brasil e, consequentemente, América do Sul, após a Segunda Guerra Mundial, com uma possível vitória do Eixo e Plínio Salgado teria essa função de ser um representante no continente.

Entretanto, com a entrada do Brasil na guerra, Plínio recua e passa a atuar no exílio apenas nos discursos e produções religiosas, sendo aclamado entre os conservadores católicos portugueses de o “Quinto Evangelista”, tamanha a sua importância religiosa no país, principalmente após o lançamento da obra “Vida de Jesus”, literatura que passou a ser obrigatória nas escolas portuguesas, como mostram os capítulos do 3 e 4 do livro.

De acordo com Leandro, um dos aspectos destacados na obra é a continuidade da política integralista no período do pós-guerra, explicada por uma mudança doutrinária estabelecida pelo líder do movimento, no período de 1939 a 1946, momento em que ficou exilado em Portugal.

Com a dissolução do PRP (Partido de Representação Popular, fundado por Salgado em 1946 após o exílio e que permaneceu ativo até 1965), pensou-se que determinadas fontes políticas seriam extintas, mas a presença de um governo ditatorial no Brasil, sua associação ao partido dominante da ditadura civil-militar brasileira, a ARENA, e a manutenção dos componentes nacionalistas de cunho autoritário influenciaram, após a morte de Plínio em 1975,  o surgimento dos denominados neointegralistas, que vem provar ao cidadão do século XXI que ideias reacionárias e a semente da intolerância ainda estão presentes no nosso meio.

Esta biografia intelectual e política de Plínio Salgado, nos seus cruzamentos com Portugal, representa não só um estudo pioneiro, como uma contribuição para a história transnacional do fascismo e do autoritarismo brasileiro e português.

 

Lançamentos:

Data: 12/09 – 18h

Local: Planet – Rua Morais e Castro, 218 Passos – Juiz de Fora/MG

 

Data: 22/10– Hora: 18h

Após o Congresso Internacional Corporativismo, autoritarismo e democracia

Local: Livraria FGV – Praia de Botafogo, 190 – Botafogo, Rio de Janeiro

 

Plínio Salgado: um católico integralista entre Portugal e o Brasil (1895-1975)

Autor: Leandro Pereira Gonçalves

Este conteúdo foi postado em 10/09/2018 - 12:32 categorizado como: sem categorias. Você pode deixar um comentário abaixo.

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