A lógica das eleições municipais

A lógica das eleições municipais reúne 34 especialistas em campanhas eleitorais que realizam uma análise minuciosa dos fatores que influenciam e se relacionam com as eleições municipais de 2012, com o cuidado de utilizar uma linguagem acessível para o público em geral.
Este livro dá continuidade ao volume anterior — Como o eleitor escolhe seu prefeito: campanha e voto nas eleições municipais —, também publicado pela Editora FGV. Com mais este trabalho os organizadores Antonio Lavareda e Helcimara Telles buscaram diminuir o desequilíbrio entre o volume de estudos sobre campanhas eleitorais municipais e aquele dedicado aos pleitos nacionais e estaduais.
Para isso foram selecionados artigos que trazem diferentes contribuições teóricas e metodológicas; abrangendo desde as abordagens mais consagradas — como o survey, a análise de discurso e a análise de dados agregados — até as novas técnicas, a exemplo da mineração de dados nas redes sociais.

Confira a apresentação da obra:

"Há inúmeros aspectos que norteiam as campanhas municipais e direcionam o voto nesse contexto a serem desvendados. A despeito do avanço da literatura brasileira, sobressaem muitas lacunas ainda existentes, seja devido à quantidade e grande heterogeneidade socioeconômica e política dos municípios, a dificultar generalizações para além dos poucos locais efetivamente estudados, seja por nossa tradição acadêmica que debruça as análises o mais das vezes sobre as refregas presidenciais, as quais supostamente organizariam nosso sistema partidário-eleitoral.
No Brasil, embora mais de dois terços dos eleitores não possuam vínculos de preferência com partidos políticos, as disputas presidenciais, desde 1994, têm sido bipolarizadas entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). E as análises se concentram sobre uma dupla de fatores fortemente associados: o voto retrospectivo e o voto econômico. A performance dos mandatários e dos respectivos partidos se relaciona de perto com o desempenho da economia, ambas ditando as chances de continuidade, ou não, do partido no poder.
Entendemos que o acolhimento das teorias explicativas dos pleitos presidenciais nos estudos voltados para as outras dimensões federativas — estados e municípios — decorre do fato de que praticamente se repete nelas a moldura legal institucional das disputas nacionais. Por conseguinte, hipoteticamente repetir-se-iam, também, os esquemas mentais, a lógica enfim do comportamento eleitoral. Tal suposição pode ajudar-nos a entender o número reduzido de trabalhos acadêmicos sobre campanhas locais.
Mas, à medida que mergulhamos na multiplicidade de fatores presentes na dimensão municipal, vai se tornando claro que a simplificação de fazer equivaler, nesse terreno, o local ao nacional é insuficiente e insustentável.
No Brasil, de frágil partidarismo, as campanhas podem ser de grande valia, principalmente as de vereadores e prefeitos. Elas são um universo complexo onde, além da temática nacional, dizem presente muitas peculiaridades, como a relevância de elementos herdados da dominação tradicional, em termos weberianos; o prestígio das lideranças locais; a força dos governadores; os temas provincianos; o compadrio; e até mesmo as miúdas relações entre as pessoas e as instituições, contaminadas por todo tipo de laços sociais e afetivos. Fatores que não raro se sobrepõem aos aspectos um pouco mais ideológicos, e às relações impessoais e “racionais”, que se encontram mais presentes nas eleições nacionais.
O elevadíssimo número de municípios brasileiros, tanto os pequenos, nos quais vivem poucas centenas de eleitores, quanto aqueles formados por cidades nas quais habitam milhões deles, como nas grandes capitais, estimula o surgimento de fórmulas distintas de campanha. Elas mesclam recursos de mobilização tradicional — visitas aos eleitores, participação em festividades que celebram os rituais de vida e morte, o corpo a corpo, o uso de carro de som —, às mais novas tecnologias de informação, como o uso das redes sociais para compartilhar desde o programa do candidato, passando pelos boatos e o “disse me disse”, tão comuns para a avaliação, construção e desconstrução dos candidatos a vereadores e prefeitos, sobretudo nas milhares de pequenas cidades do país. Os municípios são ricos em atividades de campanha, e as mídias locais, apesar de agendarem os temas nacionais, inserem outras pautas que fogem às preocupações debatidas em Brasília.
Os organizadores reconhecem as enormes dificuldades para o estudo sobre eleições focadas no município. E sabem que esta coletânea não poderia abarcar toda a complexidade delas. Este livro é resultado de uma agenda de estudos do Grupo Opinião Pública, Marketing
Político e Comportamento Eleitoral, que, com a parceria institucional com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), vem desde 2008 se propondo a estudar, analisar e encontrar respostas às seguintes questões: que fatores influenciam a decisão de voto em candidatos a prefeito e vereador? Como e por que as campanhas municipais são distintas das nacionais? Que diferença fazem as campanhas nas disputas locais?
Algumas respostas a essas perguntas foram oferecidas no livro Como o eleitor escolhe seu prefeito: campanhas e voto nas eleições municipais, publicado em 2011, coordenado pelos mesmos organizadores desta coletânea. Seus capítulos analisaram a competição e as bases de escolha eleitoral nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Recife, Porto Alegre, Manaus, Belém, Goiânia e Florianópolis, nas eleições para prefeito de 2008.
Durante o período de quatro anos que precedeu as eleições de 2008, e neste mesmo ano, o contexto econômico era positivo. A opinião pública se encontrava bastante satisfeita com o país e com o governo Lula da Silva. Parte dos eleitores votou com base nos laços que o candidato dizia ter com Lula e, por isso, foram evitados ataques à administração nacional. Os candidatos a prefeito destacaram o crescimento econômico e a expansão de benefícios sociais do governo federal; e os candidatos da oposição tentaram municipalizar as eleições, concentrando-se em questões locais.
Pode-se dizer, a partir das análises dos casos das capitais em 2008, que a lógica do eleitor não foi sempre vinculada aos temas nacionais. Embora boa parte dos candidatos a prefeito tenha se ligado ao governo federal, a bonança econômica favoreceu governistas e oposicionistas, e a reeleição foi o fator mais característico. As capitais elegeram quase todos os incumbentes que disputaram as eleições (95%), com exceção do prefeito de Manaus, Serafim Corrêa. Com efeito, 2008 pode ser qualificado, de maneira geral, como as eleições do continuísmo, da parceria entre os entes da federação e da economia. Embora nos pequenos municípios a influência do apoio dos governadores dos respectivos estados tenha como sempre se mostrado importante.
Pôde-se, ainda, incluir em 2008 o partidarismo e a ideologia entre as opções dos eleitores para a escolha de seu prefeito, embora “to analyze partisanship more rigorously, scholars need to interview the same respondents at various points during the campaign, measuring their changing partisan identification, their responses to campaign messages and their evolving evaluations of political candidates”, conforme analisou Barry Ames, em 2012, ao resenhar nossa publicação.
Este novo trabalho, que analisa as eleições de 2012, segue parâmetros diferentes. Vale lembrar que em 2012 era grande a insatisfação com as administrações e, por conseguinte, com os candidatos a prefeito que representavam o continuísmo. Isso resultou em maior fragmentação dos legislativos municipais e maior renovação nas prefeituras. Antes que considerar novamente caso a caso as capitais, esta coletânea se concentrou em fatores explicativos agregados, ainda que algumas cidades tenham sido retomadas na análise, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Goiânia.
A primeira parte dela busca considerar o contexto no qual se desenvolveram as eleições, com ênfase nos aspectos institucionais, como as ofertas partidárias. Por isso, foram trazidos à tona elementos como o surgimento dos pequenos partidos, que se destacaram nessas eleições; a influência que o governador exerce sobre o pleito municipal; e a configuração das câmaras municipais no país.
Foram analisados, ainda, os fatores mais gerais que se associam ao voto, como a relação entre o Horário Eleitoral e os recursos financeiros mobilizados; as campanhas abordadas em suas diversas facetas e veículos; refletiu-se, ainda, sobre um modelo preditivo do voto para prefeito; e foram esboçadas hipóteses sobre o que poderá vir a ocorrer nas eleições seguintes (2016).
A obra retoma os casos de algumas capitais, como São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Goiânia, e inclui, além das variáveis mais tradicionais para a análise do voto, o antipetismo e a influência do local de moradia na escolha eleitoral. Finalmente, são destacados o uso de novas tecnologias nas capitais com a análise dos usuários influentes do Twitter, e mais um tema altamente relevante nas campanhas de 2012, que coincidiram com o julgamento do “Mensalão”, a percepção da corrupção no voto para prefeito.
Antes de finalizarmos, é necessário reconhecermos que, sem o apoio de outros pesquisadores, esta coletânea seria apenas uma promessa: os textos aqui apresentados foram antes expostos em um workshop nacional, na Universidade Federal de Minas Gerais, onde os participantes receberam recomendações do público presente, bem como de avaliadores anônimos que se dispuseram a ler os capítulos e propor recomendações que os aperfeiçoaram. Agradecemos, também, à Diretoria do Ipespe, instituição que sempre apoiou as pesquisas aqui apresentadas, aos pesquisadores, professores e estudantes do Grupo Opinião Pública, bem como aos que colaboram com esse grupo e assinam os artigos.
Os 13 capítulos deste livro, elaborados por 34 prestigiados pesquisadores acadêmicos e do mercado, oferecem ao leitor um mosaico bastante diversificado sobre os fatores que incidem sobre o voto nos municípios brasileiros. As análises, além de utilizarem metodologias quantitativas mais consagradas, como os surveys, análises de discurso e dados agregados, inovam em métodos mais recentes, como a mineração de dados nas redes sociais. Desejamos que todos possam extrair desta publicação elementos que auxiliem a compreensão do comportamento dos cidadãos nesta categoria de disputa — os pleitos locais —, onde toda a longa tradição eleitoral brasileira começou."

 

A lógica das eleições municipais

Antonio Lavareda e Helcimara Telles

Este conteúdo foi postado em 11/07/2016 - 09:12 categorizado como: sem categorias. Você pode deixar um comentário abaixo.

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