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  • Postado por editora em em 01/12/2016 - 09:59

    Em parceria com a FGV Direito Rio, lançamos a obra Reflexões sobre o novo Código de Processo Civil, coordenada por Carlos Roberto Jatahy, Diogo Assumpção Resende de Almeida e Luiz Roberto Ayoub.

    Confira o prefácio do livro de autoria do jurista Luiz Rodrigues Wambier:

    "Foi com grande alegria, muita honra e exata noção do tamanho da responsabilidade que recebi convite para prefaciar esta obra coletiva coordenada por Carlos Roberto Jatahy, Diogo Assumpção Rezende de Almeida e Luiz Roberto Ayoub.
    O tema geral é o Código de Processo Civil de 2015. Cheio de novidades, que estimulam nossa reflexão e nos fazem buscar soluções para os problemas concretos por elas gerados, o Código é uma conquista da sociedade brasileira, pois, desde o anteprojeto, gerado pela Comissão de Juristas para tanto designada pela Mesa do Senado da República, houve imenso esforço para simplificar a prestação da atividade jurisdicional. Embora essa diretriz inicial tenha sido abandonada ao longo da tramitação do projeto (o que é absolutamente normal no processo legislativo democrático), isso se vê por diversos ângulos. Há alterações no campo procedimental; há a adoção de institutos potencialmente capazes de reverter o quadro de excesso de ações e de recursos perante o Poder Judiciário brasileiro (IRDR, por exemplo); há evidente estímulo à busca de soluções autocompositivas, capazes de até mesmo evitar a ida ao serviço judiciário ou, quando pouco, abreviar a permanência do processo no ambiente jurisdicional, e assim por diante.
    Os trabalhos são primorosos, escritos por processualistas de primeira grandeza, preocupados em oferecer soluções reais para problemas concretos.
    Aluisio Gonçalves de Castro Mendes e Larissa Clare Pochmann da Silva tratam de alguns aspectos relativos ao cadastro de inadimplentes e à efetivação do crédito. Já Bruno Vinícius Da Rós Bodart contribui com acurada análise a respeito dos novos contornos da prova pericial, ao passo que Diogo Assumpção Rezende de Almeida analisa a crise no sistema recursal brasileiro e a tentativa de rearranjo feita pelo Código de 2015.
    Eduardo Talamini cuida de explicar as novas aplicações possíveis para a figura do amicus curiae, enquanto Elias Marques de Medeiros Neto aborda — no ambiente dos poderes do juiz, especificamente na regra constante do art. 139, IV — a possivelmente tormentosa novidade ligada à atipicidade dos meios executivos, que permite, por exemplo, medidas indutivas, coercitivas e mandamentais (entre outras), inclusive nas causas que tenham por objeto prestação pecuniária.
    Fernando Gama de Miranda Netto cuida do §3o do art. 300, notadamente da questão da reversibilidade como condição para a concessão de medida antecipada de urgência.
    Fredie Didier Jr analisa os contornos da sentença de interdição no CPC de 2015, enquanto Guilherme Jales Sokal trata de diversas questões ligadas à sucumbência recursal. A privacidade no âmbito do CPC é tratada por Gustavo Quintanilha Telles de Menezes.
    Humberto Dalla Bernardina de Pinho contribui com tema ligado à arbitragem. Analisa seu marco legal e a posição do instituto no CPC. Leonardo Greco cuida das convenções processuais e do possível antagonismo que tais convenções possam ostentar diante dos poderes do juiz.
    Luiz Roberto Ayoub aborda tema igualmente polêmico e cheio de novidades no CPC de 2015, que é a intervenção de terceiros.
    Marcela Kohlbach de Faria trata da coisa julgada e de hipóteses em que o CPC de 2015 autoriza sua relativização.
    Já Marcelo Mazzola preconiza a necessidade de flexibilização das restritas hipóteses de cabimento do agravo de instrumento.
    Márcio Carvalho Faria avança por tema polêmico, que o CPC procurou regular, de modo a evitar algumas de suas manifestações, especialmente no plano do Superior Tribunal de Justiça: a assim chamada jurisprudência defensiva. A regra da improcedência liminar, substancialmente alterada no CPC de 2015, em relação ao antigo artigo 285-A do CPC de 1973, é objeto das reflexões de Marco Antonio dos Santos Rodrigues.
    Mauricio Vasconcelos Galvão Filho cuida de aspectos gerais do recurso de apelação e Robson Renault Godinho trata de alguns dos assuntos ligados à presença do Ministério Público no âmbito da nova regulação processual.
    Rogerio Licastro Torres de Mello cuida da desconsideração da personalidade jurídica, abordando aquilo que entende ser, no ambiente do novo CPC, apenas a “necessária reiteração do óbvio”.
    No plano do IRDR, Sofia Temer propõe (e resolve) interessante questão, ao indagar “quem pode recorrer da decisão que fixa a tese jurídica?”.
    E, por fim, respeitada a ordem alfabética dos prenomes dos autores, Trícia Navarro Xavier Cabral trata da análise das condições da ação no espaço destinado ao saneamento do processo.
    Como os leitores podem perceber deste descritivo prefácio, o livro contém, repito, autores de primeira grandeza e temas instigantes, tendo vocação para se constituir num extraordinário manancial de soluções para os eventuais problemas causados pela compreensão, pela interpretação e pela aplicação da lei nova.
    Os autores estão de cumprimentos. A editora merece aplausos. E os leitores são os grandes beneficiados com este riquíssimo conjunto de reflexões a respeito do Código de Processo Civil de 2015."

     

    Reflexões sobre o novo código de processo civil

    Coordenadores: Carlos Roberto De Castro Jatahy, Diogo Assumpção Rezende De Almeida, Luiz Roberto Ayoub

  • Postado por editora em em 22/11/2016 - 10:33

    Nossos livros são dedicados a vocês: estudantes, futuros profissionais, empresários, empreendedores, professores, mestres, doutores, curiosos, etc.

    Mas, se todos vocês que nos acompanham não tivessem conhecido os livros infantis, provavelmente não teriam chegado onde estão e não chegarão onde pretendem.

    Por acreditar na importância da educação, desde a infantil até os vários níveis de graduação, selecionamos algumas obras da Editora FGV para entregá-los.

    Em troca, entregue-nos livros infantis, infanto-juvenis ou brinquedos educativos, que vamos nos responsabilizar pela doação de Natal para algumas instituições.

    Um livro seu por um livro nosso acontece na Biblioteca Mario Henrique Simonsen, no Centro Cultural FGV, entre os dias 22 e 25 de Novembro.

     

    Esperamos por vocês!

     

  • Postado por editora em em 11/11/2016 - 10:26

    A Primavera Literária do Rio acontecerá de 17 a 20 de novembro nos jardins do Museu da República. Como todo ano, a feira terá uma programação cultural gratuita para seus visitantes e nós estaremos lá também.

    Para esta edição, a organização repensou a estrutura das atividades e revitalizou sua forma. A programação da Primavera Literária do Rio está mais dinâmica e jovial, sem perder a qualidade que sempre guiou a curadoria do evento.

    Espera-se grande interlocução do público nas mesas temáticas atuais com palestrantes que gostam de conversar. Também haverá oficinas e workshops e apresentações do Sarau Negro e do coral Encanta Santa nos jardins do museu.

    A Feira ainda terá o 'troca troca' de livros da Secretaria Municipal de Cultura. Leve um livro para trocar, visite o museu e aproveite a programação!

    O Museu do Palácio do Catete é aberto à visitação, possui uma praça de alimentação de bikefoods e um bicicletário.

    Levaremos cerca de 250 títulos do nosso catálogo e todos estarão com 50% de desconto.

    Esperamos sua visita!!

  • Postado por editora em em 11/11/2016 - 08:35

    A Editora FGV lança a tradução do livro de Victor Delbos sobre a obra do filósofo Benedictus Spinoza, Le problème moral dans la philosophie de Spinoza et dans l’histoire du spinozisme. A tradução, feita a partir do original francês, publicado em Paris em 1893, inaugura o que viria posteriormente a ser denominado de “história estrutural da filosofia” e torna-se fundamental para aqueles que querem entender a filosofia de Spinoza a partir do próprio autor.

    Em português, a obra intitulada O problema moral na filosofia de Spinoza e na história do spinozismo, traduzida por Martha de Aratanha, com revisão técnica de Emanuel Angelo da Rocha Fragoso, foi editada em celebração do centenário da morte de Delbos.

    As relações que Spinoza estabeleceu entre sua filosofia geral e sua teoria da moralidade são tais que é necessário antes de tudo evitar destruí-las ou alterá-las. Deve-se tentar compreendê-las. Spinoza mostrou que não existe moral fora da verdade, e, por outro lado, que a verdade compreendida é por si mesma, sem adição exterior, toda a moral.

    Confira uma parte da introdução:

    "O grande interesse que suscitam atualmente os problemas da vida moral não pode deixar de estar relacionado, em parte, com as doutrinas que em outras épocas trataram deles ou tentaram resolvê-los. Sobretudo se essas doutrinas ultrapassaram ou o espírito de seu autor ou o espírito de seu tempo, sobretudo se elas foram capazes de sobreviver à forma original que as envolvia, e criar, na variedade de inteligências, formas novas e diversas, então nos parece que elas receberam desse contato com as consciências uma marca de humanidade; e elas conseguem nos interessar, talvez menos por serem teorias originais e vigorosas do que por terem tido esse dom da longevidade ou esse poder de ressurreição. Com certeza, não é de surpreender que nossa personalidade moral se ligue vigorosamente a tudo aquilo que, no sentido e no destino dos sistemas, a excite ou a emocione; mas alguns dizem que tal curiosidade é bem perigosa para a verdade histórica. Nós somos geralmente muito ávidos em exigir das diversas doutrinas a solução de problemas que elas não levantaram e que impomos a elas: somos rápidos em acomodar as ideias aos nossos desejos, e as consequências aos nossos preconceitos, favoráveis ou desfavoráveis. E quando se trata de problemas morais, a tentação é bem poderosa: é difícil esquecê-los, mesmo temporariamente; eles são o “pensamento subliminar”, que vem julgar tudo, que critica todos os pensamentos, os pensamentos hostis que com frequência ele imagina, os pensamentos indiferentes que quase sempre ele desvia. Existe aí uma tendência do espírito que, por ser muito forte, nem por isso é mais legítima; desconfiar disso é uma precaução necessária.
    Estas observações gerais contêm, em primeiro lugar, uma verdade que nosso trabalho apenas confirma: a moral que por muito tempo atribuíram a Spinoza, portanto forçada, não tem nada em comum com a doutrina spinozista. Elas contêm, em seguida, uma espécie de crítica preventiva que foge, me parece, do objeto do nosso estudo. Não é de nossas preocupações atuais que a moral de Spinoza retira sua importância, ela foi a obra sobre a qual o próprio Spinoza quis melhorar sua vida; o sentido humano que ela tomou aos nossos olhos não lhe veio de fora, mas sim de dentro e nasceu no mais profundo âmago de uma alma; se ela apareceu como doutrina, essa é a prova de que ela foi julgada boa. Por outro lado, ela não tem, no conjunto das ideias spinozistas, um lugar onde a possamos arbitrariamente restringir ou aumentar; ela é, para Spinoza, toda a filosofia: tudo leva a ela, nada é fora dela.
    Estamos, portanto, dispensados de colocar artificialmente em evidência um problema que, por si mesmo, está em primeiro plano, e sobretudo operar no sistema de Spinoza um trabalho desajeitado de discernimento e de separação.
    Nenhuma doutrina se presta menos a uma triagem de ideias. Existe nela uma potência de organização que nossas distinções usuais não devem tentar dividir. O que estaríamos tentados a perguntar a Spinoza, partindo do termo comum “moral”, é precisamente o que ele nos recusa, ou seja, uma concepção fechada do dever que valha por si só e que se exprima em preceitos legais. Ao contrário, o que surge de seu pensamento é que existe, como que envolvido pela unidade absoluta que tudo abarca, uma unidade indivisível de todas as funções da vida espiritual; é que as abordagens da natureza em direção ao entendimento não têm necessidade de um motor externo, tendo nelas sua razão interna. O sistema é como a natureza que o justifica, e como o entendimento que o consagra: ele não admite que o problema moral venha de fora; ele o despoja sem piedade das formas vãs dadas pela consciência comum; ele coloca o problema moral em termos que lhe sejam expressamente adequados; de tal forma que o sistema, no seu desenvolvimento, é o problema em vias de se explicar, tendendo ele mesmo à sua solução.
    Desconhecer essa identidade essencial entre o problema e o sistema seria abordar o estudo do spinozismo por um contrassenso. Trata-se de fazer um esforço não para quebrar a unidade natural da doutrina, mas para achá-la, ao contrário, engendrada e definida pela concepção moral à qual todo o resto se subordina. Não se trata de destacar um fragmento da obra, mas de reconstruir a obra, tanto quanto possível, no seu todo, segundo o pensamento mestre que a construiu. As relações que Spinoza estabeleceu entre sua filosofia geral e sua teoria da moralidade são tais que é necessário antes de tudo evitar destruí-las ou alterá-las. Devemos tentar compreendê-las.
    Se é assim, admitiremos que o caráter deste trabalho deve seguir escrupulosamente a forma sistemática e mesmo a forma literal do spinozismo. Existiria a esse respeito alguma superstição? Seria verdade, considerando outras doutrinas parecidas, que perseguiremos fantasmas sem ter certeza de alcançar a viva realidade?
    No livro consagrado a Spinoza,Frederick Pollock sustenta que em toda filosofia o sistema, como tal, responde simplesmente a uma necessidade de ordenamento artístico, ou, ainda, a uma tentação de imobilidade intelectual. Ele tem, para o filósofo que o compõe, apenas um valor acessório, o valor de um símbolo que o faz lembrar seu pensamento; mas simula nos discípulos que o reproduzem um valor absoluto, o valor do próprio pensamento: de discurso ativo e fecundo que era, se torna fórmula inerte e estéril. O espírito é retirado, permanece a letra morta. O que faz então a grandeza de uma filosofia é, segundo Pollock, o núcleo de ideias originais que ela contém: as ideias originais possuem uma força irresistível de difusão, e fazem explodir o envoltório estreito que o sistema lhes impõe.
    Essas opiniões de Pollock são certamente sedutoras; elas parecem, além disso, confirmadas ao longo de toda a sua obra. Pollock, com efeito, se esforçou em decompor o spinozismo em suas ideias constitutivas. Retomando essas ideias em sua origem, ele quis marcar mais a significação intrínseca do que o encadeamento; ele até negou que elas pudessem se fundir em uma unidade verdadeiramente interna. Porém, não parece que o spinozismo esteja por inteiro nessa coleção de ideias justapostas. A obra de organização na qual o spinozismo se produziu está bem longe de ser estranha à sua essência. Se ela foi simplesmente uma obra de arte sem interesse intelectual, teria Spinoza a concebido tão vigorosamente e a perseguido tão pacientemente? Ao contrário, mais do que qualquer outra doutrina, o spinozismo teve de procurar uma forma adequada: destinada, na intenção de seu autor, a mostrar a veleidade de tantas opiniões fictícias e de teorias verbais, ele teve de trabalhar para criar a sua linguagem. Como o Deus que ele coloca na origem, e sem dúvida pelas mesmas razões, ele necessariamente se revelou sem sair de si mesmo; sua palavra é ainda sua natureza, com certeza natureza perecível, natureza naturada, mas não exterior, nem ilusória, já que ela exprime, à sua maneira, a ideia eterna que a fundamenta. Além disso, consideramos que, segundo o pensamento de Spinoza, a unidade substancial das coisas e a unidade inteligível da doutrina devem coincidir exatamente, não deve nem ter vazios na obra do filósofo nem na obra de Deus, que a razão filosófica deve participar da virtude da ação divina, ou seja, excluir do ser aquilo que ela não compreende: diríamos ainda que a unidade sintética do spinozismo se adiciona ou se impõe de fora aos elementos que ela domina. (...)"

     

    O lançamento será dia 21/11/16, na Livraria FGV do Rio.

    O problema moral na filosofia de Spinoza e na história do spinozismo

  • Postado por editora em em 10/11/2016 - 11:00

    Reunindo ensaios de um grupo de curadores, professores e especialistas, o livro Arte e mercado no Brasil, organizado por Cesar Cunha Campos, diretor da FGV Projetos, lança olhares interdisciplinares sobre um aspecto pouco discutido da arte: sua relação com o mercado.

    Apesar da recente retração da economia brasileira, o mercado de arte mantém, há alguns anos, sua expansão, tanto no que se refere à produção, quanto ao volume de negócios, bem como pelo crescente interesse do grande público, como mostram os números recentes de visitações de exposições e museus. Artistas brasileiros ganham destaque no país e no exterior, as feiras de arte adquirem corpo e visibilidade, movimentando um volume consistente de recursos e impulsionando serviços direta e indiretamente ligados ao setor. Soma-se a isso, o processo de profissionalização, com a complexificação de papéis e o surgimento de diversos agentes e instituições. Colecionadores, galeristas, marchands e leiloeiros têm papel fundamental na constituição e na dinâmica deste mercado. “Minha motivação inicial para a organização deste livro foi compreender como se organiza este mercado, sobretudo do ponto de vista daquilo que o movimenta. A arte se realiza quando vai a público, o que não acontece sem a ação desses agentes” afirma Cesar Cunha Campos.

    O livro Arte e Mercado no Brasil, publicado pela Editora FGV em parceria com a FGV Projetos reúne textos de curadores e professores como Frederico Coelho, Ligia Canongia, Daniela Labra, Felipe Scovino e George Kornis, além de especialistas da FGV, oferecendo várias perspectivas de diferentes momentos da arte brasileira, em sua relação com a formação do mercado. Por vezes contraditórias, as visões que ele apresenta contribuem para a formação de um panorama que permite ao leitor refletir sobre as nuances e paradoxos deste tema, pouco explorado pelo mundo da arte. O prefácio fica por conta de Paulo Herkenhoff, também responsável pela direção de arte do livro.

     

    Arte e mercado no Brasil - Art and market in Brazil

  • Postado por editora em em 03/11/2016 - 11:46

    A última catástrofe, publicado inicialmente na França e lançado agora pela FGV Editora, apresenta um quadro geral dos debates sobre os desafios e especificidades da história do tempo presente.
    A história do tempo presente é uma história como as outras? Quais são os marcos cronológicos que a delimitam? Como a história do tempo presente pode lidar com as demandas memoriais e garantir seu compromisso com as regras do ofício do historiador? Qual sua relação
    com o regime de historicidade presentista? Por que a história dos períodos recentes que enfrentou tantas resistências vem conquistando uma grande visibilidade tanto na esfera universitária quanto no espaço público?
    Henry Rousso, um dos principais expoentes da historiografia francesa dedicados ao estudo da história do tempo presente, busca responder essas questões tomando as seguintes diretrizes: “a história já não se caracteriza por tradições a respeitar, por heranças a transmitir, por mortos a celebrar, mas antes, por problemas a ‘gerir’” mediante um constante trabalho de crítica.
    O autor chama atenção ainda para os desafios que se colocam a seus profissionais, ao mesmo tempo observadores, investigadores e atores de uma história que está sendo produzida.
    Como desdobramento dessa perspectiva, propõe uma reflexão sobre certa maneira de pensar a história do tempo presente que não é apenas acompanhar uma visão traumática do passado, mas ajudar a compreendê-la e estabelecer a distância necessária ante as imposições
    da memória. Outra contribuição relevante é tornar acessível não só para os estudiosos, mas também para o público em geral alguns princípios básicos que norteiam a prática dos historiadores, que não pode ser apenas a produção de uma seleção de fatos, já que a escrita da história é produto de um lugar social e de sua relação com um corpo social mais amplo, e deve estar condicionada por uma prática científica.
    Cabe ainda mencionar que a obra apresenta indicações para a compreensão dos princípios, desafios e debates que se colocam para o historiador e a função social da história, bem como acompanhar a bibliografia atualizada acerca das grandes questões historiográficas das últimas décadas.
     

    Confira a apresentação da edição brasileira da obra:

    "A tradução desta obra no Brasil, publicada originalmente na França em 2012, constitui para mim uma honra e uma felicidade. Com efeito, pude constatar muitas vezes, seja na ocasião de algumas estadas no Brasil, seja pelos intercâmbios regulares com colegas brasileiros, quão comum era o interesse pela prática da história do presente em nossos países. De ambos os lados, houve nesses 30 últimos anos um grande investimento intelectual na maneira de abordar uma história no processo de se fazer, nos papéis respectivos da história e da memória, na importância decisiva do testemunho, da história oral e dos arquivos orais. Ainda que os contextos políticos ou sociais sejam diferentes, sinto que há uma mesma sensibilidade no Brasil e na França (assim como na Europa de modo geral) no que diz respeito à maneira de tratar as sequelas dos períodos de guerra e de violência política que deixam rastros e cicatrizes duradouros.
    Esses acontecimentos, que marcaram a história do século XX e já a do nascente século XXI, modificaram profundamente o ofício do historiador, obrigando-o a se engajar de modo permanente no espaço público, sabendo ao mesmo tempo que sua missão, que consiste em explicar
    o mais amplamente possível a complexidade do passado, iria adensar sua prática, fazendo-o sair da torre de marfim da universidade para que adentrasse um pouco mais nos vivos combates do tempo presente, tanto o seu quanto o dos homens e das mulheres que ele estuda."

    Henry Rousso | Professor pesquisador no Instituto de História do Tempo Presente (Centro Nacional da Pesquisa Científica, Paris). Escreveu inúmeros trabalhos sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a história da memória dos traumatismos contemporâneos.

     

    A última catástrofe: a história, o presente, o contemporâneo

    Henry Rousso

  • Postado por editora em em 27/10/2016 - 08:37

    Às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas, todas as nações são espectadoras da disputa que elegerá o representante do país mais poderoso do mundo.

    Em meio a denúncias, escândalos e acusações de ambos os lados dos principais candidatos, o dia 8 de novembro, data das eleições, poderá ser decisivo para o futuro do mundo.

    Mas será que o candidato que receber a maioria absoluta dos votos populares será eleito?

    Nas eleições norte-americanas quem ganha torna-se presidente?

    A obra ‘A constituição norte-americana é democrática’, de Robert A. Dahl, que chega à sua segunda edição (além de ter seu eBook também lançado) através da parceria entre a FGV Direito Rio e a Editora FGV nos revela que não é bem assim.

    O livro nos apresenta todo o mecanismo desse sistema e aponta, entre várias circunstâncias, três aspectos antidemocráticos que permanecem como características intrínsecas ao sistema de colégio eleitoral adotado pelos Estados Unidos.

    Na disputa de votos populares versus votos colegiados, o candidato com maior número de votos populares — por maioria simples ou até por maioria absoluta — pode não receber a maioria dos votos dos elei­tores colegiados e, desse modo, não ser escolhido presidente. Quatro eleições presidenciais — inclusive a de 2000 — levaram exatamente a este desfecho.

    Na verdade, chegar à presidência com apenas uma minoria de votos populares tem sido uma ocorrência bastante comum. Num total de 18 eleições, os can­didatos chegaram à presidência sem conquistar a maioria dos votos populares e no cômputo geral, portanto, em uma de cada três eleições presidenciais, o cargo mais elevado da nação foi entregue a um candidato escolhido por uma minoria de eleitores. Numa eleição apertada em que candidatos de um terceiro partido obtenham alguns votos, como aconteceu na eleição de 2000, esse desfecho é sumamente provável.

    Em alguns casos em que nenhum candidato recebe a maioria dos votos populares, se a segun­da opção dos eleitores for levada em conta (como pode acontecer em alguns sistemas eleitorais), ou se houver um segundo turno en­tre os dois candidatos mais votados, O candidato pode perder tendo a preferência da maioria. Al Gore poderia teria obtido a presidência em 2000 caso os eleitores tivessem a oportunidade de expressar sua segunda opção naquela disputada eleição.

    Estes são apenas alguns pontos discutíveis sobre a democracia nas eleições norte-americanas contidos nesta instigante obra.

     

    A constituição norte-americana é democrática?

    Robert A. Dahl

    Impresso: R$34

    Ebook: R$24

  • Postado por editora em em 24/10/2016 - 07:58

    O resultado da primeira fase do 58º Prêmio Jabuti foi anunciado dia 21 de outubro e a obra O corpo da Nova República: funerais presidenciais, representação histórica e imaginário político, do professor Douglas Atilla Marcelino, é uma das dez finalistas na categoria Ciências Humanas.

    Confira a introcução da obra:

    "A “teologia política” (para retornar ao termo de Kantorowicz) do século XX ainda não foi escrita, embora tenham havido, aqui e ali, algumas tentativas nesta direção. No entanto, ela existe — ou, mais precisamente, existem várias formas dela — e enquanto não a compreendermos, pelo menos tão bem como compreendemos a dos Tudor, dos Majapahits ou dos Alawites, uma grande parte da vida pública de nosso tempo vai permanecer obscura. O extraordinário não deixou a política moderna, por mais que a banalidade nela tenha entrado; o poder ainda inebria, mas também ainda dignifica. [Geertz, 2009:214-215]"

    Se alguma certeza podemos ter sobre a experiência humana passada, é que ela deve ser considerada em sua própria historicidade. E, se tal aspecto pode parecer evidente num certo sentido, nem sempre ele parece ter sido considerado pelos historiadores. A maioria deles, entretanto, hoje compreende que a história não se reduz a modelos teóricos preconcebidos. A experiência humana é sempre mais complexa, dinâmica, multifacetada, tornando condição de possibilidade para a abordagem histórica conferir alguma fixidez a esse amontoado de relações móveis a que chamamos com alguma simplificação de sociedade ou de processo histórico. Certamente, isso pode ser feito de modo mais ou menos reducionista, embora essa última condição não possa ser completamente apagada. Assim, perceber as peculiaridades de determinados acontecimentos históricos pode parecer uma condição inexorável dentro dos cânones de uma disciplina cuja principal vocação talvez seja apontar a fragilidade de certos modelos e formalizações, sempre insuficientes quando confrontados com os vestígios da experiência passada.
    O estudo do passado recente remete a certos problemas não menos prementes aos historiadores. Algumas facilidades ocasionais podem obscurecer enormes dificuldades que, inclusive, não são menos consideráveis do que aquelas que acometem os estudos sobre períodos mais remotos da história humana. Estudar o passado recente demanda uma experiência interpretativa de natureza quase inversa àquilo que já foi identificado como fundamento do trabalho antropológico: ao esforço de transformar o exótico em familiar corresponde, por outro lado, a necessidade de não se aprisionar na comodidade do imediatismo ou da proximidade do objeto de estudo. Se não propriamente transformar o familiar em exótico, ao menos devemos procurar compreender o passado recente a partir dos horizontes de perspectivas e das possibilidades de escolhas significativos aos sujeitos históricos envolvidos nos acontecimentos estudados. Portanto, as exigências não são menores em relação aos estudos de outros períodos passados. Somente uma perspectiva simplista emprestaria maior facilidade à história recente, atitude pouco condizente com a percepção da complexidade dos condicionantes e das operações envolvidas na criação de um maior ou menor estranhamento em relação ao passado.

    É nessa perspectiva que este estudo analisa a conjuntura do adoecimento e da morte de Tancredo Neves, particularmente os grandiosos funerais que se seguiram ao seu falecimento, no dia 21 de abril de 1985. Aquele foi um momento em que os fundamentos simbólicos da comunidade política como construção imaginária foram colocados em questão de forma muito particular, configurando elementos que foram depois dramatizados nos funerais de Tancredo, sem dúvida o maior cortejo fúnebre da história do país até então. Um dos objetivos das páginas seguintes, nesse sentido, é produzir uma análise com forte preocupação etnográfica que, mesmo que incompleta por natureza, permita reconstituir historicamente aspectos mais profundos sobre as formas de ritualização do poder e as disputas pelo imaginário político na conjuntura da morte de Tancredo Neves. Cruzando o estudo de fenômenos conjunturais com outros de mais longa duração, a pesquisa aposta tanto naquilo que fornece uma singular potencialidade à abordagem histórica (a percepção da historicidade de certos eventos), quanto naquilo que permite torná-la algo mais do que uma despreocupada atenção à irredutível imprevisibilidade do passado (suas relações com elementos mais duradouros da história do país).

    Ao analisar os eventos políticos que marcaram os primeiros meses de 1985, é quase impossível não se impressionar com a sucessão de acontecimentos inesperados, com as coincidências aparentemente incompreensíveis, que pareciam predizer algo de imperioso aos contemporâneos. Depois de eleito presidente pelo Colégio Eleitoral, Tancredo foi internado na madrugada anterior à cerimônia de empossamento, quando ninguém, a não ser ele e parte de seu ciclo de familiares, imaginava que estivesse doente. Mais do que isso, sua posse não se restringiria à aparição solene de um político importante ou aos exageros de um evento meramente espetaculoso. E não somente pelo tom festivo ou porque estava sendo preparada com bastante antecedência, mas justamente por aquilo que explica ambos os aspectos: ela daria forma e expressividade ao sentimento de contentamento pelo suposto fim de um ciclo histórico, pelo surgimento de um “novo tempo” na história do país.

    Num momento extremamente frágil do ponto de vista político-institucional, em que ameaças de retorno à ditadura pareciam dar sinais constantemente, o adoecimento de Tancredo Neves podia parecer inacreditável. Afinal, com frequência, os principais meios de comunicação o
    representavam como o único responsável pela conciliação nacional, como o construtor de uma “nova era” (a Nova República), que em pouco tempo se iniciaria. Seguem-se ao acontecimento inesperado uma internação que se prolongou por quase 40 dias, marcada por sete cirurgias, reações imponderáveis do seu organismo em momentos simbólicos, como a Semana Santa, e comportamentos bastante surpreendentes (senão excepcionais) daqueles que o circundavam. Como desfecho de uma sucessão de eventos atípicos, sua morte se efetivaria no mesmo dia daquela que vitimou o principal herói da história nacional, o Tiradentes. Aspecto por si só surpreendente, ele torna-se realmente significativo pela indiscutível admiração e constante homenagem que Tancredo Neves prestava àquele que (além de tudo) foi seu conterrâneo. Desconsiderar esse acúmulo de eventos imprevisíveis, em boa parte não plenamente dependentes dos esforços dos sujeitos históricos envolvidos, seria pouco compreender dos acontecimentos daqueles meses de março e abril de 1985.

    Constituir o passado em história, entretanto, não é apenas perceber as peculiaridades de eventos inesperados, sua historicidade, aprisionando a análise nos condicionantes advindos de movimentações pouco controladas pelos sujeitos históricos. Essa é uma dimensão inexorável, impossível de ser desconsiderada. Mas reduzir a abordagem histórica a ela impediria qualquer esforço de explicação do passado. A condição do conhecimento histórico é apostar que nem tudo se reduz ao episódico e ao acaso, ainda que essa seja realmente uma aposta. Por outro lado, tais acontecimentos não podem ser desprendidos das interpretações que os contemporâneos davam a eles. Vários cientistas sociais têm ressaltado a indispensabilidade de considerar qualquer ação como simbólica ou, mesmo, que um acontecimento
    tem sua existência como um evento somente quando é mediado pela cultura. Como destacou Marshall Sahlins (2003b:144), “aquilo que é contingente só se torna plenamente histórico quando é significativo”. Portanto, superar a dicotomia entre comportamento e significado ou entre evento e estrutura pressupõe compreender a dialética entre essas duas dimensões, muitas vezes percebidas de modo simplificado como pares de opostos.

    Nesse sentido, uma pesquisa voltada para o período correspondente à morte de Tancredo Neves não poderia se reduzir à consideração dos elementos atípicos mencionados. Do mesmo modo, ela não deveria se resumir aos atos de consciência dos indivíduos mais próximos das constelações de poder. Aqui, novamente, o episódico tem que ser compreendido dentro de um plano mais geral que, por outro lado, não desconsidere algumas de suas implicações de natureza estrutural. E, de fato, muito já se discutiu sobre os motivos da morte do presidente, na maioria das vezes atribuída às ações indevidas deste ou daqueles agentes históricos.3 Logo depois do acontecimento, por exemplo, os mistérios da prática médica e os desacertos dos especialistas renderam páginas e mais páginas na imprensa e alhures, como se a responsabilização de determinados personagens permitisse compreender o fundamento do ocorrido. Se o paradoxo da disciplina histórica está na impossibilidade de desconsiderar determinadas ações e sua intencionalidade, elas não devem abarcar todo o conteúdo da análise, porquanto mais frutífero é o esforço de compreensão do modo como os significados a elas atribuídos permitem pensar formas específicas de expressão simbólica do lugar do poder como construção imaginária, redimensionando tais comportamentos dentro de um quadro mais complexo de mudanças históricas. Somente assim se pode compreender de forma menos simplificada por que certas discussões ou ações foram tão valorizadas e quais os sentidos que adquiriram num momento muito específico do ponto de vista histórico.

    O estudo da conjuntura que antecedeu à morte de Tancredo Neves visa apenas fornecer elementos à reflexão sobre as reelaborações por que passava sua memória e, assim, abrir caminho ao estudo do objeto principal desta pesquisa: seus funerais, que serão analisados dentro do amplo quadro das homenagens fúnebres prestadas aos presidentes brasileiros do pós-1930. Na verdade, funerais como os de Tancredo Neves são entendidos aqui como eventos que permitem refletir sobre mudanças mais profundas nas formas de ritualização e incorporação do poder que conferem sentido à comunidade política, inclusive no que diz respeito às alterações no significado simbólico da figura presidencial no pós-1930 da história brasileira, tendo em vista que a figura de Getúlio Vargas (não pelo personagem em si, mas por aquilo que ele passou a representar) pode ser tomada como indicativa do surgimento de novos modos de compreensão e representação do significado do chefe do Executivo.Tais transformações, em certa medida, podem ser interpretadas como redefinições sofridas pela cultura política republicana, desde que o conceito seja entendido numa perspectiva atenta às ações dos sujeitos históricos nas constantes disputas e reinvenções das tradições e símbolos que permitem dar significado às instituições e coletivos imaginários pelos quais se manifestam os fundamentos subjetivos da política.

    Uma preocupação igualmente relevante desta pesquisa se relaciona ao modo como os eventos e o tempo podem ser considerados objetos de experimentação da narrativa histórica. A experiência, o vivido, o acaso constituem elementos que, durante longo período, foram praticamente ignorados por um modelo de macro-história muito praticado no século XX. Além de tentar revalorizá-los, fundamentamos a parte central da pesquisa no estudo de eventos que duraram apenas três dias: as intensas homenagens que compuseram os funerais de Tancredo Neves, interpretados numa perspectiva que tentou se aproximar daquilo que Clifford Geertz chamou de “descrição densa” para caracterizar o trabalho antropológico. A ideia, nesse caso, foi pensar tais eventos, cada vez mais, dentro de uma temporalidade subjetiva, naquilo que o culto do corpo do presidente significou em termos de uma expectativa de refundação da República e de um novo sentido projetado para a história nacional.

    Um único acontecimento (a morte de Tancredo Neves), portanto, é compreendido aqui como elemento que articula todas as principais interrogações que atravessam a pesquisa. Resgatados daquilo que os condenava como objetos de uma história “historicizante”, os eventos têm sido revalorizados nos últimos anos, podendo ser pensados como elementos-chave à compreensão de fenômenos históricos que os ultrapassam, desde que abordados numa perspectiva diferenciada. Ou seja, mais do que os eventos em si, a análise recai sobre o modo como eles colocam em jogo elementos estruturais, sobre o significado histórico que adquirem quando apropriados por meio de sistemas culturais. Até porque, é bom destacar, a revalorização dos eventos como objeto de investigação está longe de permear os estudos de certos universos temáticos para os quais os historiadores têm se voltado com mais afinco recentemente.

    Um bom exemplo é o já vasto campo de análise sobre as reformulações por que passa a memória nacional: não parecem muitas as pesquisas centradas no modo como um determinado acontecimento da história recente (que não seja um evento comemorativo) pode estimular a retomada de mitos fundadores da nacionalidade ou a construção de diferentes versões sobre a história do país. Nesse plano, de modo geral, os historiadores têm se preocupado mais com a produção dos próprios historiadores, com a consolidação de determinadas explicações da trajetória nacional formuladas em obras já consagradas dentro do universo letrado, sobretudo do século XIX. Essas interrogações são fundamentais, mas podem ser também redirecionadas à reflexão sobre outros problemas conexos e menos estudados: como um evento da história recente pode estimular a retomada, ou mesmo a reformulação, dessas diferentes versões sobre a história do país? O que um evento como a morte de um presidente pode colocar em jogo em termos daquilo que já parece relativamente consolidado no imaginário sobre a nação? Essas interrogações são importantes, pois remetem ao problema sobejamente mais amplo das relações entre mitos e eventos, para o qual os historiadores talvez devessem se voltar de forma mais recorrente.

    De fato, é no plano das relações entre evento, tempo, memória e mito que esta pesquisa se articula. No que se refere ao acontecimento e seus significados, por outro lado, ela permitirá também colocar em questão as próprias formas da representação histórica, somando-se ao esforço de problematizar os procedimentos narrativos aqui utilizados na “descrição densa” dos funerais presidenciais. Isso porque, logo após a morte de Tancredo Neves, foi elaborada uma narrativa histórica sobre os eventos que, juntamente com outras formas de representação do passado recente, disputava a figuração do “povo brasileiro” como personagem central de uma história que foi imediatamente colocada em questão pelo trágico acontecimento político ocorrido. Trata-se de um momento em que as fronteiras entre o público e
    o privado pareciam mais do que nunca passíveis de reinvenções, tendo em vista que as disputas em torno do corpo presidencial simbolizavam a abertura de espaço para um imprevisível aparecimento da política como lugar de manifestação do dissenso, de modo semelhante ao que categorizaram alguns autores preocupados com as peculiaridades da época democrática (Lefort, 1991a). Tal como certas práticas culturais de ritualização do luto, aquela narrativa histórica parecia tentar amenizar a dor da perda por meio de uma encenação narrativa que, conferindo um lugar ao morto, conformava um sentido para a vida dos vivos, num momento em que a tragicidade dos acontecimentos experimentados tornava particularmente urgente a necessidade de assegurar o futuro das instituições republicanas.

    Nessa inesperada manifestação da política, por outro lado, o surgimento do novo e a imprevisibilidade do passado ganham espaço na própria narrativa aqui produzida, permitindo relativizar o estudo apenas das condições de possibilidade dos eventos em favor de um olhar atento tanto às incertezas daqueles que vivenciaram as experiências aqui reconstituídas quanto àquilo que, tomando o passado como lugar de manifestação da diferença, impede que a história se transforme numa contínua repetição do mesmo. Nessa perspectiva, a conjuntura da morte de Tancredo Neves não configurou apenas um momento propício à acentuação de uma tendência à privatização do poder que a ultrapassava, mas parece ter flexibilizado de forma radical e dramática o espaço de disputa pelas estruturas formais da política, manifestando, num curtíssimo espaço de tempo (da morte e dos funerais presidenciais), algo semelhante àquilo que autores célebres acabaram projetando para uma mais larga duração ao buscar pelas especificidades das democracias modernas.

    Nesse tipo de perspectiva, a análise dos funerais de Tancredo Neves remete não apenas para os discursos sobre a nacionalidade que fizeram parte daquele ritual, mas para as formas de representação do poder que, reconfigurando um imaginário político, se expressavam tanto nas disputas pelo corpo do presidente morto como símbolo do corpo político da nação quanto nos ingredientes narrativos que, funcionando igualmente como práticas de luto, permitiam a figuração poética do “povo brasileiro” em diferentes formas de representação do passado. Assim, a preocupação com a natureza simbólica do poder e suas fundamentações antropológicas, que se manifestavam no novo sentido conferido à figura presidencial, pode ser aproximada do que já foi chamado de uma poética do saber, já que os modos de
    incorporação do poder estão relacionados com formas específicas de subjetivação política, enraizando os próprios discursos que figuram ou colocam em questão entidades que conferem significado à vida coletiva.

    De modo geral, estão aqui delineadas as principais preocupações que atravessam esta pesquisa. Vale a pena, portanto, fazer uma breve apresentação do modo como o texto foi estruturado, dividindo-se em quatro partes. A primeira delas praticamente dá continuidade a esta introdução, sendo importante para uma compreensão mais profunda dos objetivos do trabalho, já que poderemos destacar os fundamentos que amparam o estudo dos funerais de Tancredo Neves e outros importantes personagens políticos. Seus capítulos permitirão historicizar a transformação de determinados tipos de cerimônias fúnebres em eventos de celebração nacional, focando desde aquilo que tornou possível sua ritualização numa “chave de leitura” historicista durante o século XIX até as mudanças que caracterizaram os funerais de certos presidentes brasileiros do século seguinte. Paralelamente, poder-se-á realizar uma análise da historiografia já produzida sobre os funerais de outros personagens do período republicano brasileiro, assim como determinados estudos antropológicos, situando esta
    pesquisa num quadro mais amplo de discussões.

    Na segunda parte, faremos um estudo das reconstruções da memória de Tancredo Neves no período que antecedeu aos seus funerais. Atravessada por uma preocupação de natureza fortemente etnográfica, seu objetivo é mapear um conjunto de ocorrências históricas que permitirão compreender os sentidos singulares que a morte do presidente podia assumir naquela conjuntura específica da história do país. Ela também se fundamenta, portanto, nas potencialidades que a noção de “descrição densa” pode apresentar para uma análise que se pretende fortemente histórica e antropológica.

    Na terceira parte, a mais importante, analisaremos os funerais de Tancredo Neves. Sua abordagem poderá se beneficiar dos capítulos anteriores, com vistas a fundamentar uma interpretação centrada naquilo que uma experiência ritual particular pode dramatizar de certos condicionantes históricos de maior e menor duração dentro da história brasileira. Antes disso, um primeiro capítulo abordará os funerais de presidentes brasileiros do pós-1930, permitindo compreender melhor as mudanças que atravessaram tais eventos-rituais após a morte de Getúlio Vargas e, assim, abrindo caminho ao estudo do caso de Tancredo Neves (que é de fato aquele no qual se poderá perceber as preocupações teóricas que permeiam a pesquisa).

    Já na quarta e última parte analisaremos três diferentes formas de narrativa que, ao tematizarem a morte de Tancredo Neves, conferiam um sentido determinado à história nacional, permitindo colocar em questão as próprias formas da representação histórica. No texto introdutório de cada uma das quatro partes do livro, por fim, o leitor poderá encontrar uma apresentação mais pormenorizada dos problemas ali enfrentados.

     

    O corpo da Nova República: funerais presidenciais, representação histórica e imaginário político

    Douglas Attlia Marcelino

    Impresso: R$55

    Ebook: R$39

  • Postado por editora em em 20/10/2016 - 08:46

    A pesquisa apresentada na obra de Igor Gastal Grill e Eliana Tavares dos Reis, Elites parlamentares e a dupla arte de representar, tem como problemática mais ampla a existência de intersecções entre diferentes lógicas e domínios do mundo social. Tais intersecções vêm sendo examinadas como resultantes e viabilizadoras dos potenciais de afirmação e de trânsito de vários segmentos de “elites”. Agentes, portadores de determinadas características sociais e empreendedores em certas atividades, inseridos em configurações históricas nas quais as fronteiras são fluidas e porosas, contam com condições propícias à ocupação de posições relativamente bem situadas e ao acúmulo de multinotabilidades. Os autores dão ênfase particularmente a intercruzamentos entre “política” e “cultura”, explorando distintos universos empíricos, períodos históricos e níveis de análises.

    Confira parte da introdução da obra:

    No Brasil, há muitas discussões sobre as interferências da “política” no trabalho intelectual que, não raro, são posicionamentos que ora as percebem pela falta (assumindo o caráter reivindicatório de uma “missão histórica”), ora pelo excesso (expressando o cunho denunciativo de um lamento cientificista). Porém, algumas pesquisas recentes têm privilegiado abordagens mais sócio-históricas para considerar os períodos de menor ou maior (in)distinção entre os domínios e registros políticos e culturais. A ênfase, nesse caso, geralmente recai, em um plano, sobre os processos históricos e os condicionantes sociais de maior ou menor diversificação e autonomização (sempre relativa) entre eles, e, em outro plano, sobre as lógicas de seleção e de hierarquização dos seus agentes.
    Esta última foi a trilha inicial seguida nas investigações que originaram os capítulos deste livro. No entanto, levando em conta que poucas são as pesquisas que têm aportado sobre a importância das inscrições culturais no trabalho político, invertemos o ponto de partida dominante. Isso se justifica pela constatação de que, não somente como estratégia de apropriação de produtos concebidos nos mundos culturais (literatura, ciência, filosofia, religião etc.), na luta pela conquista ou manutenção de posições relativamente bem alocadas no espaço público, a produção mesma de bens culturais e o reconhecimento como “intelectual” são dimensões significativas da própria atividade política e funcionam como trunfos de distinção contundentes.
    Há uma extensa bibliografia produzida por cientistas sociais brasileiros nas últimas décadas sobre carreiras e perfis de políticos. Grosso modo, a literatura — a despeito das divergências entre os autores que adotam perspectivas mais societais, organizacionais, de caráter mais objetivista ou perspectivista — lança luzes sobre os padrões de institucionalização das organizações políticas brasileiras, as clivagens partidárias e o recrutamento do pessoal político. Para o que está em pauta nos textos que compõem esta coletânea, desejamos esclarecer a primordialidade da noção de carreira política para abarcar os desdobramentos das apostas feitas por agentes desde suas entradas na política, nos termos apresentados por Michel Offerlé (1996). Ou seja, procurando apreender as modificações nos princípios de aferição de excelência humana e sua reconversão em critérios de hierarquização política e intelectual, bem como as gramáticas que fixam complementaridades entre os domínios políticos e culturais em diferentes conjunturas.
    Nesse caso, é importante realçar pelo menos quatro eixos analíticos, construídos ao longo das pesquisas realizadas, portanto, que estão na base das reflexões subsequentemente apresentadas. O primeiro se refere à verificação de um duplo e indissociável reconhecimento conquistado por agentes que se afirmam como porta-vozes de “causas” legítimas, contando com a notoriedade como “intelectual” e de estima por sua carreira política — sinalizando para as fronteiras fluidas, os princípios amalgamados, os perfis híbridos e os trânsitos possíveis de serem operados. O segundo diz respeito às modalidades de intersecção entre domínios políticos e domínios culturais orquestradas por agentes empenhados no trabalho de politização de bens culturais e de intelectualização das lógicas e práticas de intervenção política. O terceiro concerne mais diretamente às teorizações nativas acerca de regras, papéis e definições concorrentes nos jogos políticos e culturais, e que não raro deixam perceber a construção consagradora ou detratora de “etiquetas políticas”, de eventos e personagens, de códigos de conduta etc. E o último eixo trata do trabalho simbólico de autoapresentação e de administração de identidades estratégicas, levado a cabo por agentes com mandatos para gerir os bens políticos, com certificações para participar da disputa pela prescrição de princípios de visão e divisão do mundo social e dispostos a fabricar ou gerenciar imagens de si — conforme as posições ocupadas em determinados estágios das lutas políticas e culturais nas quais se encontram envolvidos.
    Tais aspectos convergem na percepção de que, no espaço social mais amplo, o acesso a determinados conhecimentos e ao trabalho de formulação intelectual (em oposição ao mundo prático, não reflexivo, pragmático, ordinário) legitima posições de poder, sedimentando reputações distintivas em e entre diversos segmentos de grupos dominantes (jurídicos, midiáticos, religiosos, universitários etc.). Particularmente no universo político, a capacidade de uso da “palavra” escrita e oral, certificada na mobilização de recursos multifacetados que sustentam a força ilocucionária dos discursos (Bourdieu, 1996a), deve ser investigada como condição e condicionante das entradas e como trunfo contundente para a construção de carreiras políticas reconhecidas como singulares.

    Elites parlamentares e a dupla arte de representar: Intersecções entre "política" e "cultura" no Brasil

    Igor Gastal Grill e Eliana tavares dos Reis

    R$35,00

  • Postado por editora em em 11/10/2016 - 10:28

    Como nasceu a indústria do vinho no Brasil? Quem são os personagens dessa história ainda pouco conhecida? O que levou descendentes de colonos e agricultores, tradicionais plantadores de uvas, a se transformarem em enólogos e empresários da indústria do vinho no Brasil?

    A obra ‘Vinhos do Brasil – do passado para o futuro’ pretende apresentar um panorama da indústria do vinho no Brasil e contar sua trajetória através de depoi­mentos de descendentes de imigrantes italianos que se estabeleceram na Serra Gaúcha no final do século XIX e se dedicaram à vitivinicultura.

    Os coordenadores da obra, Valdiney C. Ferreira e Marieta de Moraes Ferreira, recorreram à metodologia da história oral, com a realização prévia de uma pesquisa consistente sobre o tema, e entrevistas de cará­ter histórico e documental realizadas no último ano que permitiram construir um painel representativo deste percurso.

    Os depoimentos orais de mais de 30 descendentes desses imigrantes estão reunidos nesta obra, que permite a compreensão da trajetória dos 140 anos da nascente indústria brasileira do vinho, seu caminho de modernização e suas perspectivas para o futuro, despertando interesse em historiadores, empresários, gestores de negócios e amantes do vinho.

    A obra será lançada no Centro Cultural FGV, dia 18 de outubro, às 17h30, após a realização do Seminário Vinho & Mercado, que faz parte da programação do Rio Wine and Food Festival 2016.

     

    Em breve no site da Editora FGV. Aguarde!

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